quinta-feira, fevereiro 22, 2007

A Árvore Que Tinha Frio...

by ML


Era uma vez uma árvore que tinha frio, ou era friorenta, ou não tinha calor...
Era grande e frondosa e demorou nove meses a crescer, primeiro ao abrigo de outras árvores maiores que ela, depois dando abrigo debaixo dos ramos a outras mais pequenas e frágeis.
Deixava pássaros fazerem lá poiso antes de migrarem para sul, mas era dos esquilos que sentia a falta.
Um dia chegou mesmo a dizer a um desses roedores simpáticos: "Podes fazer ninho em mim e até roer as tuas nozes no calor dos meus ramos!"
Mas quando a árvore que tinha frio perdeu ninhos que caíram do seu tronco que começava a encarquilhar com a chegada do Inverno, sentiu mais frio ainda, porque se sentia só! O frio na alma das árvores não acontece sempre, só é possível a árvores que sentem calor...
Nove meses para a árvore crescer e depois numa sacudidela de ramos para afastar o siroco, julgou-se forte para depois do Verão.
A árvore estava enganada e agora sentia frio, ou era friorenta.
O esquilo não a abandonou mas teve de dar lugar a novos esquilos que aí farão novos ninhos.
O esquilo é agora quem tem frio ou é friorento, seja Verão ou Inverno, faça vento de África ou não!


quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Perguntas e Considerandos...

"Toda relação BDSM tem um submisso e um Dominador."

Tem mesmo? O que é um submisso? O que é um dominador? A pessoa que se deixa amarrar por outra é submissa? O que ela fez para merecer usar o termo? E a pessoa que a amarra, é um dominador? O que ele fez para merecer usar o termo? Ou são ambos apenas bondagistas, onde nenhuma das partes comanda, ordena, humilha – apenas se dedicam ao jogo das cordas?Vá lá que, semanticamente, os termos se apliquem. Mas em termos de D/s, será que se aplicariam? Onde ficam as posturas de dominação e de submissão? Para onde vão o respeito, a entrega, o desejo de servir e o desejo de ser servido?Não, definitivamente não vejo nem submissão nem dominação aqui. Tampouco vejo "baunilhas apimentados". Vejo praticantes de uma das muitas vertentes do BDSM – o bondage – que optaram por viver apenas esta faceta, sem entrar no jogo de D/s. Serão eles por isso menos BDSMistas do que quem prefere qualquer outra opção do nosso universo? Pelo fato de praticarem um jogo que de fato é menos complexo (psicologicamente falando, porque dominar a arte do bondage não é exatamente uma tarefa simples, como deveriam se lembrar aqueles que tanto criticam essas pessoas) do que o que envolve dominação/submissão, será que merecem um tratamento "secundário"?E quem somos nós, vítimas de tanto preconceito, para sermos também nós preconceituosos com nossos iguais?

"Não tolero subs que dizem que querem isso e não querem aquilo. Isso tira o poder do top. Sub não pode ter vontade"

Que poder? Onde é que está escrito que um sub não tem direito a escolher aquilo que lhe dá prazer? Pois não é o BDSM um jogo entre duas pessoas que interagem em busca da satisfação sexual? Porque um sub não teria o direito de colocar aquilo que deseja, que lhe dá tesão? Onde está o crime nisso? Onde está o desrespeito? Afinal de contas, não estamos todos – tops, bottoms, sádicos, masoquistas, bondagistas – procurando a mesmíssima coisa? Não sonhamos todos em nos realizar sexualmente libertos das amarras das convenções? Não somos todos adultos e conscientes do que queremos? Um dominador pode exigir muitas coisas. Obediência. Fidelidade. Sacrifício. Pode torturar seu submisso, física e psicologicamente. Pode criar regras, pode priva-lo de muitas coisas e recompensa-lo com outras. Mas não pode, sob qualquer pretexto, tirar dele o direito de ter prazer, de sentir tesão, de se sentir sexualmente realizado. De outra forma, melhor faria o sub ficando no mundo baunilha de sempre, porque tanto lá quanto aqui, o resultado seria o mesmo: frustração. E ninguém está aqui atrás de frustração – pelo contrário, queremos, todos, satisfação – uma satisfação que não encontramos "lá fora". Um verdadeiro dominador sabe perfeitamente disso. E sabe trabalhar não apenas com seus próprios desejos, mas também com os desejos do submisso, de forma a que ambos estejam sempre satisfeitos. Se dominar fosse simplesmente dizer não, todas as relações D/s seriam um infalível sucesso. Mas não é; o processo é muito mais sutil, muito mais complexo do que isso. Compreender esse processo é o que torna um dominador, de fato, um dominador – e não meramente dar ordens nem fazer exigências nem negar o direito ao prazer ao sub.

