"TODOS SÃO CAPAZES DE DOMINAR UMA DÔR, EXCEPTO QUEM A SENTE!" William Shakespeare
quarta-feira, outubro 31, 2007
Parabéns ao meu Dono!
Muitos parabéns e que conte imensos momentos felizes na vida e na Dominação - de preferência comigo a seus pés, Senhor...
"A Virgem e o Cigano", "A criada e o Amo", O Dono e a escrava - às vezes o sonho comanda a Vida!
De olhar baixo, beijo-lhe a mão e agradeço....
segunda-feira, outubro 29, 2007
A minha avó era Domme!
O meu ex-marido sabe recentemente que sou praticante de BDSM!
E termos como sado-masoquismo, escravas e Donos não lhe são desconhecidos, através de mim...
Há meia hora atrás dizia-me "essa coisa do Dono é que não me entra; não digas isso, por favor...!"
E dei comigo a dizer-lhe que era só um termo, que um Dono era tipo um namorado mas com práticas sado-maso envolvidas.
Fiquei a pensar no que lhe disse.
Não sei bem se definir um Dono nesses termos a alguém exterior a este meio, dá ou não um tom perjurativo à questão, mas se pensar melhor um Dono (como o entendo) não deixa de ser um namorado, com quem se pratica sado-masoquismo (não necessariamente) e Dominação/submissão (quase sempre); talvez o que me escapou referir é que há igualmente total troca de Poder! Não sei se ele entenderia...
Mas a verdade é que muitos dos nossos avós e bisavós eram verdadeiros Donos das nossas avós, numa prática 24/7 for life em que a submissão era oferecida antes da Dominação ser sequer exigida.
Aliás, se remontarmos a um ou dois séculos atrás, as mulheres eram educadas para serem submissas e os homens Dominadores.
A minha avó materna era uma verdadeira Domme, sem práticas SM!
Viúva aos 39 anos com dois filhos menores, classe baixa, no tempo do pós Segunda Guerra, viu-se obrigada pela vida a Dominá-la e a todos à sua volta; mas não era apenas isso, ela era instintivamente Dominadora, apesar de quase ter cegado de tanto chorar quando o marido morreu - nunca saberei se por amor, por desespero, ou por sentir que a vida a tinha traído. Mas a verdade é que conseguiu manter a casa, dar boa educação e uma profissão a ambos os filhos e tornar-se funcionária pública, com a 4ª classe, num tempo em que nem todos eram admitidos pelo Antigo Regime.
Há Dominação e Dominação. E a minha mãe foi Dominada por ela até à sua morte, com mais de 80 anos, por uma mão e determinação férreas... Neste meio, associa-se Dominação imediatamente a SM e não é verdade...
Acho que falei bem ao meu ex-marido.
Um Dono é como um namorado, mas com práticas Sm e D/s.
sexta-feira, outubro 26, 2007
O livro: "Alice No País das Maravilhas" é um livro adorável - narra as (des)aventuras de uma garota adolescente de classe alta que, subitamente, vê o seu mundinho confortável virar às avessas quando aterrisa no País das Maravilhas. Esse novo país põe em xeque tudo o que Alice considera lógico e normal, uma vez que ele é governado pela imaginação e pela fantasia. O conflito da trama, então, é basicamente a sensação de estranhamento de Alice, propiciada por esse universo nonsensical. Mas o mais interessante é quando a graciosa heroína começa a questionar suas próprias percepções do que é “certo” e “errado”.
O autor: Lewis Carroll (1832-1898) era o pseudônimo do reverendo Charles Lutwidge Dodgson, professor de matemática na tradicional Universidade de Oxford.
