quarta-feira, março 30, 2005

...OÁSIS...

Ela de lado, ele de lado.
O outro sentado, a outra deitada.
Olhos e mãos e
mais mãos e mais olhos.
Irmãos.
sexo e tudo mais,
retalhado no suor,
no esgar,
nos palavrões,
nos sussurros e gemidos,
nos deleites combalidos!

Corpos.
Sonhos eróticos.
Magia, fantasia, volúpia...
Gente - decente, indecente, fremente.
Braços e pernas e línguas
arrastadas na torrente.
E querem mais
e dão mais
e deixam-se ir;
procuram novos mundos
vão-se deixando fugir!

Corpos e vidas e quereres.
Nós do lado de cá e eles ali,
na borda do prazer.
E o que era meu agora dou-te,
empresto a minha luxúria ao teu prazer...
No final somos só pessoas...
Dois homens a darem-se
a uma e a outra mulher!


ML

terça-feira, março 29, 2005

...Uma Ordem...

Receber uma ordem em BDSM!
Saber que contam connosco para obedecer e dar prazer a quem a ordena, cumprindo... Pessoalmente cumpro-a sempre, excepto se for de todo impossivel mas, se tal acontece, não me escondo em subterfúgios infantis. Assumo a falta e espero o castigo, se se justificar, claro... Sendo submissa espero que o Senhor seja humano, mas também que aplique a justiça com isenção; maturidade no BDSM não é inflingir castigos por uma submissa não ter cumprido uma ordem, mas sim julgar o motivo de não o ter feito. Independentemente disso, sujeito-me à sanção com respeito, porque me comprometi a fazê-lo, porque um Senhor que me tenha por submissa espera a minha anuência aos seus desejos e às suas sanções. É um jogo com regras e cumpro-as, sempre que humana e/ou logisticamente possivel... Ser submissa não anula a minha capacidade de distinguir o Bem do Mal, o correcto do errado ou a certeza de que em cada ordem ou capricho há uma contrapartida. Toda a corda tem dois lados! Nas cordas do BDSM, o cordame continua a ter dois lados, e parece-me sensato dizer ao senhor que não cumpri e porque razão não o fiz. Depois espero a compreensão possível e o outro lado da medalha...
Mas quando as ordens são viáveis, o prazer em cumprir é indiscritível por saber que o Senhor conta comigo e que o vou satisfazer ao realizar mais um desejo seu... Sendo esse o objectivo deste jogo de dar e receber, torno-me no momento mais capaz, mais realizada e mais submissa, e isso basta para me fazer crescer! Tornar-me um adulto no BDSM!

ML

domingo, março 20, 2005

Sob uma lua, escrava....

