Faz hoje seis meses que tive de abater a minha cadela. Que perdi alguem que me deu lições de vida todos os dias nos 12 anos que passou comigo. Era como minha filha, e só me dava um olhar de frente quando a chamava, enquanto abanava o rabo... Tinha olhos castanhos/mel e era preta. E é o mais parecido com um filho que voltarei a ter.
Sei que nem todos terão sensibilidade para entender esta minha analogia -que me perdoem!... Foi o único cão que tive na minha vida e que provavelmente vou ter, e senti a sua passagem por mim como um bebé que ajudei a crescer até ao dia em que morreu. No meu caso, tive de a matar, porque sofria! Faria de novo o mesmo. E sofreria de novo o mesmo.
Seis meses depois, faz-me falta como ninguem pode imaginar e a dor é maior e a saudade enorme. Quando eu estava feliz ela brincava comigo e fazia-me sentir realizada porque eu tinha-a feito um cão feliz...
Quando eu quase desisti, em tempos, ela não deixou: se eu nao comia ela nao comia, se eu estava triste ela nao brincava, se eu chorava ela gania comigo, a dar-me cabeçadas nas pernas, se me isolava nao se calava a ladrar até eu a levar à rua, e por aí fora!!!! Um verdadeiro amigo, que não adormece quando ficamos triste, antes nos mantém acordados com ele.
Tenho tido um ano de perdas graves.
Tenho tido meses de angústia profunda a tentar entender a maldade do Homem, a indiferença com que anda no Mundo, a tentar arranjar sentido na minha cabeça e coração sobre coisas que me ultrapassam.
Trouxeram-me de Londres algo k diz: "Família são os amigos que escolhemos para nós próprios!" - concordo.
A minha cadela escolheu-me como família, nunca fugiu de mim... e senti a morte dela como de família! Sinto todos os dias... Como dos amigos que perco, A, B, C, que me têm dado provas que para amigo lhes serve qualquer um.
Talvez seja um facto k não sei gerir a Amizade, porque como dou tudo, quero tudo também. Mas não engano ninguém; pelo contrário, acusam-me de falar demais e confiar demais sempre... É um facto e não vou mudar! Vou morrer assim, como outros morrem a ser desconfiados a vida toda. Gosto de pensar que fiz escolhas certa na Amizade ao longo da vida. Mas ultimamente não sobra nada para eu avaliar - tornei-me mais céptica e a Amizade já não é o que era. Ressalva feita aos amigos k mantenho à vinte anos e já me salvaram muitas vezes, o paralelo que me permite avaliar... comparar!
A minha vida tem estado embrulhada e já carpi aqui muitas vezes no ultimo ano; nao tenho vinte anos e cada vez custa mais a recomeçar. Palhaços esquecem-se depressa, mas gente a quem demos algo que nos era dificil dar ou inpensável entregar, não é assim tão fácil.
Nao me armo em coitadinha porque nunca fui. Se alguém precisar de força, eu nao falho e viro o mundo do avesso... Mas as vezes tenho pena de que se desperdice a vida com tanta ninharia, e nao se acalentem os Amigos devidamente. Claro k já falhei muitas vezes e paguei o preço. Claro k não sou a melhor do bairro, mas sei k nao é porque nao tente estar a altura.
Não sou orgulhosa e se me dispo aqui, por ex., é porque nao tenho medo da pena; se conseguir que alguem fique solidário com a minha tristeza, que a entenda ou a tente sofrer comigo, para mim isso não é pena. É apenas uma alma grande, receptiva, gente com capacidade para dar...
Julgo que um amigo é isso! Alguém que tem para dar.
Passei metade da minha vida a dar mais do que recebi. De tanto me chamarem a atenção para mudar o meu rumo, acabei por conseguir obrigar-me a pensar em mim. E quando o faço, sou acusada de egocentrismo. Ain´t life funny?
A verdade é que não sei mais como agir no Mundo.
"Que se abra uma fenda no rochedo do Mundo para eu me esconder!"
Já me tentei esconder numa fenda várias vezes, como todos aqui, nem duvido; mas quando o primeiro injustiçado se levanta, levanto-me com ele. Foi sempre assim!
Ultimamente não consigo acreditar.
Todos os dias me fazem uma sangria no crer!
Todos os dias.
Não sei bem porque, nem para que... Mas que ao menos alguém saia bem da chacina k fazem a quem não quer mais do que acreditar em alguém... Que quem passa por cima dos sentimentos e da vontade de acreditar dos outros, saiba que se torna mais pequeno por isso.
Uma vez apenas!
Incondicionalmente...
Alguém que não queira nada de ninguém, só a paz no acreditar; dormir descansado pork sabe que alguem o tirará do hospicio. Porque conhece por dentro alguem, e isso deve ser cuidado como uma honra!
Uma vez... apenas!
Incondicionalmente!
"TODOS SÃO CAPAZES DE DOMINAR UMA DÔR, EXCEPTO QUEM A SENTE!" William Shakespeare
domingo, outubro 30, 2005
quinta-feira, outubro 27, 2005
VALSINHA
"Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a para rodar
Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado, cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
E aí dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade enfim se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos
Como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz"
Chico Buarque/Vinicius de Moraes
"Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a para rodar
Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado, cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
E aí dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade enfim se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos
Como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz"
Chico Buarque/Vinicius de Moraes
O MEU PRIMEIRO DONO...
No início deste mês fez um ano que eu aceitei a coleira do meu primeiro Dono.
Estava activa no BDSM há pouco tempo, aqui pelo IRC, ele destacou-se pelo bom-senso na abordagem e pela excitação que me provocava nas nossas conversas, e daí a darmos um passo mais largo, não demorou muito. Conhecemo-nos em sessão, mas só na terceira vez ele me tirou a venda e o conheci realmente, e só aumentou o meu prazer em estar com ele... Por uma sucessão de factos, e porque felizmente as pessoas não são todas iguais, acabámos por nos separar, mas continuamos amigos até hoje, em maior ou menor entrega de Amizade, mas amigos sim.Quando nos separámos, disse-lhe que iria ser sempre o meu Dono, porque há coleiras k se colam na alma - e mantenho o k disse!
Tive outro Dono depois dele e igualmente importante, mas de forma diferente, noutro estádio da minha evolução neste universo. Também a relação acabou e também continuamos amigos. Muita gente não entende como se pode achar tanta gente importante ao mesmo tempo... Eu consigo!Ninguém sente o mesmo por pessoas diferentes, ainda que aparentemente a situação seja idêntica ou igual; o sentir nunca é igual apenas porque a causa/efeito do sentir se manifesta do mesmo modo! Posso amar dez pessoas na minha vida - aparentemente é tudo Amor, mas a verdade é que dentro de cada rótulo, há amores diferentes. Se por um lado os rótulos são necessários, dizem, por outro só complicam tudo!
Tudo isto para dizer k a primeira vez em que se experimenta determinado sentimento é a mais marcante, quer se queira ou não...No dia em que o meu primeiro Dono me pôs a coleira, em minha casa, esperei que ele chegasse a casa dele para entramos juntos no canal de IRC onde nos conhecemos...Tinha o coração aos saltos, estava corada como uma virgem, e os parabéns que recebi fizeram-me explodir de contentamento; um pouco envergonhada também, porque de certo modo me sentia uma "coisa", e nunca na minha vida me imaginei com coleira e trela antes do BDSM...
Cem coleiras que aceite, o sentimento nunca vai ser igual.
Cem Donos que tenha, nenhum é igual a outro.
Fez um ano este mês, dia 12 se não me engano, mas, por razões paralelas e tão próprias da raça humana, estávamos afastados...
Tive pena que assim fosse, tinha imaginado celebrar a data com ele, sem alarde... Apesar de eu não ser uma sub fácil, nem uma pessoa de carácter submisso, nunca tive problemas em dizer de quem gosto ou porque gosto, quando o sei. Conjuguei sempre o verbo Amar sem obstáculos - disse muitas vezes ao meu Dono k o amava! Nem sempre o demonstrei, talvez, porque nem sempre é facil, ou o outro não consegue aceitar!
Várias vezes acabámos a nossa relação e várias vezes nos reaproximámos. Várias vezes fomos muito felizes e várias vezes muito tristes.
Houve responsabilidades, mas não culpas.
E o que aqui queria dizer é que não me esqueci, um ano depois.
E deixar a minha homenagem ao meu primeiro Dono, dizendo que nunca me arrependi!
Um ano depois, um olhar de cabeça levantada e olhos baixos para o que passou...