Homem tímido e reservado, deleitava-se, no entanto, na companhia de crianças, principalmente meninas. "Alice No País das Maravilhas" foi escrito para a sua amiguinha favorita, Alice Liddell. Há inúmeras biografias sobre o autor e muitas se pautam na relação de Carroll com Alice. Sensacionalismos à parte, a sua ligação com Alice é talvez um pouco estranha, como podem comprovar as leituras dos diários de Carroll, bem como de suas cartas e nas inúmeras fotos que ele tirou de Alice. Os diários revelam que ele era um homem cheio de culpas. Acontece que não seria difícil se sentir “culpado” numa sociedade de valores tão moralistas e hipócritas quanto a vitoriana.
in http://publicoeprivado.wordpress.com/2007/01/08/
quinta-feira, outubro 25, 2007
A Comunidade!
Dei uma gargalhada quando o vi, mas na realidade o assunto é sério.
Há alguns anos que luto pelo conceito de Comunidade no que se refere aos praticantes de BDSM nacionais em interacção (ou não).
Sempre defendi que uma Comunidade é um conjunto de pessoas relacionadas ou vinculadas por uma mesma afinidade, sem caracter de obrigatoriedade ou de participação compulsiva, mas que partilham os mesmos desejos ou necessidades. Nada de Associações ou Clubes Privados - apenas e simplesmente uma Comunidade...
Muitos se riram de mim e outros tantos falaram nas costas contra a minha ideia de "unir a Comunidade!"; por motivos pessoais, no ultimo ano afastei-me das ondas néticas e perdi um pouco o rasto a uns e outros que, inflamados por auto-projecções interesseiras, apenas queriam "dividir para reinar!"
Surgiram Fóruns e contra-correntes e viraram-se amigos contra amigos por intrigas e suspeitas, porque de repente ninguém era de confiança; consequentemente, passou a haver menos BDSM "comunitário", eventos, festas privadas ou nao, e tudo o que meia duzia de pessoas tinham conseguido, com muito esforço pessoal, derrocou. No entanto, apenas aparentemente, pois a Comunidade continua a existir e a querer mostrar-se além das roupas negras de ocasião ou dos latexes coloridos. Há um lado mais calmo e mais sério da questão que continua a atirar sementes ao solo e a colher dividendos, apesar das fricções propositadamente geradas em Fóruns ou em determinados canais de IRC outrora frequentados por BDSMers, e agora palco de troca de anedotas juvenis...
Há um sentimento de casa abandonada, mas quem não acredita nisso, ignorou facções e grupos e continuou em linha recta a tratar e a lidar com BDSM com seriedade, longe de falsos palcos de meia dúzia de falsos "eleitos". Aliás, os nomes sonantes da praça desvaneceram-se gerando o mito de D.Sebastião e novos partos de nomes em nicks desconhecidos, continuando na sombra a maquinar (ou devo dizer envenenar?)...
Na mesma edição da Revista Dominium de Junho deste ano, aparece um artigo exclusivo intitulado "A Casa", onde em Lisboa, sob total anonimato, duas duzias de pessoas praticam BDSM de verdade sem alarido nem concorrência, num aproximado "Roissy" de "A História d´O". Na verdade, "os cães ladram, mas a caravana passa!" e se nos Fóruns os mais sóbrios se detiveram de postar e manifestar, nem sempre isso é sinal de cobardia, mas talvez de concordância que o descambe que alguns provocaram na Comunidade de BDSM Portuguesa apenas merece desprezo...
Afinal o silêncio é uma faca de dois gumes e, quem sabe, a nossa Comunidade nao esteja prestes a revelar-se uma borboleta que acabou o seu tempo de gestação na crisálida?
Eu acho que sim. Esperem e vejam!...
quarta-feira, outubro 24, 2007
PAIN
When perception deceives illusion
The vertical prospect
segunda-feira, outubro 22, 2007
Polyamor
"(...)
Esta sanduíche de sexo em camadas tornou-se a imagem da minha teoria final sobre nós os três. Eu e ele profundamente interligados, com ela como nossa parteira, nosso amortecedor, nossa catalizadora, nossa cola. Como Colette afirmou: Certas mulheres precisam de mulheres para preservar o seu gosto por homens. Ela aliviava-nos, separava-nos, e dispersava a estarrecedora intensidade que havia entre nós. Diminuía a terrível ansiedade do amor.