"Sou submissa e já fui escrava...
Uma vez, o meu então Dono resolveu convidar a mulher por detrás da escrava a jantar no restaurante... Perguntei-lhe como o deveria tratar. Na verdade, tinha sido sempre Senhor e depois Meu Dono... Respondeu-me um nome próprio, vendo-me embaraçada e corada, aliviando a minha dúvida. O jantar foi informal e decorreu em conformidade. Depois, como fosse ainda cedo, propôs levar-me à sua casa de campo. Era fim de Verão e estava uma noite surreal, banhada por uma lua de cenário cinematográfico; não havia vento e tudo parecia em paz, desde que o sol se deitou até à noite clara e tépida ter nascido. Eu sentia-me contente por o meu Dono ter saído das quatro paredes comigo. Tinha tomado um banho demorado, posto creme de leite e mel, acetinado a pele e a alma, respirado fundo, e depois vesti uma saia de seda até ao joelho, justa mas com uma racha atrás, e um casaco amarelo colado ao tronco, de minúsculos botões e manga curta; estava muito morena, e soltei o cabelo... Nos pés sandálias rasas da côr da saia, de um verde desmaiado. Sentia-me feliz e via o meu Dono feliz por eu fazer os homens olharem para nós à entrada e saída do restaurante. Já no carro, o meu Dono disse que iríamos à casa de campo dele, que não ficava longe, e por dentro fiquei mais feliz ainda - seria mais um privilégio, como me informou.
No meio da serra, após curvas e contracurvas, paramos finalmente junto de um muro alto rente à estrada, numa povoação desconhecida, deserta, entre árvores e arbustos. Ele abriu um portão de madeira e entramos numa alameda de gravilha. Entrei mulher e saí escrava!
Quando o meu Dono entrou em casa e acendeu as luzes, vi então um vasto espaço com duas casas, árvores de fruto e vinha, tudo bem tratado e com ar organizado. Sob o alpendre, nozes num cesto à entrada... o bucolismo rural a fazer bem aos olhos. Uma paz, um silêncio, uma quase paragem no tempo!
Lá dentro, o meu Dono mostrou-me a casa, bem adaptada ao conforto dos tempos modernos, e deixou para o fim a cave, a que chamou com um sorriso maroto "A masmorra"... Aproximando-se por detrás de mim, sussurrou-me "Quero que me sirvas!" e indicou-me que descesse a íngreme escada de madeira. Senti o coração acelerar e o sexo apertar-se num esgar de desejo... Lá em baixo, um sofá e dois cadeirões ao centro, e paredes de pedra com reentrâncias sugestivas, uma pesada salamandra e pouco mais. Durante algum tempo seguiu-se o ritual habitual ao servir o meu Dono, acabando por ficar nua à sua disposição. A novidade veio depois. De quatro, com a coleira e trela bem puxadas, fez-me sair pelas traseiras da cave, ao seu lado, até às traseiras da casa, que davam para um vinhedo. Aí, de pé, ficou a contemplar a noite enquanto eu, de quatro, devia manter o olhar baixo, sentindo no cimento o frio da madrugada no campo. Um arrepio na nuca fazia-me sentir viva, levantados todos os poucos pêlos dos braços, e o sexo molhado como orvalho; o meu Dono serviu-se da minha boca, recortado na luz da lua, com uma erecção digna de um Dono, e tudo em silêncio - como só na melancolia da aldeia é possível. Já no interior, o meu Dono satisfez-se nas minhas costas e nádegas, de chibata e chicote, deu-me um orgasmo vaginal e mandou-me vestir. Arrumou as suas coisas, mas deixou de fora um dildo de madeira, duro e possante, que me mandou levar para o carro, eu sem cuecas e de coleira e trela postas. Confesso que estava expectante, como se o que quer que fosse que me estava destinado fosse uma prenda maior! Calma mas ansiosa, continuei de olhos baixos e em silêncio. O carro arrancou, o meu Dono a retesar-me a trela sempre que entendia, e uns metros depois, numa recta deserta, no meio do nada, de madrugada, numa serra, o meu Dono a imobilizar o carro. Vem pelo meu lado e manda-me sair! Caminha comigo pela trela ao longo da estrada, com os farois apontados à minha figura, o carro a ficar para trás. Quando regressamos, encosta-me ao carro e enfia-me o dildo quase de uma só vez, a olhar-me nos olhos. Manda-me entrar e retesa-me de novo a coleira. E o silêncio a dar margem para tudo... E a estrada deserta a aproximar-se das vilas onde no sábado à noite, todos se encontram à porta do café. Gente e luz! O meu Dono manda-me descobrir os seios, e cumpro - fico com dois peitos com mamilos espetados à vista, a saia levantada, o dildo a querer sair a cada solavanco da estrada, e a minha mão direita a empurrá-lo, sob pena de castigo iminente - dentro do carro cheira a sexo e a inesperado! E a silêncio!
O meu Dono retesa-me a trela e chega-me a ele; conduzindo com uma mão, a outra explora-me o sexo e titila-me o clitoris inchado. De vez em quando aperta-me os mamilos e chama-me "sua cadela!", dá-me palmadas no interior das coxas, nas mamas, dá-me os dedos dele com o meu suco a chupar. Faço tudo sem um som... Agora, devagar, o carro desliza por povoações com luz, e a cada candeeiro vejo-me exibida à luz, receosa de ser vista pelos condutores dos carros em sentido oposto, de máximos ligados. "Volta-te de costas no assento!" - diz-me o meu Dono, tendo de repetir por eu não ter entendido à primeira, tal o espanto na ordem. Cumpro, gemendo por o dildo entrar mais ainda, numa gruta encharcada por humilhação e satisfação do meu Senhor. Sinto palmadas ritmadas a marcarem a cadência dos quilómetros feitos bem devagar. Sinto as nádegas tão quentes como o meu rosto, ruborizado pelo calor de Verão, pelo latejar do sexo e pela excitação de cumprir ordens do meu Dono. Parece-me interminável a quantidade de palmadas que levo, os sacões do dildo e o frémito de orgasmos adiados... mas sorrio sempre.
São quatro da manhã e a baía na praia tem um luar recortado que lembra o que imaginamos da Ilha do Tesouro... À porta de minha casa, o meu Dono manda-me tirar o dildo, e eu respiro fundo... Mantém em mim a trela e a coleira, baixa-me a saia e diz-me "Vamos!". Volto a ficar atónita, nova surpresa - mas obedeço sem hesitar. Há muitos carros no "beijódromo" improvisado... O meu Dono chega-me a ele com um sacão da trela, e descemos à praia e à areia. Aí, desabotoa-me o casaco, manda-me ajoelhar e possui-me a boca, chamando-me "sua cadela", "minha escrava" e "a minha puta!" - continuo em silêncio, contente por agradar ao meu Dono. De repente, atira-me para trás na areia, e marca a sua propriedade com o seu esperma, nas mamas e pescoço. Eu gemo e agradeço, espalho o semén no tronco, como sei que o meu Dono gosta... Ficamos ambos a sentir a brisa marinha uns instantes, e voltamos ao carro, ele meu Dono e eu sua escrava, pela trela, com a sua marca na minha pele, o coração aos saltos por o fazer feliz! No carro, componho-me o melhor possivel e despeço-me do meu Senhor "Obrigada por tudo, meu Dono!". Ele diz "Vai!" e eu subo no elevador do prédio, corada, suada e a cheirar a sexo, cúmplice do contentamento do meu Dono. Entro em casa e fumo um cigarro! Estou feliz!"


