segunda-feira, maio 22, 2006

A Imortalidade!


by Nawa


“(…)
No dia do seu trigésimo aniversário ela tinha alcançado uma insaciável autonomia. Quando foi para o quarto masturbar-se, estava tão cheia de si que parecia que nenhuma força exterior alguma vez a poderia voltar a influenciar. Mas, ao baixar a mão, para com ela cobrir a sua cona, o espaço que a rodeava foi pouco a pouco preenchido com uma luz dourada.
Fitou o fenómeno muda de espanto. Diante do colchão, uma cortina de agulhas de prata estremeceu e tomou forma até que um homem alto e nu, de pele verde e cabelo lilás, longo e encaracolado, apareceu, os seus olhos vermelhos atravessando os dela, o seu suculento caralho pulsando amavelmente. A sua surpresa era total, e ela não se moveu, mas continuou onde estava, de pernas afastadas, os seus seios preguiçosamente refastelados no seu peito, a sua b oca húmida e aberta, os seus dedos estendidos sobre a fenda entre as suas coxas.
- Muito bonito – disse ele.
Ela pestanejou. – Quem é você? – perguntou ela, as primeiras palavras que dizia a alguém em quase três anos.
Ele sorriu. – Têm-me dado muitos nomes, nem todos eles corteses. Fui conhecido como Zeus, como Jeová, como Baal, como Thor. Sou aquele que sou, e tudo isso, e tenho assumido milhares de formas. Mas a maior parte das pessoas, hoje em dia, refere-se a mim como DEUS.
- Deus? – murmurou ela – Mas eu pensava que Deus não existia.
- Muitas pessoas têm negado a minha existência – disse ele com uma entoação divertida – mesmo na minha cara. Faz parte da global preversidade dos seres humanos.
- Mas o que é que está aqui a fazer? – perguntou ela.
- Tu atraíste-me – respondeu-lhe ele. – Como a tua espécie cai cada vez mais no conformismo e na mediocridade, eu encontro cada vez menos ocasiões para visitar a Terra. De facto, venho tão poucas vezes que se diz que eu morri. Costumava ficar por cá muito, nos velhos tempos, quando havia algumas pessoas fantásticas no Globo. E tu és a primeira a acontecer desde há muito tempo, que possui essa espécie de qualidade.
- Mas que concebível interesse posso eu ter para si? – disse ela. Depois de ter aprendido a recusar a companhia de pessoas como algo de trivial, ela estava espantada que Deus procurasse exactamente isso.
- Porquê? Para te foder, naturalmente. – respondeu Deus, e riu-se com um enorme ruído de barítono. – Porque outra coisa haveria de ser?
Ela ergueu-se ligeiramente sobre um cotovelo. – Para foderes aquilo que criaste? Isso não faz sentido!
- Oh, eu não criei nada – disse Deus, baixando-se e sentando-se na borda do colchão. – Estou simplesmente aqui, como todos vocês. A única diferença é que vocês vêm e vão, e eu sou imortal. – coçou a cabeça. – É realmente muito estranho. Isto é, um dia acordei e simplesmente descobri que era Deus. Não me conseguia lembrar do que tinha acontecido antes de eu ter nascido, não sabia de onde tinha vindo, e soube que sempre haveria de ser. Tenho visto universos irem e virem, mundos nascerem e morrerem. Sou velho para além de toda a compreensão que possas ter e, no entanto, estou sempre fresco, sempre novo. Eu sou a síntese de todas as contradições. Eu…
Sorriu e novo e interrompeu-se. – Mas tu ouviste descrições minhas suficientemente bem feitas pelos teus próprios profetas e poetas. Não há por isso necessidade nenhuma de fazer um resumo.
Ela sentou-se. Mas se tudo isso é verdade, porque haverias tu de querer algo tão limitado como a foda?
Ele chegou-se para a frente e acariciou-lhe um dos seios. – Bem, para mim tudo é limitado. Para me divertir tive de fazer a minha escolha entre limitações. E da escala por que vejo as coisas, uma limitação não é diferente de qualquer outra. Por exemplo, acabo precisamente de chegar da observação de uma galáxia inteira a explodir, um acontecimento que tinha sido construído durante setenta e nove quatriliões de anos. Cobria um espaço que o teu pensamento não podia sequer começar a abranger. E aquilo foi interessante. Mas então interroguei-me sobre o que deveria fazer a seguir e pensei: <> Examinei cuidadosamente o planeta e fiquei desencorajado ao primeiro contacto. Não vi mais que uma superabundância desses sensualistas superficiais que me fazem enrugar o caralho. Ora, até os sexos reais estão à beira da alienação total. Mas, ao olhar uma segunda vez, vi-te. E aqui estou. Se bem que, de certo modo, uma vez que estou em toda a parte, tenho aqui estado sempre.
- E queres-me? – perguntou ela, que começava a ficar impressionada com a enormidade do personagem que estava diante de si. Pôs uma das mãos no cabelo e disse: - Devo ser alguma iguaria.
Ele riu-se de novo. – Esse teu regresso à futilidade é encantador, minha querida – disse ele – mas eu não teria vindo se tu não estivesses para além de julgar as coisas segundo os padrões da multidão. Não me interesso por ninguém até que esse alguém não tenha ultrapassado a ilusão dos padrões de grupo e não tenha talhado um caminho adequado através de todas as tediosas variações sobre o acto sexual público, incluindo aquele que requer fantasia para a sua realização. Quero uma alma que tenha seriamente lutado para quebrar os laços do entendimento comum e que possa apreciar o único.