Vários meses mais tarde, ele anunciou que ia sair da cidade por questões de trabalho - ia estar fora durante meses, talvez para sempre. Combinámos um encontro, apressadamente. Depois de ele chegar, ela ligou a sugerir que começássemos sem ela, porque se ia atrasar. Bateu à porta assim que acabámos de foder. Fomos recebê-la nus, mas ela estava vestida de veludo vermelho e seda verde, com botões de rosa brancos frescos a decorar o cabelo, como Ofélia.
Disseram-me para ficar deitada e para me descontrair, enquanto eles se juntavam sobre a sua presa. Ele tinha os dedos no meu clítoris, na minha cona, no meu cu, enquanto ela se debruçava por cima de mim, macia, com o cabelo ruivo, sedoso espalhado por todo o lado, a sussurrar: Amo-te, amo-te, amo-te, amo-te...As ondas rebentaram e ele ainda continuou, e ela ainda sussurrou, acariciando o meu rosto: Amo-te, amo-te, amo-te... As ondas continuaram, vezes sem conta, com orgasmos tão doces a levar a outros menos doces mas mais intensos.
E depois aconteceu. Uma onda começou nos meus pés e nas minhas pernas, subiu pela minha barriga, pelo meu peito, pela minha garganta, e a minha alma explodiu pelo topo da minha cabeça. Foi a experiência de amor-prazer mais profunda que alguma vez tinha vivido - ou visto. Mais tarde ela explicou-me que o nome técnico era Kamikazi-Mega-Hiawatha.Parecia mesmo ser isso.
Depois ele partiu. Foi-se embora. Embora.
Eu e ela encontrámo-nos numa tarde de sol, abraçadas na cama dela, com os dedos a vaguear - mas eu tinha saudades dele. Doces irmãs sem uma pila entre elas."
in "Entrega - Memórias Eróticas"
Toni Bentley (2004)
sábado, outubro 20, 2007
A Solidez!
Meu Dono olha-me nos olhos e tenho de os baixar.
Dá-me um afago e dobra-me a coluna e ajoelho.
Meu Dono sabe dobrar-me.
Marca-me a dor na pele
Meu Dono tinge-me a pele de matizados
com golpes certeiros, inflamados
dá-me rubor e ardor.
Prende-me os membros
Meu Dono ata-me e desata-me e enlaça-me
e eu dou suspiros e ais
ele... beijos fatais.
Silencia-me com a lingua
Meu Dono beija-me
enrola-me na sua volupia carnal
e derreto, desfaço-me, deslizo, sou a tal...
Tem-me em maos e pernas e braços e cinta
Meu Dono que me capta os olhos no chao
de quatro me põe
e possui-me entao!
sexta-feira, outubro 19, 2007
Cancro da Mama - Apelo!
quinta-feira, outubro 18, 2007
Esta ordem não é um castigo...
Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!!
Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!!
Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!!
Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!!
Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!!
Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!!
Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!!
Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!!
Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!!
Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!!
Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!!
Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!!
Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!!
Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!!
Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!!
Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!!
Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!!
Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!!
Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!!
Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!!
Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!!
Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!!
Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!!
Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!!
Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!!
Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!! Meu Dono, adoro-o!!!!
Meu Dono, adoro-o!!!!
A história do Vibrador!
Vale a pena ler e ver como afinal andamos todos a viver vidas de "gato escondido com rabo de fora"!
http://www.slate.com/id/2174905/slideshow/2174929/
Orgasmo e Descontrolo
Doutor Pio de Abreu
in "Fantasias Eróticas - Segredos das Mulheres Portuguesas" / Isabel Freire
terça-feira, outubro 16, 2007
As Dores do Crescimento no BDSM
O Dono falava assim à escrava, dois dias depois do primeiro obstáculo com que se depararam... E era verdade, embora ela achasse que também se perdia algo no percurso. Não é possível redefinir trajectos sem se perder algo, mas as dores do crescimento servem para se fazer comparações e perceber não o que se ganhou mas o que se podia ter perdido. O "banhado a ouro" das relações esconde muitas vezes o oxidado dos contratempos e contrariedades. Quando duas almas se debatem até se conseguirem apaziguar numa fusão de entendimento - conquistou-se mais uma fronteira e subiu-se mais um degrau, e é assim que se cresce... de baixo para cima.
