segunda-feira, agosto 25, 2008

A Merry-Go-Round!

("O Carrossel" (1916) é a obra prima do pintor britânco Mark Gertler. Considerada por muitos críticos a expressão artística inglesa mais importante da Primeira Guerra Mundial, esta pintura mostra homens e mulheres, militares e civis numa representação rígida, de modo a parecerem coloridos bonecos mecânicos.
Às voltas no carrossel, eles transportam consigo uma condição sinistra: as figuras boquiabertas parecem aprisionadas no brinquedo, num choro silencioso. Esta obra é considerada uma sátira aos horrores da Guerra – nesta época, as pessoas começavam a tomar consciência das atrocidades do período.)





PARTE I


Pois, é assim que sinto a minha vida nos últimos tempos...


Este deve ser o Verão mais estranho da minha existência!

Sei que todos andamos na vida como num carrossel, mas há limites; subimos e descemos no ar conforme quem carrega no botão deseja, mas podemos sempre sair, nem que seja de salto lá do alto. Mas depois dizem que foi suicidio, uma cobardia - shame on you...


A verdade é que ando num carrossel.

Acho que depois de se passar uma certa idade, as coisas jamais voltam a ser o que eram e às vezes até, ficamos algo insensíveis a tudo.

Como um boxeur - que de tanto dar e levar, nem sente que tem um traumatismo craniano e continua a lutar na arena, para o show continuar.


É, às vezes sinto-me um saco de porrada da Vida.

E nem sei se gosto ou se não gosto, já quase nem sinto.

Apenas a Injustiça e a Amoralidade de julgamentos me fazem desesperar.


Tenho flutuado de nuvem em nuvem, caido em vulcoes em erupção, levantado vôo e voltado a cair em poças de lama, há demasiado tempo!

E cansa - tanto k já nem sei se vale a pena.

Uns dizem que penso demais, outros que me entrego demais, outros que sou doida.

Há verdade em tudo isso, mas nao no que cada um sente na alma, por dentro, nas dobradiças do coraçao e nas frinchas do pensamento...


"Ninguém tem o direito de matar um homem, porque nao sabemos as imagens que estão no fundo dos seus olhos....!" li num livro há muitos anos, acho que é do Wallace, talvez "O Homem"...



PARTE II


Recentemente, eu, submissa sem hesitações ou dúvidas de qualquer espécie, numa festa privada e com consentimento do meu Dono, fiz uma mini-sessão de dominaçao (o D minusculo é propositado) a um SW que se ofereceu. Aparentemente sai-me bem e a plateia e o proprio ficaram de boca aberta pela minha capacidade de improviso e "garra" no momento certo, além de alguma "técnica" - perdoem a imodéstia...


Recentemente uma Amiga SW dizia a meu respeito: "Ela nunca vai admitir, mas é Domme ou SW, pelo menos...."


Engano!


Sempre defendi que nao é Dominador quem sabe usar as técnicas de Dominação, mas quem não pode evitar Dominar - uma necessidade - com entrega mútua.

No momento em que pratiquei o acto, por conhecer do Passado intimamente o dominado, foi-me extremamente fácil, como será a qualquer um. Mas isso nao faz de ninguém um Dominador, faz sim uma pessoa que tenta fazer bem tudo em que se mete e dar o litro para sair bem dos desafios... Ou seja, só mais uma pessoa igual às outras, mas com "skills" também a dominar alguem, ainda que sem entrega nem continuidade. A garra? Essa está em tudo o que faço, senao nem começo...


Mas até nisso, ate nesse momento, os actos deram mais uma volta no carrocel e eu fiquei atordoada, porque parece que tenho mais um rótulo que nao mereço.

Cada um sabe o que o leva a Dominar - eu sei porque sou submissa!

Porque necessito, nao porque goste de SM mais que outro ou porque sem ele nao vivo, mas porque preciso de quem me guie sem cair depois do carrocel parar, com as pernas trôpegas e a arfar, rosto corado...


Quando acabei a mini-sessão de dominaçao beijei avidamente o meu Dono nos lábios, sem ele me chamar sequer!


"A sabedoria de uma relação, de uma entrega, nao está no momento em que começa, mas sim como acaba...!" li noutro livro qualquer, ainda adolescente.



PARTE III


Relações!

Revi recentemente, como já disse aqui, o filme "The Rose", que acaba com a protagonista a dizer em palco "where are you going? where is everybody going?" e morre.

Relaçoes!

A coisa mais difícil do Mundo porque o Amor deixou de existir (pergunto-me como fazem os teens para escrever "amo-te" abreviado nos telemóveis) há muito tempo atrás, se é que alguma vez existiu.

Disse duas vezes ao meu Dono que o amava, a ultima recentemente, e ele mostrou-se surpreendido em silencio, quase chocado - nunca me devolveu a palavra e nao é preciso, basta dar o que tem se eu merecer!


