sexta-feira, maio 20, 2005

Elogio da Loucura

"(...) XLVIII - Se julgais que me exprimo com mais presunção do que verdade, considerai comigo a existência dos homens; vereis com clareza a sua dívida para comigo (a Loucura) e a estima que me consagram grandes e pequenos. Não vamos examinar vida por vida, o que seria demasiado longo. Pelas minhas insígnes será fácil julgar das outras. Para quê falar do vulgo e da plebe, que, sem contestação, são inteiramente meus? São tão abundantes as formas de loucura e inventam todos os dias tantas formas novas, que nem mil Demócritos chegariam para se rirem delas. Não conseguiríeis imaginar quantos risos e divertimentos os deuses tiram diarimante desses homens. Passam as horas sóbrias da manhã a atender os votos e pedidos dos seus fiéis. Em breve, porém, atulhados de néctar e incapazes de qualquer ocupação séria, instalam-se no local mais elevado do Olimpo, donde se debruçam para espreitar as acções dos homens. Não há espectáculo mais divertido para eles. Pelos deuses, que comédias! Que agitação e que variedade de loucos!"

In "Elogio da Loucura"
Erasmo de Roterdão (séc. XVI)

1 comentário:

Anónimo disse...

Esta foi quase profética... ;)