E se realmente a relação D/s é adulta e consensual, crescem ambos a tentar não perder, em vez de cada um querer ganhar uma razão solitária. Maturidade também é perder a razão em prol de um bem maior - agradar e servir e concordar com quem nos segura na queda e faz feliz no carrocel do BDSM!
Masochism Tango - Tom Lehrer
I ache for the touch of your lips, dear,
But much more for the touch of your whips, dear.
You can raise welts
Like nobody else,
As we dance to the masochism tango.
Let our love be a flame, not an ember,
Say its me that you want to dismember.
Blacken my eye,
Set fire to my tie,
As we dance to the masochism tango.
At your command
Before you here I stand,
My heart is in my hand. ecch!
Its here that I must be.
My heart entreats,
Just hear those savage beats,
And go put on your cleats
And come and trample me.
Your heart is hard as stone or mahogany,
Thats why Im in such exquisite agony.
My soul is on fire,
Its aflame with desire,
Which is why I perspire
When we tango.
You caught my nose
In your left castanet, love,
I can feel the pain yet, love,
Evry time I hear drums.
And I envy the rose
That you held in your teeth, love,
With the thorns underneath, love,
Sticking into your gums.
Your eyes cast a spell that bewitches.
The last time I needed twenty stitches
To sew up the gash
That you made with your lash,
As we danced to the masochism tango.
Bash in my brain,
And make me scream with pain,
Then kick me once again,
And say well never part.
I know too well
Im underneath your spell,
So, darling, if you smell
Something burning, its my heart.
Excuse me!
Take your cigarette from its holder,
And burn your initials in my shoulder.
Fracture my spine,
And swear that youre mine,
As we dance to the masochism tango
sexta-feira, outubro 12, 2007
"De onde me chegam estas palavras?
Nunca houve
palavras para gritar a tua ausência
Apenas o coraçãoPulsando a solidão antes de tiQuando o teu rosto dóia no meu rostoE eu descobri as minhas mãos sem as
tuasE os teus olhos não eram maisque um lugar escondidorefaz o seu vestido de corolas.
onde a primavera
E não havia um
nome para a tua ausência.Mas tu vieste.
Do coração da noite?Dos braços da manhã?Dos bosques do Outono?Tu vieste.E acordas todas as horas.Preenches todos os minutos.Acendes todas as fogueirasescreves todas as palavras.Um canto de alegria desprende-se dos meus
dedosquando toco o teu corpo e habito em tie a noite não existeporque as nossas bocas acendem nauma aurora de beijos.
madrugadaOh, meu amor,doem-me os braços de te abraçar,trago as mãos acesas,a boca desfeitae a solidão acorda em mim um grito de silêncio
quandoo medo de perder-te é um corcel que pisa os meus
cabelose se perde depois numa estrada desertapor onde caminhas nua."Joaquim Pessoa
quinta-feira, outubro 11, 2007
O outro lado da vida!
Donatien Alphonse François de Sade, mais conhecido como Marquês de Sade (Paris, 2 de junho de 1740; Saint-Maurice, 2 de dezembro de 1814) foi um aristocrata francês e escritor marcado pela pornografia violenta e pelo desprezo dos valores religiosos e morais. Muitas das suas obras foram escritas enquanto estava em um hospicio, encarcerado por causa de seus escritos e de seu comportamento. De seu nome surge o termo médico sadismo, que define a perversão sexual de ter prazer na dor física ou moral do parceiro ou parceiros. Foi perseguido tanto pela monarquia (Ancien Régime) como pelos revolucionários vitoriosos de 1789 e depois por Napoleão.
