quinta-feira, março 27, 2008

O sorriso rasgado no rosto!

Voltei...
Pela mão do meu Dono e com ajuda da familia e Amigos com A maiúsculo...
A todos agradeço!
Segue-se longa recuperação de movimentos e agilidade nas mãos, mas é uma questão de tempo.

Mas neste período de estagnação e imobilidade forçados, muita coisa vem à cabeça e, mais do que nunca, sente-se que ser dependente sem se querer é um mal que magoa muito!
E isso leva-nos ao BDSM - ser dependente porque se quer! O que faz toda a diferença...

Antes das operações o medo das anestesias gerais e dos nervos em franja a remendar mais uma existência tumultuosa e plena de inconstâncias, dum ser agitado e cheio de pressa de fazer coisas; nem sempre com ajuda.
Antes das operações o pensar no antes e depois e no que pensamos imutável que se transfigura em volátil e desaparece... quais balões de hélio contra a lua.
Antes das operações os porquês e as dúvidas e as certezas de que "o que foi, não volta a ser!"

Agora, paciência e a certeza de sermos frágeis e vulneráveis e não um dos deuses imortais, de que tudo pode terminar num segundo e prolongar-se até à eternidade.
Nesta altura, tudo a ir e vir sem controlo, porque eu sou uma minúscula partícula do Universo à deriva, e isso é um milagre a zelar.

Vou contar uma história real.


"Era uma vez...
Uma sessão de BDSM com um Dono.
Fazia-se breath play descontraído e informal, sem ceremonial de rigído controlo D/s ou SM.
Depois do banho, uma toalha húmida agarrou-se com garras ao meu pescoço, no meio de cócegas e de poder físico.
Sempre a rir - ambos.
E um torniquete era apertado a retirar-me a possibilidade de me defender, o polvo sufocava-me, e eu sempre a rir.
De repente - adormeci...
Vi-me num lago, numa clareira num bosque, imersa até ao pescoço, numa água perfeita em que me sentia bem; mulheres altas, jovens e belas, também nuas, banhavam-me, salpicando-me água na cabeça e na cara - tudo o que de mim emergia da água.
Era um ponto pequenino no meio da clareira, rodeada de árvores gigantescas e no meio um céu de um azul indescrítivel - um quadro de Van Gogh ou Cézanne.
Sentia atrás de mim uma queda de água macia e calmante, via pássaros esvoaçar e sentia-me feliz! Sem medo, liberta e entregue...
Acordei com um sorriso rasgado no rosto e a certeza de ter adormecido, e nao me cansava de pedir desculpas ao meu Dono por ter adormecido - porque nunca me tinha acontecido em sessão.
Ele estava lívido e assustado e com olhos de quem não sabia o que se estava a passar.
Dizia-me que desmaiei e eu insistia que adormeci!
Ele ficou petrificado e bloqueado durante quase nove meses em que nem queria ouvir falar em BDSM.
Passado pouco tempo, acabamos a relaçao, sem que eu o culpasse jamais do sucedido; foi um acidente. E para mim valeu a pena; acordei desejosa de mais, queria fazer tudo que houvesse para fazer em BDSM e estava uma pilha carregada de energia. Ele, coitado, drenado de ânimo e de certezas - desiludido com ele próprio e a culpar-se. Foi um incidente/acidente e nada mais.
Mas levou-me pela mão ao paraíso e a imagem pwermanece vívida e real como então.
Que saudades dessa paz..."

Sem comentários: