sexta-feira, dezembro 30, 2005

A alma cheia...

Foi uma orgia de Amigos.
Uma noite cheia de contentamentos!
Uma data a celebrar no fim do ano em que somei mais Amigos.
Uns eram já conhecidos e leêm-me as rugas das mãos, outros ainda me tacteiam os olhos à procura de algo, e os mais recentes que chegam como uma fornada de pão quente, cheirosos.
Todos importantes porque estiveram lá, a dar e a receber.
Uma mão cheia de Amigos pode salvar um ano de ausências e de falta de pão.
Uma noite cheia de gente unida por tudo e por nada é o que dá sentido à vida que ninguém sabe o que vai exigir no minuto seguinte...


Parei em vários semáforos!
Atrasei assim a marcha e quando lá cheguei já tinha acontecido.
Nunca saberei porque vim pelo caminho mais demorado, mas o facto é que vim...
Minutos antes e estaria no acidente: dois carros - um capotado e ainda intocado, à espera da ambulância; metros à frente uma carrinha com gente para o mercado, destroçada, a olhar o chão. Polícia, luzes e piscas e destinos que se alteram por minutos que se param em semáforos, inúteis e desnecessários. A vida! Ninguém decide nada, tudo está previsto na cabala maior do Universo onde nos sentamos todos os dias em conchas de âmbar.

Uma orgia de amigos e o regresso a casa... de alma cheia, com o contentamento a sustentar a leveza do ser, a tal, por vezes insustentável.



BOM ANO 2006 A TODOS PARA QUEM OS AMIGOS FAZEM A DIFERENÇA!!!!!!
Para um Amigo que precisa... Para todos que precisam!

"Quando eu estiver contigo no fim do dia poderás ver as minhas cicatrizes, e então saberás que eu me feri e também me curei."
Tagore

segunda-feira, dezembro 26, 2005

A propósito de Beleza...



WHERE THE WILD ROSES GROW

"They call me the Wild Rose
but my name was Elisa Day
Why they call me it I do not know
For my name was Elisa Day

From the first day I saw her I knew she was the one
As she stared in my eyes and smiled
For her lips were the colour of the roses
That grewn down the river, all bloody and wild

When he knocked on my door and entered the room
My trembling subsided in his sure embrace
He would by my first man, and with a careful hand
He wiped at the tears that ran down my face

On the second day I brought her a flower
She was more beautiful than any woman I´d seen
I said Do you know where the wild roses grow?
So sweet and scarlet and free?

On the second day he came with a single red rose
said: Will you give me your loss and your sorrow?
I nodded my head, as I lay on the bed
He said If I show you the roses will you follow?

On the third day he took me to the river
He showed me the roses and we kissed
And the last thing I heard was a muttered word
As he stood smiling above me with a rock in his fist

On the last day I took her where thw wild roses grow
And she lay on the bank, thw wind light as a thief
As I kissed her goodbye, I said All beauty must die
And lent down and planted a rose between her teeth"


Nick Cave - in Murder Ballads (1996)

domingo, dezembro 25, 2005

Uma reza!

Caiu o último floco de neve amarela.
Caiu a folha do calendário com ela...
O anjo vadio que se deitou com o sol, bateu a porta e atirou-se para a cama vazia.
As luzes piscam ainda, rendidas à sua inércia de condenadas... como uma gaguez para os olhos.
Cães enregelados saiem de debaixo dos carros.
Pessoas de gelo debaixo de cartões de caixas de compras levantam-se com os ossos a estalar e a alma morta...
O mar é o mesmo.
Dominador e belo e rude e mau e suave e feito das lágrimas do céu.
A água de que somos feitos, cheia de seiva azul às vezes verde...
Mar e uma sereia que se espraia nele, violada.

A areia, a submissa.
Sempre ali, sempre pronta, disponível, sem opção.
Batida pelo mar que não a quer mas nao a deixa ser de mais ninguem.
A água e os graos de areia quente, gelada, amiga, amada.
Os caes que passeiam na beira da praia, sem destino, que estao apenas e assim fazem o Mundo.
A gente de coração sem alma que apenas está e assim muda o Mundo.
Não há sol hoje aqui.
Uma certa nostalgia invade o ar numa Terra decrépita
povoada por gente que não é feliz.
Somos nós!
Gente que viaja mas nao chega, nao aporta em lugar algum, nao quer, nao pode, recusa...