"Num mundo abarrotado de sites de pornografia, canais eróticos de TV a cabo e sex shops, ainda haveria espaço para a literatura erótica? As personagens de clássicos como Os 120 Dias de Sodoma, do Marquês de Sade, ou As Relações Perigosas, de Choderlos de Laclos, por mais lúbricas e perversas que sejam, podem rivalizar com os malabarismos ex-plícitos das pornô stars e seus par-ceiros, rostos de relance entre closes de genitais? Tais perguntas se colocam sempre que pensamos nessa tradição que re-monta a Safo, Catulo e Petrônio, na Antiguidade. Que passa pelas narrativas licenciosas do livro Decamerão, de Boccaccio, e pelos Sonetos Luxuriosos de Aretino, levando à explosão da literatura pornográfica – que tem início com a invenção da imprensa, no século 16, utilizada pelos libertinos do século 18 como instrumento político. Hoje, o efeito que esses autores têm sobre os leitores é muito diferente: na era do sexo virtual, a literatura de alguma maneira resiste à apropriação do erotismo pela indústria da pornografia. Os livros do gênero outrora considerados perturbadores foram não apenas reabilitados, mas elevados à categoria das obras-primas da lite-ratura universal.
Divino Marquês
O exemplo máximo é o próprio Marquês de Sade: até o começo do século 20, o autor de A Filosofia na Alcova era um maldito que passara a maior parte da vida preso na Bastilha e no sanatório de Charenton, sob acusação de blasfêmia e de sodomia homo e heterossexual. Após sua morte, em 1814, os livros de Donatien Alphonse-François (o nome de batismo de Sade) ficaram proibidos até que o poeta surrealista Apollinaire ressuscitasse o “Divino Marquês”. Em poucas décadas o demônio foi canonizado: Paul Éluard, Mario Praz, Simone de Beauvoir, Lacan, Bataille, Blanchot, Octavio Paz – a lista de admiradores é enorme, todos vendo nele um imoralista que conseguira encontrar “o sublime no que é infame”, segundo palavras de Jean Paulhan.De defensor das perversões e do crime sexual, de autor de narrativas que recendem a sangue e esperma, Sade converteu-se (sem deixar de ser tudo isso) em metáfora da imaginação ilimitada, do desafio do homem às leis do Estado, de Deus e da própria natureza. Mais que isso: um livro como Os 120 Dias de Sodoma é uma inversão radical dos valores vigentes, transformando o castelo de Silling (cenário da narrativa) numa espécie de monastério profano, no qual quatro libertinos empreendem com férrea disciplina um certame de intensas orgias radicais.
Sagrado versus Profano
Essa ritualização do sexo (com regras meticulosas prevendo inspeção dos haréns e horários das refeições) se coloca como imagem em negativo da sociedade: aquilo que é pecaminoso torna-se sagrado, a destruição dos laços sociais é vista como libertação. “O claustro do libertino abre uma porta para a liberdade: o homem se liberta definitivamente dos va-lores sociais, rompendo o ciclo de servidões a que está sujeito na vida comunitária”, diz Eliane Robert Moraes, mais importante estudiosa brasileira do Marquês de Sade.Apesar de vivermos numa sociedade permissiva em relação ao sexo, com uma indústria pornográfica rami-ficada para atender a todo tipo de apetite, um autor como ele ainda tem algo de ameaçador e, ao mesmo tempo, atraente.O anticlericalismo do libertino francês é inofensivo para nossas sociedades laicas, e suas perversões sexuais designaram uma prática, o “sadismo”, difundida em clubes e sites. O mesmo se aplica ao masoquismo, que deriva das novelas do austríaco Leopold von Sacher-Masoch (autor de A Vênus das Peles) e aparece associado ao nome do marquês na sigla SM (sadomasoquismo).Mas se continuamos a ler Sade é porque ele encena, na repetição frenética do gozo, a busca que está por trás do próprio erotismo, como acontece com a fissura com que o pornointernauta vai de um site de sacanagem para outro: o que importa é o deslizamento infinito do desejo jamais saciado.