Estava activa no BDSM há pouco tempo, aqui pelo IRC, ele destacou-se pelo bom-senso na abordagem e pela excitação que me provocava nas nossas conversas, e daí a darmos um passo mais largo, não demorou muito. Conhecemo-nos em sessão, mas só na terceira vez ele me tirou a venda e o conheci realmente, e só aumentou o meu prazer em estar com ele... Por uma sucessão de factos, e porque felizmente as pessoas não são todas iguais, acabámos por nos separar, mas continuamos amigos até hoje, em maior ou menor entrega de Amizade, mas amigos sim.Quando nos separámos, disse-lhe que iria ser sempre o meu Dono, porque há coleiras k se colam na alma - e mantenho o k disse!
Tive outro Dono depois dele e igualmente importante, mas de forma diferente, noutro estádio da minha evolução neste universo. Também a relação acabou e também continuamos amigos. Muita gente não entende como se pode achar tanta gente importante ao mesmo tempo... Eu consigo!Ninguém sente o mesmo por pessoas diferentes, ainda que aparentemente a situação seja idêntica ou igual; o sentir nunca é igual apenas porque a causa/efeito do sentir se manifesta do mesmo modo! Posso amar dez pessoas na minha vida - aparentemente é tudo Amor, mas a verdade é que dentro de cada rótulo, há amores diferentes. Se por um lado os rótulos são necessários, dizem, por outro só complicam tudo!
Tudo isto para dizer k a primeira vez em que se experimenta determinado sentimento é a mais marcante, quer se queira ou não...No dia em que o meu primeiro Dono me pôs a coleira, em minha casa, esperei que ele chegasse a casa dele para entramos juntos no canal de IRC onde nos conhecemos...Tinha o coração aos saltos, estava corada como uma virgem, e os parabéns que recebi fizeram-me explodir de contentamento; um pouco envergonhada também, porque de certo modo me sentia uma "coisa", e nunca na minha vida me imaginei com coleira e trela antes do BDSM...
Cem coleiras que aceite, o sentimento nunca vai ser igual.
Cem Donos que tenha, nenhum é igual a outro.
Fez um ano este mês, dia 12 se não me engano, mas, por razões paralelas e tão próprias da raça humana, estávamos afastados...
Tive pena que assim fosse, tinha imaginado celebrar a data com ele, sem alarde... Apesar de eu não ser uma sub fácil, nem uma pessoa de carácter submisso, nunca tive problemas em dizer de quem gosto ou porque gosto, quando o sei. Conjuguei sempre o verbo Amar sem obstáculos - disse muitas vezes ao meu Dono k o amava! Nem sempre o demonstrei, talvez, porque nem sempre é facil, ou o outro não consegue aceitar!
Várias vezes acabámos a nossa relação e várias vezes nos reaproximámos. Várias vezes fomos muito felizes e várias vezes muito tristes.
Houve responsabilidades, mas não culpas.
E o que aqui queria dizer é que não me esqueci, um ano depois.
E deixar a minha homenagem ao meu primeiro Dono, dizendo que nunca me arrependi!
Um ano depois, um olhar de cabeça levantada e olhos baixos para o que passou...
terça-feira, outubro 25, 2005
O que é BDSM?
"Em tempos, tudo era chamado de Sado-Masoquismo (SM, S/M ou S&M) e todos nós éramos rotulados de pessoas muito más, doentes e pervertidas. No entanto, éramos apenas pessoas com tanto tesão como as outras, mas com uma pequena tara para nos tornar especiais. Mas alguns de nós não quiseram ser rotulados de "doentes", maus, pervertidos, e então esses inventaram nomes como Dominação e Submissão (D&S, DS ou D/s), Love Bondage e Bondage e Disciplina (B&D), para se convencerem a si próprios e à Polícia do Prazer que o que faziam era diferente do que experimentavam aqueles tristes, retorcidos, desagradáveis e ultrapassados masoquistas; nem pensar...!
Então ficamos todos online com os nossos PCs (bem, nem todos) e começámos a fazer o que as pessoas fazem melhor quando não fazem sexo: discutir! Durante meses, discussões sobre os nomes a dar às nossas taras entupiram as redes informáticas.
Finalmente nasceu o termo BDSM.