Baixou a cabeça e olhou para o centro das coxas dela.
- Quando me foderes, poderás experimentar tudo o que sentes quando estás só. Tudo. E eu poderei inspirar esse estado com um tão terrível poder com o qual nunca poderias sequer sonhar com as tuas insignificantes faculdades humanas. Com o teu pensamento, podes compreender a estrutura do Universo; com o meu, poderás ver o coração do vazio onde toda a existência começa.
- E que ganhas tu com isso? – perguntou ela.
- Oh, uma ridicularia! – disse Deus. – Os meus gostos são simples.
Ela encostou os joelhos ao peito e pôs os braços à volta das canelas. – Não tenho a certeza de querer isso – disse-lhe ela – mesmo que sejas Deus. Trabalhei muito para chegar onde cheguei. Porque haveria de te dar a minha rata? Sou feliz com as dimensões que já conheço.
Ele franziu os lábios. – Posso mostrar-te que vale a pena – disse ele.
- Bem, como podes tu ser bom a foder? Tens ainda a forma de um homem. Essa coisa que tens aí entre as pernas não passa de um caralho como qualquer outro.
- Não reclamo qualquer aptidão especial – replicou ele – mas posso oferecer-te algo mais.
- Isso significa que me queres pagar? – perguntou ela.
- Posso oferecer-te o Céu – disse ele.
- O Céu! – exclamou ela – Queres dizer que também há realmente um céu?
- Oh! Não tem nada a ver com o que se diz na catequese. É um pouco mais chique do que isso. Mais parecido com um clube privado, para os meus amigos especiais. – Ela olhou-o desconfiada e mudou de posição.
- Tens realmente um belo cu – disse ele. E depois, com uma abrupta mudança de tom, continuou – Qualquer que tenha sido o Deus que me fez Deus, parece ter definido os meus poderes claramente. Não posso criar nada de novo, mas posso mudar a natureza do que já existe; posso fazer coisas com o que já cá está.
Ele esperou durante muito tempo, em silêncio, e depois, com um calmo murmúrio, disse: - Posso tornar-te imortal.
Ela abriu a boca de espanto – Imortal? – repetiu – Queres dizer… viver… para sempre?
- Exacto – disse ele com afectação. Chegou-se para ela, e as palavras saíram-lhe rapidamente: - A questão fundamental é que a Terra é, de todos os lugares criados, o único que possui a foda. E por isso, embora não se trate da actividade disponível mais espectacular, a sua raridade confere-lhe um certo valor. Garanti o benefício da vida eterna a vários milhares de outras pessoas no decurso da vossa história e, se aceitares a minha oferta, colocar-te-ei num planeta que partilharás com elas. Uma vez lá, podes ter a companhia dos maiores fodilhões que o Mundo alguma vez teve, ou toda a privacidade que desejares. E sempre que eu me encontre por perto, de vários em vários milhões de anos, mais ou menos, irei visitar-te.
- Então torno-me tua amante.
- Chama-lhe o que quiseres – disse ele. Ele olhou-a nos olhos, aguentando o olhar dela, e prosseguiu numa voz cheia de desânimo: - A alternativa, se recusares, é viveres o resto dos teus dias e morreres como qualquer pessoa, no túmulo. – A última palavra causou-lhe arrepios na espinha, e ele concluiu: - Que tens tu a perder em dizer sim? E que poderás ganhar em dizer não?
Ela esperou um bom bocado e respondeu: - A minha integridade. Uma puta é uma puta, mesmo quando é a puta de Deus. – E depois deixou sair o ar dos pulmões com um sonoro suspiro e acrescentou: - Isto é precisamente como a história da árvore que está no jardim. Onde está Satanás?
Deus riu-se – Não sabes? Também sou Satanás. Só que desta vez não me incomodei a separar papéis.
- Este é o único jogo que conheces? – perguntou ela, levemente decepcionada.
- Para a Humanidade é o único jogo que há - disse ele. – Se fores verdadeira contigo mesma, recusarás a foda e morrerás para sempre. Mas se fingires, obterás o paraíso como recompensa.
Ela deitou-se de novo para trás, e todo o seu ser estava cheio de indícios de que ia realizar o único sonho que tem assombrado a espécie desde que, pela primeira vez, tomou consciência da morte, a esperança da Imortalidade. Ela pesou o assunto, comparando-o com todos os outros valores terrenos que chegara a apreciar. As suas mãos acariciaram a barriga das pernas enquanto se debatia com o problema. E, sem estar completamente consciente do que estava a acontecer, mergulhou numa lassidão que era o prelúdio da capitulação.
O seu pensamento nadava preguiçosamente nos seus pensamentos. As simples palavras para sempre soavam à sua psique como um gongo. E, por fim, sucumbiu.
A tentação era demasiado forte, a oferta demasiado constrangedora.
- Está bem - disse ela – Ganhaste.
As suas coxas afastaram-se e o seu estômago distendeu-se quando respirou fundo. Podes foder-me – disse ela.
Deus avançou até ficar entre as suas pernas, diante daquela cona molhada, daquelas ancas que começavam a revolver-se. Mas, quando ele se aproximou, ela pôs as mãos nos ombros dele e deteve-o por um instante, olhando-o nos olhos.
- Ao menos não me faças ficar grávida – disse ela.
E depois enterrou dentro de si o enorme caralho de Deus, abrindo assim as portas para a vida eterna.”

in “As Comédias Eróticas”Marco Vassi

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