segunda-feira, junho 03, 2013

(para a Rita)




Uma submissa é também uma Mulher.


Tenho reflectido muito sobre o desejo/vontade e a finalização - em contexto D/s.
Ao fim de quase uma década de BDSM com excelentes e terríveis experiências, sinto que tudo mudou de dentro para fora no que toca a esta submissa que muitos sempre acharam "domme encapotada"...
Ninguém é submisso por ser compassivo, sensível e apaziguador, como ninguém é o oposto por não o ser.
As vivências práticas enquanto detentor de um dos "papeis" auto-definem-no pelo prazer que se tem - em ser  sub ou Dom - e pelo prazer que se dá....


Pessoalmente, ao ver a imagem acima - ocorreu-me que, enquanto submissa, sempre tive o desejo de "ser desenhada" como ideal de um Dom, e que tal nunca aconteceu.
Como muitos outros praticantes de BDSM, entrei sozinha na Comunidade Portuguesa (depois de conhecer alguns amigos com as mesmas afinidades) e fiz-me sozinha, guiada por instinto, bom-senso e procura do que me dava prazer enquanto prazenteava os meus Dominantes. Sem grandes protocolos rígidos, mas adaptando-os à minha maneira de ser e estar - como entendo que todos neste Meio devemos fazer...


Depois, ser submisso não é ser vítima e cada um tem o seu grau de entrega e de ideal BDSMíco; assim o pensei e senti e assim o fiz meu - o meu BDSM em trabalho de equipa e ajustes necessários.
Fui começada a desenhar por alguém logo no começo da minha viagem, mas fiquei em rascunho pela distância e necessidade impossível de empenho total da outra parte.


Hoje, sinto muito a urgência de voltar a ser "desenhada" ao critério do artista, da sua pena e da sua arte - como nunca fui antes, por inteiro, sem dramas nem compaixões, com a maturidade adquirida em anos de "ensaios". Mais do que um querer - sinto a urgência, a necessidade de...e esse sentir traz de volta coisas antigas que não velhas...
A primeira coleira, o primeiro Dono sem que ele soubesse que me tinha na palma da mão, o primeiro Dono de comum acordo e circunstância, o último Dono, o último Dominador a possuir-me em sessões descartáveis - tudo volta com um sorriso pendurado nos lábios...
Nada de sentires dos velhos do Restelo, antes uma viagem pela Memory Lane das nossas sensações e sentidos, com a pele arrepiada e os olhos estreitados no horizonte.


A primeira coleira, presa por mim no tornozelo direito, com guizos. Na primeira sessão e encontro real, o Dom pergunta "essa pulseira no pé tem algum significado especial? Pode-se tirar?" e eu abano a cabeça e minto, digo que não, que não é nada e nada especial. Era a coleira dele, de meses anteriores de diálogo e mind games - mas nunca lhe disse e ele nunca soube. Não sei se feliz ou infelizmente. Nunca cheguei a ter a sua coleira porque me queria escondida e eu recusei. E porque eu já tinha a coleira dele - só que ele não entendeu.


Conheço muita gente que vê além do horizonte, do visível - mas não consegue vislumbrar o que está na palma da sua mão, quem está na sua palma da mão, porque está na palma da sua mão... E os desencontros dão-se - porque sim e porque não.


Nesta noite de Levante, sigo o caminho das pedrinhas...
rastejo para fora das recordações e aninho-me numa fantasia recorrente.

"Como não sei rezar, dou-lhe o meu olhar..." 
 Elis Regina

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