O que fez muita gente com taras feliz, já que o termo incluía BD (Bondage e Disciplina), DS (Dominação e Submissão) e SM (Sado-Masoquismo). Então dissemos ao grupo do Love Bondage que os amávamos muito... Para o provar, atámo-los em grupo e despejámo-los num armazém abandonado em Los Angeles, onde os mantivemos em círculo a trauatear as músicas de Barry Manilow por detrás das gags. E as discussões acabaram? Nem pensar!
No entanto, alguns de nós descobrimos outras coisas sobre que discutir, no intervalo entre encontros sexuais..."
"Screw the Roses, Send Me the Thorns-The Romance and Sexual Sorcery of Sadomasochism"
Philip Miller, Molly Devon (1995)
Então ficamos todos online com os nossos PCs (bem, nem todos) e começámos a fazer o que as pessoas fazem melhor quando não fazem sexo: discutir! Durante meses, discussões sobre os nomes a dar às nossas taras entupiram as redes informáticas.
Finalmente nasceu o termo BDSM.
O que fez muita gente com taras feliz, já que o termo incluía BD (Bondage e Disciplina), DS (Dominação e Submissão) e SM (Sado-Masoquismo). Então dissemos ao grupo do Love Bondage que os amávamos muito... Para o provar, atámo-los em grupo e despejámo-los num armazém abandonado em Los Angeles, onde os mantivemos em círculo a trauatear as músicas de Barry Manilow por detrás das gags. E as discussões acabaram? Nem pensar!
No entanto, alguns de nós descobrimos outras coisas sobre que discutir, no intervalo entre encontros sexuais..."
"Screw the Roses, Send Me the Thorns-The Romance and Sexual Sorcery of Sadomasochism"
Philip Miller, Molly Devon (1995)
quinta-feira, outubro 20, 2005
RASGANÇO
Ela a dizer não,
com o silêncio a pingar dos olhos
e as pérolas a dançar no pescoço...
Ela a dizer não,
a pedir perdão
a sentir a humilhação
com o rosto baixo, rente ao chão.
Ela a dizer não,
a rasgar-se toda por dentro
atada, dominada, sufocada
e não, não, não!
A mulher, a puta, a cadela,
a fêmea que não se quer dar
e não pode fugir, só rastejar...
A dizer "não" se perdeu...
na confissão se encontrou.
Tocada tremeu, impávida chorou,
silenciosamente morta no que confiança foi
e agora é só temor,
do que foi total entrega,
em nome de um tal Amor!
ML
Porto, 11/04/2005
com o silêncio a pingar dos olhos
e as pérolas a dançar no pescoço...
Ela a dizer não,
a pedir perdão
a sentir a humilhação
com o rosto baixo, rente ao chão.
Ela a dizer não,
a rasgar-se toda por dentro
atada, dominada, sufocada
e não, não, não!
A mulher, a puta, a cadela,
a fêmea que não se quer dar
e não pode fugir, só rastejar...
A dizer "não" se perdeu...
na confissão se encontrou.
Tocada tremeu, impávida chorou,
silenciosamente morta no que confiança foi
e agora é só temor,
do que foi total entrega,
em nome de um tal Amor!
ML
Porto, 11/04/2005
ESTILOS DE VIDA ALTERNATIVOS
"Ter uma sexualidade que difere da "normal" pode tornar necessário, ou desejável, um estilo de vida alternativo. Uma orientação sexual menos comum do que a normal pode estigmatizar o indivíduo, levando a pessoa a procurar uma subcultura mais receptiva, por ex. homossexualidade e a formação da comunidade gay."
"Screw The Roses, Send Me The Thorns - The Romance and Sexual Sorcery of Sadomasochism"
Philip Miller & Molly Devon (1995)
"Screw The Roses, Send Me The Thorns - The Romance and Sexual Sorcery of Sadomasochism"
Philip Miller & Molly Devon (1995)
terça-feira, outubro 18, 2005
INCÊNDIO
"Se conseguires entrar em casa e
alguém estiver em fogo na tua cama
e a sombra de uma cidade surgir na cera do soalho
e do tecto cair uma chuva brilhante
contínua e miudinha - não te assustes.
São os teus antepassados que por um momento
se levantaram da inércia dos séculos
e vêm visitar-te.