O mar e a areia a chamarem-me.
Eu na minha varanda a ver o Mundo acordar.
Tenho fome.
Aqui está um silêncio de tumba e arrepio-me.
Não há sol e arrepio-me.
Estou descalça e arrepio-me.
Estou sozinha e arrepio-me.
A pele arrepia-se sozinha!
Tenho muita fome...
Tenho os olhos esfomeados, mas não há sol nem vida para lá deste meu mundo seguro.
Só os caes vagueiam...
e a minha alma de areia embalada pelo mar.
Molho os olhos no abismo da varanda, no limite.
Não estou triste nem contente e isso chateia-me deveras.
Continuo com fome.
Maos, corpo, alma e sol com fome.
A alma vagueia livre!

"Como não sei rezar, só queria mostrar o meu olhar!"

sexta-feira, dezembro 23, 2005

AGRADEÇO A TODOS QUANTOS ME DESEJARAM BOAS FESTAS E BOM ANO 2006, NÃO SÓ AQUI NO BLOG COMO POR E-MAIL, ETC..
NESTAS OCASIÕES É QUE SE VÊ QUE VALE A PENA TER AMIGOS - SEMPRE!
COM OU SEM BDSM, A COMUNICAÇÃO É QUE LIGA AS PESSOAS E QUALQUER MOTIVO É VÁLIDO PARA CONTINUAR A FAZÊ-LO!!!!!!!
COM AFINIDADE É AINDA MAIS PRAZENTEIRO, E NA PRÁTICA DA MESMA ENTÃO... UI UI!!!! LOL
LAMBUZEM-SE DE DOCES E DEÊM MUITAS PRENDAS, PORQUE...

"SE DEREM O QUE MAIS AMAM, RECEBÊ-LO-ÃO DE VOLTA"!!!

PS: Sejam felizes sff...

terça-feira, dezembro 20, 2005

Natal é a luz que brilha nos olhos da submissa!
Natal é a chibata nova na mão do Dono ou Dominador...
Natal é esperar ansioso que o dia da sessão chegue de novo!
Natal é sentir que se está em paz com o Mundo...
Em paz connosco, porque sabemos perdoar e não odiar!
Natal é a entrega que só uma criança faz, inocente.
Natal é ser grande por dentro e dar-se por fora.
Natal é a troca de poderes ainda que sem laço.
BDSM pode ser Natal todos os dias, desde que a estrela esteja no centro dos olhos!
Feliz Natal a todos e um Ano cheio de BDSM com Verdade.....

terça-feira, dezembro 13, 2005

"A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas
age como um deus doente, mas como um deus.
Porque embora afirme que que existe o que não existe,
sabe como é que as cousas existem, que é que existem,
sabe que existir existe e não se explica,
sabe que não há razão nenhuma para nada existir,
sabe que ser é estar em um ponto.
Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer."

Alberto Caeiro (Pessoa: 1888/1935)

Poesia

terça-feira, dezembro 06, 2005

Un je ne sais quoi...

O Dono tinha-a mandado entrar na jaula. Ela era pequena, mas a jaula também, quase quadrada... A submissa não hesitou. O Dono ajudou-a a entrar, fazendo-lhe um gesto carinhoso na cabeça. Em redor, curiosos e participantes olharam em silêncio ou a comentarem para o lado; à volta da jaula, o Dono e outro Dominador faziam canas deslizarem como dedos pelas barras de ferro que, entre os espaços, tocavam na submissa na jaula, completamente calma e em contemplação. A música continuava a chamar gente para dançar, e o Dono continuava ali, de pé, em redor da jaula, satisfeito e cheio de orgulho. O seu troféu, a sua dádiva de entrega, rendia-se em cada minuto ali passado, exposta e indefesa, mas segura...
De repente outro Dom decide ordenar à sua submissa que se junte a ela, depois de falar com o primeiro: a porta da jaula abre-se e outra mulher rendida às ordens junta-se à primeira. Acontece a catarse!
A segunda submissa envolve e primeira com os braços e alheiam-se de tudo em volta; estão sozinhas num mundo de silêncio e de ternura. Comovi-me!
Elas unem-se num abraço e em afagos de cumplicidade cadenciados; fazem-se festas nos braços e na cara, apertadas mas serenas. Sempre em silêncio... Duas mulheres expostas a um grupo de gente que partilha a mesma afinidade - duas almas que escolheram o seu caminho - duas servidões a que lhes basta saber que cumprem a sua escolha com honra e distinção. Momentos com um je ne sais quoi de erotismo encapotado, de felicidade e de entrega; momentos feitos de escolhas e de certezas; momentos cheios de momentos dentro dos momentos. Fiquei a olhar sem me mexer. Senti-me sozinha, mas sorri por as saber unidas, maiores e mais fortes, por as saber realizadas; fiquei a olhar também em silencio, certa de que aquele momento jamais morrerá. Para a escrava. Para a submissa. Para mim!