Já ninguem fala em Amor e no BDSM parece ser um estigma de morte, uma escara no rosto, ou um eclipse para a vida toda.

Eu preciso de Amor e preciso de dar o meu Amor.

Há 2 anos, um Dominador ao tocar-me pela primeira vez, foi avisando: "nao me quero apaixonar!"

Para mim é tao obvio que toda a gente foge de amar como a chuva a escoar-se nos bueiros em dias de Outono; mas agora, sec. XXI, piorou, porque as pessoas parecem também nao querer ser amadas, mesmo sem contrapartidas.

Querem ter razão, ter dinheiro, carros e casas e submissos/as mas ninguem fala em Amor - como se fosse uma doença a evitar a todo o custo! Isso é pobre, e tao triste, que chego a chorar por quem se tornou insensivel a amar, seja em que contexto for...


Pois é - penso demais, dizem-me.

E eu respondo - alguém tem de pensar juntamente com sentir.

A capacidade de decidir é o que nos distingue dos animais, entre outras coisas.

Nao deixo de ser um animal, mas racional, porque o pensamento dá-me a obrigaçao de agir, e com ele vêm as contrapartidas e consequências.


Sempre amei com todas as forças e sempre gostei de ser amada, com todos os riscos.

Chorei mais na minha vida do que ri, mas voltava a fazer tudo (excepto uma coisa) da mesma maneira - eu chamo-lhe uma espécie de Humanismo, há quem ache fraqueza.

Mas no momento em que decido defender-me e ser igual aos outros - BANG! - sou doente mental e preciso de internamento...

Ninguem consegue agradar a toda a gente!

Mas pelo menos deixem-se amar!

Se nao conseguem dar-se, recebam, é quase tao importante como amar...




A vida é um carrossel e quem manda é quem manipula o botão da velocidade!...


8 comentários:

EuApenasEueNada+QueEu disse...

Fabulosa sumula de ode ao amor e à vida, onde não falta sequer a critica construtiva ao contemporaneo horror ao amor, como sentimento per si. Um aplauso de pé a quem ainda temcoragem de falar de coisas à séria em tempos de faz de conta.

Cumprimentos

Teddybarenaked

Exiona disse...

Não sei se pensas demais ou se te entregas demais, uma coisa tenho a certeza, preocupas-te demais com o que os outros pensam de ti, mesmo que esses outros façam parte dos filhos da puta que vão aparecendo ao longo da vida de cada um de nós.

Sorry o grau de dureza das palavras, mas já sabes que tenho falta de paciência para floreados.

naodigo disse...

Parte I

"É, às vezes sinto-me um saco de porrada da Vida.
E nem sei se gosto ou se não gosto, já quase nem sinto.
"
Chama-se inicio de depressão...
Simpaticamente falando, pensa menos sobre o passado e vive mais para o hj e o amanhã... não para daqui a uma semana ou mes!

PArte II

"Quando acabei a mini-sessão de dominaçao beijei avidamente o meu Dono nos lábios, sem ele me chamar sequer!"
Diria que mais nada há a dizer sobre esse episódio :).
fizeste algo, no fim sentiste-te bem... que mais há a dizer ou pensar?

Parte III
"Já ninguem fala em Amor e no BDSM parece ser um estigma de morte, uma escara no rosto, ou um eclipse para a vida toda.
"
gaja não sei com quem andas a falar, mas acredita que não são toda a gente...

Shortbow

JoaoDeAviz disse...

A vida é mais que um carrocel, é mais um caos contínuo onde umas vezes se esta de pé, equilibrado, e outras vezes não há mais nada a fazer do que deixar ir a espera de encontrar outro ponto de equilibrio, como no meio de uma corrente revolta se deixa ir a espera de encontrar um tronco onde agarrar.
Divertiu-me ver te fazer de dominador, e divertiu me ver correr para mim como uma criança que acabou de fazer uma maldade, sorridente a procura de protecçao, "coito" era como se dizia antigamente a jogar as escondidas, assim estavas tu.
Não vejo porque o amor nao pode existir. Certo que as vezes nem dele se lembra, com todas as vicissitudes da vida e das necessidades mais imediatas.
Que ele fosse expresso por ti do modo que foi, sim, surpreendeu, pelo tempo que demorou a ser dito aquilo que se sente vir da outra pessoa.

Foxy disse...

Subscrevo a Exiona.... dás muito valor ao que outros pensam, os amigos são a voz que por vezes nos traz à razão, as vozes que sobram não merecem ser ouvidas, são as que querem envenenar e piorar!

Se alguma vez te falhei ou a outro meu amigo é por não saber lidar muito bem com sentimentos ou por ter medo de mostrar. raras são as pessoas que me viram chorar, choro à noite na cama, sozinha sim choro muito.

bem, nem no meu casamento eu chorava foi preciso já ser fim do dia e estar ao fundo do salão...