Diz-lhes k vives junto ao mar onde
zarpam navios carregados com medos
do fim do mundo - diz-lhes k se consumiu
a morada de uma vida inteira e pede-lhes
para murmurarem uma última canção para os olhos
e adormece sem lágrimas - com eles no chão.
AL Berto - "O Medo"
(1948-1997)
alguém estiver em fogo na tua cama
e a sombra de uma cidade surgir na cera do soalho
e do tecto cair uma chuva brilhante
contínua e miudinha - não te assustes.
São os teus antepassados que por um momento
se levantaram da inércia dos séculos
e vêm visitar-te.
Diz-lhes k vives junto ao mar onde
zarpam navios carregados com medos
do fim do mundo - diz-lhes k se consumiu
a morada de uma vida inteira e pede-lhes
para murmurarem uma última canção para os olhos
e adormece sem lágrimas - com eles no chão.
AL Berto - "O Medo"
(1948-1997)
sexta-feira, outubro 14, 2005
Nuvens e contrastes!
Perguntou-me se eu gostaria de chorar numa sessão...
Hesitei e disse que não!
Antes, como me tivesse tirado fotos em sessões anteriores, questionou-me se tinha ou não gostado de me ver nas imagens, nos momentos no Tempo, encarcerados por uma simples máquina fotográfica...
Confessei que demorara muito a decidir se as quereria ver ou não, receosa de a terrível verdade me saltar aos olhos como um morcego na noite, implacável, a colar-se na retina! Para sempre...
Porque durante um encontro entre um Dominador e uma submissa, o Tempo é adiado, a realidade transfigura-se, e o que é, deixa de ser... E a verdade é que na primeira vez que me vi imortalizada nas provas desses encontros senti-me nua, assustou-me ver olhos cerrados e mamilos tumefactos, boca torcida, nádegas marcadas a vergasta, e mãos crispadas.
Ninguém, nunca, vai saber como uma entrega em BDSM se faz, excepto quem se dá ao prazer da dor; quem se deixa ir na correnteza do sentir.
E a cara... o rosto que deixou de ser o meu em esgares de uma dor anunciada e nunca adiada! É o semblante que me apavora - como uma revelação jamais esperada, trazendo à superfície o quê? O melhor da alma, ou o pior dos sentidos?
Tudo é demais numa sessão, tudo é exagerado, é puxado, é levado aos limites... é passado dum lado para o outro da barreira do correcto; Bem e Mal fundem-se, o Mundo faz o pino, tudo muda de lugar...
Triste é sair do casulo das quatro paredes cúmplices para uma existência sem nada de novo, sem contrastes, sem nuvens, com tudo no sítio, a pedir por favor um dia atrás do outro. Patético é subir o colarinho para esconder as marcas. Fantástico é saber que depois de entrar no carro e acelerar vinte minutos para longe do ninho das sensações, o Dominador vai dizer: "Conta-me tudo!"
Porque já ficou para trás, já fechamos a porta do quarto e já entregamos a chave, deixando rugas nos lençóis, mas trazendo as marcas no corpo, na alma. O Dominador cansado de aplicar a sua justiça, satisfeito de ser Senhor no seu mundo privado. A submissa a latejar por dentro e por fora, olhos brilhantes, feliz por fazer parte do mundo do seu Mestre, de quem a orienta para novos prazeres inqualificados, incomensuráveis, inominados... numa corrida contra conformismos e rótulos!
Acaba por ser uma metáfora de vida, resumida a umas horas num quarto de dormir - o Bem e o Mal, numa luta corpo a corpo, em que nunca se sabe se vale a pena, até ao momento de ir embora... Difícil é quando se abandona o local mas se permanece de quatro, nua, aos pés da cama. Fascinante é nunca se chegar a saber quem ganha a luta - se o Bem se o Mal. Mas a consciência de que as marcas nunca sairão da pele do sentir, essa realidade sem fundo, como um poço, não tem nome...
Agora que o Tempo passou e a chave foi entregue de vez, posso adiantar que não valeu a pena!
Nem sempre as entregas são reais de ambos os lados.
Nem sempre a Verdade origina eco.
Este texto foi escrito em Dezembro de 2004.
ML
Hesitei e disse que não!
Antes, como me tivesse tirado fotos em sessões anteriores, questionou-me se tinha ou não gostado de me ver nas imagens, nos momentos no Tempo, encarcerados por uma simples máquina fotográfica...