"Switchers não sabem o que querem"

Ah não sabem? Pois como switcher, eu digo em uma palavra o que eu quero: tudo. Quero o melhor dos dois mundos – e pasmem de inveja, eu o tenho. Ainda que não seja adepto do D/s, mas apenas do SM, meu prazer é tão intenso quando assumo meu lado sádico quanto como quando assumo meu lado masoquista. Isso me torna – e aos switchers – um praticante "menor"? Ou, ao contrário, um praticante maior, porque vivencio os dois lados da cena, porque sei o que se passa em duas cabeças ao invés de uma, porque conheço tanto o doce toque do chicote sobre a minha pele quanto o doce toque do chicote sobre a pele alheia?Ou, simplesmente, somos nós, switchers, apenas uma outra vertente do BDSM, que como outras "minorias dentro de uma minoria" ainda enfrentam, aqui, agora, hoje, preconceito dos grandes e intocáveis senhores das verdades incontestáveis?Quem é que deu a alguém o direito de julgar quem quer que seja no nosso próprio meio? Será que não aprendemos, sofrendo a intolerância dos outros, a sermos nós mesmo menos intolerantes? Será que temos que criticar, menosprezar, ridicularizar quem é diferente de nós, sendo nós mesmos tão diferentes dos outros? Será que somos assim tão cegos, tão irredutíveis em nossas próprias convicções, que nos tornamos incapazes de reconhecer que há outros prazeres além dos nossos, prazeres tão válidos e tão intensos quanto os nossos? Será que somos cínicos a este ponto? Será?

"BDSM é coisa séria"

É mesmo. Pelo menos no que diz respeito ao SSC, é muito séria. Fora disso... Fora disso há quem valorize as liturgias. E há quem não dê a mínima para elas. E ambos estão certos, porque, como em tudo o mais, quem opta por uma ou outra coisa se sente bem com aquela escolha. Porque deveríamos todos respeitar as liturgias? Quem escolhe esse caminho tem certamente dezenas de motivos para faze-lo – assim como os têm aqueles que preferem deixar as convenções de lado e praticarem um BDSM menos "sério" – no sentido de serem mais liberais dentro da relação, com direito a conversas entre doms e subs sobre futilidades, troca de piadas, conversa jogada fora... E nenhuma dessas alternativas é menos válida. Nenhuma é melhor nem mais completa nem mais verdadeira do que outra. Elas são simplesmente diferentes – como são diferentes as pessoas que as praticam, e o tipo de relação que construíram para si. Querer julgar isso, querer condenar uma ou outra, é simplesmente uma atitude detestável, porque tenderia à homogenização forçada. O que, se não me falha a memória, define muito bem o papel de um certo alemão chamado Adolf. Exagero? Não sei – só sei que quando um grupo resolve assumir que a "sua" verdade é "a" verdade, o próximo passo, inevitavelmente, será tentar converter todos os outros grupos à sua própria visão de mundo – seja por meios pacíficos ou não. Particularmente, é um risco que prefiro não correr.

Texto de Hélio Paschoal - co-fundador e colaborador do site Desejo Secreto www.desejosecreto.com.br

sábado, fevereiro 03, 2007


"Inútil Paisagem"

Mas pra que
Pra que tanto céu
Pra que tanto mar,
Pra que
De que serve esta onda que quebra
E o vento da tarde
De que serve a tarde
Inútil paisagem
Pode ser
Que não venhas mais
Que não voltes nunca mais
De que servem as flores que nascem
Pelo caminho
Se o meu caminho
Sozinho é nada
É nada
É nada
Tom Jobim/Aloysio de Oliveira