Sexo como ritual
O erotismo, sexo ritualizado e vivido culturalmente, é indissociável do valor simbólico da linguagem – ou seja, da arte e da literatura, que são as formas por excelência de conhecimento pela imaginação. Vem daí a permanência da literatura erótica, expressão que é uma licença poética e não pode ser aplicada de modo indiscriminado aos versos fesceninos da Antiguidade, às farsas renascentistas ou à mórbida sexualidade dos contos góticos. A cada período histórico corresponde uma forma de vivenciar o erotismo e maneiras diferentes de codificá-lo.Seria um equívoco, por exemplo, ver na poesia obscena de Catulo (87-54 a.C.), com seu caráter zombeteiro, um desafio à ordem romana ou um desvio de costumes. O poeta, na concepção antiga, era aquele que vestia a máscara de situações vividas coletivamente: “Peço minha, boa, doce Hipsitila,/ minhas delícias, meus encantos, pede/ que eu vá dormir a sesta junto a ti./ E se pedires, cuida disto: que outro/ não introduza entraves na portinha/ nem queiras tu sair por aí fora./ Mas fica em casa e vai te preparando/ para umas nove contínuas trepadas./ E se é que vais chamar-me, chama logo,/ que almoçado, deitado, e satisfeito,/ tanto a túnica eu furo quanto o manto” (O Livro de Catulo, tradução de João Angelo Oliva Neto).Aqui, a exibição de volúpia não ex-pressa um desejo íntimo do poeta, mas pertence a uma idéia de erotismo que segue as convenções do humor romano – viril e patriarcal, mas repleto de “delícias” e “encantos”.
Decoro e hipocrisia
A virilidade dos antigos, é bom que se diga, diz respeito ao domínio de si e ao controle sobre o outro; não se confunde com noções modernas como libertinagem ou “orientação sexual”. As práticas homossexuais masculinas, por exemplo, eram aceitas desde que se preservasse o decoro – por isso o historiador Paul Veyne compara a tolerância da “homofilia” à nossa hipocrisia em relação ao adultério. E o decoro, por sua vez, consistia em manter as relações hierárquicas de uma sociedade escravagista, que migravam da praça para o leito.Não havia, mesmo entre heteros-sexuais, repulsa ao coito homoerótico; para um homem adulto e livre, porém, ser penetrado equivalia a um vício moral decorrente do defeito político da falta de virilidade. Por isso, as formas mais infames de rebaixamento eram a felação e a cunilíngua, que colocam o corpo a serviço dos prazeres alheios.A Priapéia, conjunto de poemas em louvor a Príapo (deus fálico da fe-cundidade), é repleto de referências jocosas a essas práticas. “Nos meninos e nas meninas meu pau entra embaixo. Nos barbados vai por cima”, diz um dos epigramas reunidos na antologia Falo no Jardim. Decorosa, satírica ou elegíaca, a obscenidade antiga é sempre exemplar de condutas a serem decantadas ou condenadas – mas que permanecem confinadas a gêneros bem delimitados. Há pouca margem para uma experiência pessoal ou para a confusão de registros poéticos.
Público e privado
Demorará alguns séculos até que o público e o privado se misturem – e se isso ocorre é porque lentamente surge uma perspectiva individual, que resiste às imposições da sociedade e percebe suas múltiplas florações, seus conflitos internos. Durante o Renascimento, a Priapéia ressurge na forma dos diálogos licenciosos da Cazzaria. Essa fantástica paródia dos textos escolásticos, escrita por Antonio Vignali no século 16, é uma seqüência de comentários e tertúlias sobre alguns temas edificantes como gozo, genitália, escatologia e posições sexuais. A sodomia ocupa lugar de destaque na erótica renascentista, especialmente nos Sonetos Luxuriosos de Pietro Aretino. Os poemas são compostos por diálogos de amantes em pleno ato. Revelam uma mudança do status das práticas sexuais: a sodomia se desloca da relação do homem adulto com o efebo (como na Grécia) ou com o alumnus (o jovem escravo romano) para a relação conjugal; a mulher, ou melhor, a cortesã ganha lugar de protagonista – e ambos, homem e mulher, compõem uma micro-sociedade. Fato importante, os Sonetos Luxuriosos foram editados numa série de gravuras de Marcantonio Raimondi a partir de desenhos feitos por Giulio Romano em 1524. O conjunto, que ficou conhecido como I modi, representa 16 posições amorosas e pode ser considerado o marco inaugural da pornografia.