Amo sempre, amo o homem com quem me casei, muito, e a coisa que mais queria era que ele me tomasse como sua serva.

Espero pelo dia que aconteça, até lá continuarei a amar da mesma maneira!

Não percamos a fé no amor, se faz parte de ti continua a amar!

Anónimo disse...

Este post é tão profundo e tão intenso que é difícil comentá-lo...
Penso que a Parte I é o desabafo emotivo de um acumular de sensações intensas - boas e más - e toda a estranheza que isso causa. Viver intensamente não é para todos... e é para ti, porque não sabes ser de outra forma. Se isso é uma benção ou maldição, cada um deve concluir, mas eu acho que devemos pensar que é sempre um privilégio, mesmo que também se sintam mais as partes más.
A Parte II é a defesa do instinto contra os clichés e aquilo que é, teoricamente, "by the book". Penso que não faz sentido algum impôr dogmas e regras rígidas em algo que deve ser tão espontâneo e tão pessoal. E mais absurdo ainda é catalogar alguém contra o seu instinto...
A Parte III é o elogio do amor, contra a racionalidade. Eu acredito em vários tipos de Amores, por diversas pessoas, em diversas relações muito diferentes umas das outras, e simultaneamente coexistentes. Já, pessoalmente, não acredito no "Amor da nossa vida", por uma só pessoa. Mesmo nos meus Amores, sou mais racional, mas há sempre sentimentos, há sempre emocionalidade. O que podem é não ser sujeitos a regras ou convenções sociais algumas. Talvez essas pessoas que se desencantaram do Amor, apenas precisem de pensar no conceito em diferentes perspectivas.
Um grande beijo, Amiga...
Y

Kronos & Marion disse...

Olá bondarina!
Parte I... lamento, mas não posso comentar... Parte II Concordo plenamente com o facto de sermos capazes de fazer bem coisas contra a nosso própria natureza. Chama-se aprumo e não paixão! e haveria mais para dizer...

Parte III
Esta mereceu tal como as outras toda a minha atenção, mas toucou-me especialmente. Sou namorada do Dono há 10 anos, vivemos juntos há 9 anos, somos casados há 4 anos! Nunca senti tanto o Seu amor, como quando decidimos assumir o nosso BDSM. Uso uma aliança na mão esquerda que todos os dia me recorda que não estou sozinha e que há um companheiro de viagem... tenho uma coleira virtual tão forte que a sinto física! Isto só é possivel com tempo, conhecimento, confiança, amizade, respeito e AMOR... Tenho medo dos tempos futuros, bondarina... infelizmente vivemos na era do descartavel e sim parece infame falar em amor... mas a luta não está perdida. Cada vez existem mais dificuldades financeiras apra todos, o valor da materialidade tem que perder força, por força das circunstâncias. Quando assim for os outros não têm nada... Nós temos o Amor dentro de nós e naqueles que nos rodeiam. Vamos ensina-lo, uma pessoa de cada vez, um beijo de cada vez, um abraço de cada vez.
marion

Anónimo disse...

Olá minha linda!

Finalmente, vou deixar um comentário no teu blog!!

A tua prosa continua-me a maravilhar e a fazer pensar.

Em relação à parte I, a única coisa que te posso dizer, é "Allawys look on the bright side off life". Não estarás a sobrevalorizar as coisas más? Não estás (e estás!) a negligenciar as coisas boas??
Sim, concordo quando dizes que a vida é um carrossel (não tenho como não concordar), plena de altos e baixos, mesmo quando não queremos, quando achamos que já não aguentamos mais, mas nós só levamos porrada constantemente se dermos a outra face... E para disfrutar a viagem, as vezes, basta que te deixes levar e deixes de lutar contra o maquinista :P

Em relação à parte II, não sei se tiveste uma mini sessão de dominação ou uma mini sessão de sado-masoquismo em que, ao contrário da regra, a sádica foste tu... Mas quem sou eu... Não se domina quem não quer ser dominado e só domina quem quer dominar. E dominar, não se restringe a manietar alguém fisicamente...

Parte III - O amor existe e está em todo o lado, só tens mesmo que estar atenta, olhar à tua volta. Ok, agora é mais "complicado" usar o termo "amor" porque tem um peso institucional quase tão grande como o casamento. Mas ele não se extinguiu e na sua essência, continua igual, só mudou foi mesmo a denominação (provavelmente, algo relacionado com os novos acordos ortográficos :P)
Mais importante do que ouvir dizer "amo-te", porque as palavras são vãs e frágeis por serem tão facilmente expelidas, é importante senti-lo...
E ao amor, é impossível fugir...

Sim, tenho que concordar contigo, a viagem que é esta vida, é efectivamente um carrocel. Mas a viagem ser boa ou má, depende quase que exclusivamente da forma como se vêm as coisas... É uma questão de perspectiva.

Beijos grandes
Angi