segunda-feira, agosto 27, 2007

Soneto Amoroso

"Dar sempre chama, sem me desfazer:
após sempre chorar, não me acabar;
após tanto correr, não me cansar;
e após sempre viver, jamais morrer;
depois do mal jamais me arrepender;
de tanto engano, não me desenganar;
depois de tanta dor, não me alegrar;
nunca me rir, após tanto sofrer;
em tantos labirintos, não perder-me,
nem após tanto olvido, ter lembrado
- que fim alegre pode prometer-me?
Apenas morto estarei que escarmentado:
já não penso tratar de defender-me,
senão de ser deveras desgraçado."


Francisco de Quevedo (1580/1645)
"Antologia Poética" - tradução: José Bento

1 comentário:

JoaoDeAviz disse...

o amor e um dos poucos sentimentos, que num so momento, sabe a eternidade