Catecismos libertinos
Embarcando nas novas tecnologias de impressão do século 16, a literatura erótica potencializa seus efeitos. Ao longo dos séculos seguintes, surgem sociedades secretas e um filão de publicações de catecismos libertinos.Essa explosão erótica compreende vários vetores. O mito de Don Juan (que gerou obras-primas como as peças de Tirso de Molina e Molière ou a ópera Don Giovanni, de Mozart, com libreto de Lorenzo Da Ponte) corresponde ao emblema do aristocrata que acumula conquistas e exibe um catálogo de mulheres ultrajadas, ao passo que Casanova é a antecipação do andarilho romântico cuja honesta volubilidade dramatiza de forma galante e sedutora a impossibilidade de se conservar qualquer coisa deste mundo fugaz. Entre um e outro surgem libertinos que (Sade à frente) fazem do sexo uma máquina de destruição da ordem estabelecida. Restif de La Bretonne (personagem, ao lado de Casanova, do filme La Nuit de Varennes, de Ettore Scola) e panfletistas como Mirabeau e Saint-Just escreveram obras pornográficas na ante-sala da Revolução Francesa. Passado o período do terror jacobino, a Europa burguesa já não encontra público para a pregação libertina – ou então esse público reservou um espaço secreto, na biblioteca doméstica, para revistas e livros despudorados. Assim como os pais vitorianos visitam regularmente os bordéis londrinos e parisienses, a Biblioteca Nacional da França mantém uma Coleção do Inferno, controlada por cisudos e circunspectos bibliotecários.
Sociedade do espetáculo
Obras como o Manual de Civilidade Destinado às Meninas para Uso nas Escolas, do simbolista Pierre Louys, ou As Onze Mil Varas, de Apollinaire, são homenagens anacrônicas ao espírito sadeano, mas já não põem fogo nas entranhas de um leitor satisfeito com revistas ilustradas e novelas populares. O século 20 será, assim, a era em que se faz a distinção entre erotismo (que transforma a sexualidade em metáfora da imaginação) e a pornografia (termo que deriva de pórné, “prostituta”). Relatos contemporâneos como os da famosa ex-garota de programa Bruna Surfistinha (O Doce Veneno do Escorpião) ou A Vida Sexual de Catherine M. (memórias ninfomaníacas da crítica de arte Catherine Millet) se diferenciam pelo grau de vulgaridade, mas pertencem ao mesmo registro: o sexo na sociedade do espetáculo e dos reality shows. Contra isso, existem os romances de Vladimir Nabokov – que em Lolita antecipou o tema da pedofilia como nova seara da transgressão – ou Henry Miller – que, ao comentar a proibição de Trópico de Câncer, sintetizou o espírito do pornógrafo imaginativo: “Não é possível encontrar a obscenidade em qualquer livro, em qualquer quadro, pois ela é tão somente uma qualidade do espírito daquele que lê, ou daquele que olha.” ©
Por… Manuel da Costa Pinto
“Revista da Cultura” nº 2 /Brasil – Set 2007
terça-feira, outubro 09, 2007
Humildade
quinta-feira, outubro 04, 2007
quarta-feira, outubro 03, 2007
A Marioneta com Coração
Imaginar uma marioneta com coração é fácil, quando se é submissa/escrava...
