domingo, outubro 10, 2004

Quando é que vale a pena...?

...Nunca disse a ninguém que percebia muito de Bondage ou BDSM... Nunca passei a ideia de ter a certeza que os seres humanos se comportam inevitavelmente nesta ou naquela situação, sob determinadas condicionantes... Na verdade, acho que cada caso é um caso, mas na prática de BDSM esta premissa é ainda mais verdadeira!

“Hoje estou muito triste!
A tristeza instalou-se ontem, na verdade...
Sou uma submissa iniciada recentemente na prática da Bdsm. Não gosto de nada muito extremo, sou muito soft, e humilhação é a minha preferência! Uma mulher sózinha, e submissa, a navegar numa internet de gaviõe
s sedutores é sempre um atractivo, e eu não fugi à regra.
Entre muitas pretensões a Dominadores, há algum tempo reconheci numa multidão um DOM que se revelou ser o tal, no sentido de eu ter considerado a hipótese de se me sujeitar a ele em absoluto, em regime de exclusividade. De me deixar “encoleirar”, ganhar uma trela e um Dono... Esse é o objectivo de qualquer submisso neste reino de mandar e obedecer, mais cedo ou mais tarde.
Comigo é tudo mais tarde! Tenho uma passada curta no que toca a decisoes, e porque não gosto de me arrepender, hesito imenso. Aqui foi assim também.
No entanto, uma decisão mal tomada, no calor da circunstancia, acabou com o meu desejo de me sujeitar à coleira do meu tal Dono especial. Ele rejeitou-me por eu ter tomado uma atitude que nem o abrangia sequer. Não satisfeito, arrasou-me com tudo o que se lembrou, fez-me sentir coisas que ninguem tem o direito de fazer o outro sentir! E baniu-me, escorraçou-me, correu comigo.
Nunca chegou a saber a minha decisão quanto a usar a sua coleira... nem quis saber. No fim, desejou-me que tudo me corresse bem! Eu retribuí. Adeus!

E dói muito a não-verdade das conclusões que ele tirou. Dói mais que cem vergastadas nunca ter acreditado em mim, concluindo que afinal o andei a gozar... É uma chaga aberta saber que jamais me vai querer a servi-lo... Tenho vergões na alma por saber que não o vou voltar a ver.
Nunca lhe chamei o meu Dono, mas era assim que o recebia, que me entregava a ele, e que o sentia em cada festa depois da dôr. Sabia que podia contar com ele!
Quando a minha decisão foi mal tomada e deu lugar ao erro, ele não estava lá, eu estava sozinha, e tudo se encaixou como se tivesse de ser... E ele não me perdoa! Aceito mais uma vez, mas agora sem que ele me veja os olhos, me acaricie as costas, me dobre à sua frente!
Quando é que um Dom deixa de o ser?
Quando julga sem saber o que se passou, porque não viveu o que aconteceu? Quando a submissa o procura para lhe contar o sucedido, esperando a sua compreensão? Quando sai da vida da submissa no momento em que finalmente ela o confirma como Dono, ao pedir-lhe um ombro? Quando se esquece que uma submissa também erra? Quando se esquece de perdoar? Quando aplica a sentença como se de um bullwhip se tratasse? Quando se esquece de se imaginar na situação inversa?
E se a submissa o tivesse de desculpar? Se ele falhasse uma e outra vez, e ela o desculpasse sempre? Se ela pensasse nele apenas como um ser igual com mais poder? Se ela o quisesse perto, a dominá-la, por não conseguir estar longe dele?
Quando é que uma submissa deixa de o ser?
Como se apagam as coisas boas que sentimos e a unica má se enraíza como uma erva daninha?

Como se diz adeus a quem se quer perto?”



3 comentários:

naodigo disse...

sinto-te triste, sinto-te magoada... sinto-te zangada...
sinto-te como gostava de nunca te ver...
todos passamos testes na vida, e no que fazemos. invariávelmente erramos... quando erramos, as pessoas para quem erramos devem-nos o direito de nos ouvirem, e (no meu entender) quando o erro que fizemos foi feito de boa-fé e com boas intenções dar-nos a hipótese de corrigirmos o que fizemos de errado. muitas vezes é preciso força para perdoar.. aliás normalmente é preciso mais força para perdoar do que para castigar e condenar. aqui tu erraste, e alguem não teve a força para te perdoar, para te dar a hipótese de demonstrares que tavas arrependida...
nesta vida quer queiramos quer não, passamos por testes, alguns passamos outros não... neste caso eu diria que alguem falhou ao teste... não por ter errado, mas por não errar, ou melhor por não ter errado, nas regras, mas ter errado no que é mais importante.. em ser humano.. em não ter a força que deveria ter tido.... e que tu mereçias e tinhas direito

Anónimo disse...

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Tomo a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

Florbela Espanca

Porque este teu blog merece a nobreza desta escolha.

Nyingma

mulher-sub disse...

Lindooooooooooooooo!

Obrigada pela partilha.

Escreveste-o em 2004. Nessa altura eu nunca tinha ouvido falar de BDSM no entanto nasci primeiro...

Ainda hoje disse a um amigo algo muito semelhante a estas tuas palavras: "...Nunca disse a ninguém que percebia muito de Bondage ou BDSM..."

Gosto de ler-te.