Confessei que demorara muito a decidir se as quereria ver ou não, receosa de a terrível verdade me saltar aos olhos como um morcego na noite, implacável, a colar-se na retina! Para sempre...
Porque durante um encontro entre um Dominador e uma submissa, o Tempo é adiado, a realidade transfigura-se, e o que é, deixa de ser... E a verdade é que na primeira vez que me vi imortalizada nas provas desses encontros senti-me nua, assustou-me ver olhos cerrados e mamilos tumefactos, boca torcida, nádegas marcadas a vergasta, e mãos crispadas.
Ninguém, nunca, vai saber como uma entrega em BDSM se faz, excepto quem se dá ao prazer da dor; quem se deixa ir na correnteza do sentir.
E a cara... o rosto que deixou de ser o meu em esgares de uma dor anunciada e nunca adiada! É o semblante que me apavora - como uma revelação jamais esperada, trazendo à superfície o quê? O melhor da alma, ou o pior dos sentidos?
Tudo é demais numa sessão, tudo é exagerado, é puxado, é levado aos limites... é passado dum lado para o outro da barreira do correcto; Bem e Mal fundem-se, o Mundo faz o pino, tudo muda de lugar...
Triste é sair do casulo das quatro paredes cúmplices para uma existência sem nada de novo, sem contrastes, sem nuvens, com tudo no sítio, a pedir por favor um dia atrás do outro. Patético é subir o colarinho para esconder as marcas. Fantástico é saber que depois de entrar no carro e acelerar vinte minutos para longe do ninho das sensações, o Dominador vai dizer: "Conta-me tudo!"
Porque já ficou para trás, já fechamos a porta do quarto e já entregamos a chave, deixando rugas nos lençóis, mas trazendo as marcas no corpo, na alma. O Dominador cansado de aplicar a sua justiça, satisfeito de ser Senhor no seu mundo privado. A submissa a latejar por dentro e por fora, olhos brilhantes, feliz por fazer parte do mundo do seu Mestre, de quem a orienta para novos prazeres inqualificados, incomensuráveis, inominados... numa corrida contra conformismos e rótulos!
Acaba por ser uma metáfora de vida, resumida a umas horas num quarto de dormir - o Bem e o Mal, numa luta corpo a corpo, em que nunca se sabe se vale a pena, até ao momento de ir embora... Difícil é quando se abandona o local mas se permanece de quatro, nua, aos pés da cama. Fascinante é nunca se chegar a saber quem ganha a luta - se o Bem se o Mal. Mas a consciência de que as marcas nunca sairão da pele do sentir, essa realidade sem fundo, como um poço, não tem nome...
Agora que o Tempo passou e a chave foi entregue de vez, posso adiantar que não valeu a pena!
Nem sempre as entregas são reais de ambos os lados.
Nem sempre a Verdade origina eco.
Este texto foi escrito em Dezembro de 2004.
ML
quinta-feira, outubro 13, 2005
O bom uso da língua...
Porque há quem ache que este blog é demasiado sério, e porque defendo que a Língua Portuguesa está nas ruas da amargura, transcrevo aqui um texto que recebi via net, logo de autoria desconhecida. Para ler e pensar! Ou nao...
“Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar "afro-americanos" aos pretos - com vista a acabar com as raças por via gramatical - isto tem sido um fartote pegado! As criadas dos anos 70 passaram a "empregadas" e preparam-se agora para receber menção de "auxiliares de apoio doméstico".
De igual modo, extinguiram-se nas escolas os "contínuos"; passaram todos a "auxiliares da acção educativa".
Os vendedores de medicamentos, inchados de prosápia, tratam-se como"delegados de informação médica". E pelo mesmo processo transmudaram-se os caixeiros-viajantes em "técnicos de vendas".Os drogados transformaram-se em "toxicodependentes" (como se os consumos de cerveja e de cocaína se equivalessem!); o aborto eufemizou-se em "interrupção voluntária da gravidez"; os gangs étnicos são "grupos de jovens"; os operários fizeram-se de repente "colaboradores"; as fábricas, essas, vistas de dentro são "unidades produtivas" e vistas da estranja são "centros de decisão nacionais". O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à "iliteracia" galopante. Desapareceram outrossim dos comboios as classes 1.ª e 2.ª para não ferir a susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por imperscrutáveis necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços distintos nas classes "Conforto" e "Turística". A Ágata, raínha do pimba, cantava chorosa: «Sou mãe solteira...»; agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da pungente melodia: «Tenho uma família monoparental...» - eis o novo verso da cançoneta, se se quiser fazer jus à modernidade impante.
Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes crianças irrequietas e «terroristas»; diz-se modernamente que têm um "comportamento disfuncional hiperactivo". Do mesmo modo, e para felicidade dos "encarregados de educação", os brilhantes programas escolares extinguiram os alunos-cábula; tais estudantes serão, quando muito, "crianças de desenvolvimento instável". Ainda há cegos, infelizmente, como nota na sua crónica o Eurico. Mas como a palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é considerado "invisual". (O termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria chamar inauditivos aos surdos - mas o "politicamente correcto" marimba-se para as regras gramaticais...)
Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da praça desbocam-se em "implementações", "posturas pró-activas ", "políticas fracturantes" e outros barbarismos da linguagem. E assim linguajamos o Português, vagueando perdidos entre a «correcção política» e o novo-riquismo linguístico.À margem da revolução semântica ficaram as putas. As desgraçadas são ainda agora quem melhor cultiva a língua. Da porta do quarto para dentro, não há "politicamente correcto" que lhes dobre o modo de expressão ou lhes imponha a terminologia nova. Os amantes do idioma pátrio, se o quiserem ouvir pleno de vernaculidade, que se dirijam ao bordel mais próximo. Aí sim, um pénis de 25 centímetros é um "car**** enorme" e nunca um "órgão sexual masculino sobredimensionado"; assim como dos impotentes, coitados, dizem elas, castiçamente, que "não levantam o pau", e não que sofrem de "disfunção eréctil".”
“Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar "afro-americanos" aos pretos - com vista a acabar com as raças por via gramatical - isto tem sido um fartote pegado! As criadas dos anos 70 passaram a "empregadas" e preparam-se agora para receber menção de "auxiliares de apoio doméstico".
De igual modo, extinguiram-se nas escolas os "contínuos"; passaram todos a "auxiliares da acção educativa".
Os vendedores de medicamentos, inchados de prosápia, tratam-se como"delegados de informação médica". E pelo mesmo processo transmudaram-se os caixeiros-viajantes em "técnicos de vendas".Os drogados transformaram-se em "toxicodependentes" (como se os consumos de cerveja e de cocaína se equivalessem!); o aborto eufemizou-se em "interrupção voluntária da gravidez"; os gangs étnicos são "grupos de jovens"; os operários fizeram-se de repente "colaboradores"; as fábricas, essas, vistas de dentro são "unidades produtivas" e vistas da estranja são "centros de decisão nacionais". O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à "iliteracia" galopante. Desapareceram outrossim dos comboios as classes 1.ª e 2.ª para não ferir a susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por imperscrutáveis necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços distintos nas classes "Conforto" e "Turística". A Ágata, raínha do pimba, cantava chorosa: «Sou mãe solteira...»; agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da pungente melodia: «Tenho uma família monoparental...» - eis o novo verso da cançoneta, se se quiser fazer jus à modernidade impante.
Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes crianças irrequietas e «terroristas»; diz-se modernamente que têm um "comportamento disfuncional hiperactivo". Do mesmo modo, e para felicidade dos "encarregados de educação", os brilhantes programas escolares extinguiram os alunos-cábula; tais estudantes serão, quando muito, "crianças de desenvolvimento instável". Ainda há cegos, infelizmente, como nota na sua crónica o Eurico. Mas como a palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é considerado "invisual". (O termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria chamar inauditivos aos surdos - mas o "politicamente correcto" marimba-se para as regras gramaticais...)
Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da praça desbocam-se em "implementações", "posturas pró-activas ", "políticas fracturantes" e outros barbarismos da linguagem. E assim linguajamos o Português, vagueando perdidos entre a «correcção política» e o novo-riquismo linguístico.À margem da revolução semântica ficaram as putas. As desgraçadas são ainda agora quem melhor cultiva a língua. Da porta do quarto para dentro, não há "politicamente correcto" que lhes dobre o modo de expressão ou lhes imponha a terminologia nova. Os amantes do idioma pátrio, se o quiserem ouvir pleno de vernaculidade, que se dirijam ao bordel mais próximo. Aí sim, um pénis de 25 centímetros é um "car**** enorme" e nunca um "órgão sexual masculino sobredimensionado"; assim como dos impotentes, coitados, dizem elas, castiçamente, que "não levantam o pau", e não que sofrem de "disfunção eréctil".”
quarta-feira, outubro 12, 2005
Epithaf For a Greek Sailor
The sea goes on
Till every destiny melts in an
only one face and feeling
Don’t you know all the things you left
behind
they leave a tiny trace
as the boat cut the waves
and then it's
route slowly vanishes.
To go
or to arrive
only the travelling
until
can be told
segunda-feira, outubro 10, 2005
"Ser amigo também é dizer não!"
"Os amigos são a família que escolhemos para nós!"
Há amigos que são tão especiais que raramente falo deles! E porque nem sempre são aqui mencionados, ficam melindrados... À meses que estou em falta com alguns amigos - uns que raramente vêm a este confessionário, planetário da alma, outros que vêm imenso e a quem nunca respondo, porque entendo que aqui não se deve manter diálogo.
A uns e a outros, e a todos, agradeço serem família chegada, irmãos em horas difíceis, primos em horas de luto, avós quando preciso de conselhos.
Não basta dizer que se é amigo, há que fazê-lo! E faz-se quando se está lá para o Bem e o Mal. Quando nos dão uma reprimenda porque nos vai ajudar a crescer ou um elogio porque nos vai dar força para vencer os obstáculos.
Recentemente precisei de toda a família, que estivesse lá, que fosse aquilo que às vezes não consigo ser! Ninguém falhou - todos montaram tenda no meu coração, e foram os meus sentidos e a minha coragem e determinação. Foram tudo o que precisei e não tinha.
Não me esqueço nunca e jamais serei a mesma por isso!
Gostava de lhes poder agradecer condignamente, mas há sentimentos maiores que nao cabem nas palavras.
"Ser amigo também é dizer não!"
Voltei a acreditar, porque se há algo que merece todo o empenho é a família que escolhemos para nós!
Não costumo fazer isto, mas sinto que o devo fazer - mando aqui, publicamente, um abraço dos mais apertados a gente especial, sem ordem de entrada em cena:
Paula, Susana, Her, Artur, Luísa, António, Rafael, João & João, outra Susana, Angela, Ricardo, Miguel e Isa, e outros que me possa esquecer por senilidade apenas.
"O que faz uma vida extraordinária é o facto de se ter cruzado com a nossa!"
Há amigos que são tão especiais que raramente falo deles! E porque nem sempre são aqui mencionados, ficam melindrados... À meses que estou em falta com alguns amigos - uns que raramente vêm a este confessionário, planetário da alma, outros que vêm imenso e a quem nunca respondo, porque entendo que aqui não se deve manter diálogo.
A uns e a outros, e a todos, agradeço serem família chegada, irmãos em horas difíceis, primos em horas de luto, avós quando preciso de conselhos.
Não basta dizer que se é amigo, há que fazê-lo! E faz-se quando se está lá para o Bem e o Mal. Quando nos dão uma reprimenda porque nos vai ajudar a crescer ou um elogio porque nos vai dar força para vencer os obstáculos.
Recentemente precisei de toda a família, que estivesse lá, que fosse aquilo que às vezes não consigo ser! Ninguém falhou - todos montaram tenda no meu coração, e foram os meus sentidos e a minha coragem e determinação. Foram tudo o que precisei e não tinha.
Não me esqueço nunca e jamais serei a mesma por isso!
Gostava de lhes poder agradecer condignamente, mas há sentimentos maiores que nao cabem nas palavras.
"Ser amigo também é dizer não!"
Voltei a acreditar, porque se há algo que merece todo o empenho é a família que escolhemos para nós!
Não costumo fazer isto, mas sinto que o devo fazer - mando aqui, publicamente, um abraço dos mais apertados a gente especial, sem ordem de entrada em cena:
Paula, Susana, Her, Artur, Luísa, António, Rafael, João & João, outra Susana, Angela, Ricardo, Miguel e Isa, e outros que me possa esquecer por senilidade apenas.
"O que faz uma vida extraordinária é o facto de se ter cruzado com a nossa!"
sábado, outubro 01, 2005
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