Cumprir as ordens do Dono sem sentir é triste e sem razão de ser - representar não é para todos os submissos e, perdoem-me, tal como os Doms/Dommes - também há subs genuínose que sentem.
Defendi sempre que BDSM só pode ter a ver com sentir!
Não só as dores como as alegrias, o Bem e o Mal num limbo quase metástico em que Céu e Terra mudam de lugar...
No passado fim-de-semana, senti-me como na "Pietá", tomada no colo depois da crucifixação, embalada pelo Dono como uma boneca de trapos, a fazer-me festas na cabeça e na alma, depois da purga dos fantasmas dentro de mim...
Uma marioneta, uma boneca sem acção e toda entrega - em silencio a olhar o Dono nos olhos, quem me guia os passos eme dá razaão para continuar a acreditar!
Não é isso BDSM? Um que guia e um que é guiado, em uníssono?
O meu Dono pendura-me na parede e faz de mim o que quer e eu sinto que faz sentido - é a consensualidade de que tanto se fala - sem safewords nem medos - sentir ao ponto da fusão da respiração, apoiada no seu pescoço, amparada no desatar dos pulsos e dos tornozelos - sem nunca me deixar cair...
O meu Dono não me deixa cair e é assim que se faz a estrada, a sentir assim, mais que a pensar...
Como num casamento, nao se começa nada a pensar em divorcio, mas sim em fazer coisas a dois, por muito tempo, às vezes até se pensa para sempre...
O milagre de dar e receber sem palavras - suor nos corpos e marcas na pele, e semén e tremuras nao de frio e o ninho contra a barriga do Dono, e o Dono que descansa depois de aplacada a sua dádiva, e a sub que se sente cada dia mais dele.
Se isso acontecer, é porque a marioneta tem coração - sente as necessidadess do Dono e sabe o que se espera dela - com sentir, com dedicação, com Verdade, nem que a do momento - afinal a mais importante de todas...
Sou uma marioneta com coração ao lado do meu Dono e isso faz-me sentir inteira, porque o vejo feliz!
Coitado do que não Domina nem é Dominado com coração - engana-se apenas, sempre e nao percorre um caminho para parte alguma...
Anda sem destino, ate parar ou o fazerem parar!
Hoje sou feliz!
Tenho fios a conduzirem-me os movimentos e o coração no lado esquerdo, a bater desenfreado cada vez que sou Dominada ou me perguntam o que estou a sentir....
Hoje sou feliz!
O coração bate no sítio certo....
segunda-feira, outubro 01, 2007
Acabou mais um fim-de-semana.
Na despedida, visto um vestido preto, sem roupa interior, brilha a minha coleira de prata ao pescoço com as iniciais do meu Dono, o cabelo acabado de lavar solto e saudável e uma casaca cinzenta sobre o trajo; um anel de matizes cinza e preto no anelar esquerdo.
Antes dele se ter feito à estrada, já lhe estou a mandar uma sms a dizer "Tenho saudades do meu Dono!"
BDSM também é isto - cumplicidade, respeito e um fim-de-semana pacato por razões de saude, minhas; e o Dono não faltou e tomou conta de mim e celebramos tranquilamente o primeiro mes sobre a dádiva da sua coleira à sua escrava... Mesmo sem SM, só com D/s e muito respeito e momentos certos para tudo, cresce uma relação bonita e que deixa saudades a cada minuto!
Há quem lhe chame o "BDSM romantico" - aquele que não carece de gritos e ordens de cinco em cinco minutos, mas se faz de forma a deixar saudades, calma e serenamente.
Agradeço ao meu Dono tomar conta de mim, mesmo quando estou incapacitada para servir em SM, agradeço-lhe usar as suas letras, agradeço-lhe confiar em mim, agradeço-lhe vir ter comigo sob algum sacrificio e, na despedida, agradeço-lhe deixar que lhe beije a mão sem que mo ordene.
Dois adultos realizados em BDSM são, seguro e consensual!
Com saudades à partida e a certeza do regresso.
Obrigada, meu Dono, e regresse depressa!!