sexta-feira, setembro 24, 2004

...Um Egoísmo Altruísta...

“Nem sempre é fácil...
Quase nunca é fácil uma qualquer espécie de libertação, de exorcismo de uma qualquer coisa... Raramente é inócua a ideia de não ter um preço, qualquer que seja o motivo do ritual de liberdade... Geralmente é inconsciente e inocente, sem deixar marcas!
Contigo voltou a ultrapassar tudo isso! Habituas-me a gostar de ser levada ao limite com o mesmo à-vontade com que me passeio à beira-mar numa tarde de Inverno. Sem destino e sem saber porque estou ali, mas certa que tenho de estar, desejando que não chova muito, mas que alguns pingos salpiquem a massa verde de água viva.
Uma passeata aparentemente inconsequente, mas que me dá animo e força de continuar a saber até onde a estrada vai.
Desta vez voltou a ser assim...
De novo um quarto de hotel. Novamente uma excitação com cheiro, no ar. Mais uma vez uma incerteza que coroava as causas... O desconhecido e o incerto – uma combinação explosiva.
E assim foi sendo, entre os meus gemidos e os teus sorrisos. Eu a ser manuseada, explorada, humilhada, torturada numa espiral de desejos e vontades de um Dom que quer sempre mais. Ele a dedicar-se a ser a borboleta da teoria do Caos, a mudar a minha vida, a dar-lhe o picante que quebra a rotina monótona dos dias insípidos... A tornar-me noutra pessoa!
Amarrou-me, falou-me ao ouvido a chamar-me puta e submissa, tocou-me onde lhe apeteceu, e sempre a fazer-me querer mais. Qualquer coisa muito perto de um milagre, num mundo de raciocínio, lógica e bom-senso...
Pôs-me uma canga às costas, amarrou-me os pulsos e o pescoço a ela, deitou-me de barriga para cima na cama e atou-me as pernas muito abertas aos pés da cama.
“Neste momento o teu corpo é meu!”
Uma verdade mais num momento de intensidade – uma inexpugnável realidade que me fez tremer por dentro, pertencer, ser a coisa dele....
Antes tinha-me castigado – não lhe pedi autorização para me vir, prisioneira de uma excitação providencial por ele provocada. Aplicou-me uma pena pesada – vinte e cinco xibatadas! Mas o pior foi mandar-me contá-las de viva voz, lentamente, em cadência.... Péssimo foi agradecê-las... Terrivel foi implorar a próxima e a outra e a outra, de pé, dobrada sobre mim, a oferecer-lhe o traseiro que ficava avermelhado de calor e de dôr. Prazenteiramente, sentia-lhe a satisfação em cada vergastada aplicada com zelo, com método, com vontade... É esse o momento da verdade – quando sentimos que damos
prazer a quem nos tenta dar prazer. Um egoísmo altruísta, se isso existe!
E as horas passaram sem se mostrarem, e os limites cediam a duas vontades expressas e tudo é normal porque há o acordo das partes e o objectivo de uma libertação anunciada.
Mas nem sempre é assim. Comigo nem sempre foi assim!
A entrega não é a da pele ou dos sentidos, a entrega é da vontade, em nome de uma verdade maior, mais vasta, mais enorme e gigantesca, uma onda. Depois o orgasmo vem de mansinho e coroa a realidade presencial, bate palmas ao prazer que sempre lá esteve mas não tinha condutas por onde se libertar!
No fim, o cansaço e o correr dos cortinados e o descobrir de outra realidade, mais contida, mais limitada, mais socialmente correcta. Ficaram os momentos, as horas, os olhos cheios de pasmo e o prazer tatuado em vergões. E o desejo de voltar a ser livre... Um palpitar de energia que se chama prazer!”

Uma submissa realizada