domingo, dezembro 05, 2004

Recentemente, tive uma experiência religiosa!
Há muito tempo que não entro numa igreja ou num local dito religioso, por nunca estar deserto o suficiente para expôr a alma à minha descoberta do Mundo e dos seus mistérios...
Uma espécie de solidão necessária ajuda-me a crescer, e o ar fresco e límpido dos locais de oração, transportam-me quase sempre numa nuvem de elevação a um outro estado de transcendência. Desde que essas condições se tornaram quase inexistentes nas igrejas, deixei de lá ir... mas, às vezes, muito poucas vezes, sou arrastada em ondas de uma qualquer coisa sem nome que me transportam no éter, até dentro de mim...
Recentemente, tive uma dessas experiências a que chamo religiosas!
Num jantar de praticantes de BDSM, entre conhecidos e menos conhecidos, amigos e mais amigos, dei comigo a sentir-me planar num claustro da Idade Média. Demorei duas semanas a degustar a sensação, porque as sensações se instalam devagarinho, embora não pareça...
E descobri então que rezar é um mistério da alma e às vezes somos rezados! Eu fui rezada nesse jantar, porque não procurei, fui encontrada...
Vinte pessoas conversavam entre elas, de copo na mão. Baixaram-se as luzes e gradualmente as almas ganharam espaço! Acenderam-se velas e o ar engrossou, adensou-se...
As pessoas juntaram-se aos cantos. E um Dom, uma submissa e um submisso quiseram ofertar as suas dádivas! O Dom derramou cera quente em silêncio e depois retirou-a a pancadas certeiras de chicote, não só dos seios da sua submissa como nas costas do agora iniciado submisso...
Seria mais um acto normal e esperado num jantar de praticantes de BDSM, se não se desse a transformação!
As pessoas baixaram gradualmente as vozes, as conversas morreram, alguns deslocaram-se em passinhos tímidos para o canto da sala, e as sombras das velas interagiam com o que cada um estava a sentir. Do meu canto, olhava a parede, com grandes e ameaçadores fantasmas negros a agitarem-se na entrega, e senti que todos estávamos em respeito, a absorver um momento de grande intensidade...
Pessoalmente, vi-me no homem do chicote e na submissa de seios descobertos, até no submisso de costas nuas, encorpado e estóico, dobrado sobre um sofá!
Mas a experiência religiosa começava no silêncio – eu era rezada, orada, naquele momento único de entrega geral.... e senti-me sugada por algo maior para o vórtice daquele turbilhão de sensações. Eu era olhos abertos, mãos crispadas, coração em sobressalto, e uma paz indescritível de quem não quer que acabe!
Rezei-me como pude, mas demorei a perceber.
Por vezes ser orada é o que há de mais parecido com um orgasmo, onde se cresce, vive e morre num segundo...


ML

1 comentário:

Anónimo disse...

As celebrações religiosas sempre foram momentos de procura dos maiores prazeres.
Quebradas pelas rotinas dão lugar a bacanais de lugares comuns e actos pró-curriculum.
Vividas interiormente são explosões de prazer, seja no silêncio sepulcral de uma Basilica ou na algaraviada de um canal de chat.