Sem comentários!
ML

sexta-feira, março 18, 2005

O Corpo

"Ali estava o seu corpo adormecido, aninhado no seu descanso, tão quieto, tão presente na luz amarelada, definindo-se pelo seu peso e por aquele estar quieto, todo tomado de luz, sem contorno que separasse corpo e luz, os músculos lisos debaixo da pele, tão escorridos na presença quieta, quase diluídos, ninho de seu próprio descanso, prolongando os lençóis desfeitos e suas curvas frouxas de fadiga, e a cova morna do colchão, e a luz quieta e densa como pele amarela sobre a outra, enchendo o quarto até ao tecto e às paredes, absorvendo em si, como corpos amáveis naquele sono, o candeeiro e a mesa baixa e os livros e as roupas, todo o quarto feito camadas sucessivas de luz e substância variada rodeando o centro, núcleo de respirar muito brando, e a tudo se propagando esse único e muito brando movimento, a pele doirada estendendo-se um pouco, no peito alto, de curva possante e com os seus mamilos quase rosados, e as costas movendo-se também com a mesma unida e certa ondulação da água mansa, as costas bem talhadas, estreitando-se do largo dos ombros até à anca com a rectidão da perna talhada, mas de braço a braço a curva bombeada, alta e suave, que a meio se cava bruscamente como o leito de um rio, e movendo-se ainda o osso da anca, delicado, anguloso, saliente agora de sua habitual discrição no corpo que repousa de lado e se debruça, leve, cavando um pouco a cintura, escondendo o ventre e a densa doçura dos pêlos mornos, e um pouco o sexo, alteando o redondo - no entanto, severo, cinzelado - das duas nádegas estreitas, aparecendo depois o sexo entre as duas pernas que se abrem, uma estendida sobre a cama e a outra levemente flectida, esvaindo-se a coxa da anca alteada até à cama, onde o joelho pousa, e aí segue a perna tão abandonada no lençol que quase o fere com o seu peso e, entre as coxas, renascendo da sombra do ventre escondido, e que se estende como savana cálida, que em si retém o amarelo da luz, na curva nascente das nádegas, nas coxas, nas pernas, entre as coxas o seu sexo, os dois pequenos pomos cuja firmeza se desenha na pele branda e a corola recolhida de seu pénis adormecido.
18/Maio/1971"

in "Novas Cartas Portuguesas"
Mª Isabel Barreno, Mª Teresa Horta e Mª Velho da Costa (1974)

quarta-feira, março 16, 2005

Uma ninfa, simplesmente...

"Compreendi que as pessoas têm necessidade de dar nome às coisas, de simplificá-las com palavras, pensando dessa forma, erradamente, poder compreendê-las. Eu, em compensação, comecei a comunicar cada vez menos com palavras e cada vez mais com o corpo.
Se quiserem dar-me um nome, dêem! Quero lá saber! Mas fiquem sabendo que o que sou na realidade é uma ninfa. Uma nereide, uma dríade. Uma ninfa, simplesmente."

in "Diário de Uma Ninfomaníaca"
Valérie Tasso (2004)