Eu sou uma puta submissa e é suposto falar na terceira pessoa ao falar com o meu Mestre.
Assim, esta puta submissa sente-se feliz pela entrega a esse Mestre e tudo faz para sentir o seu Mestre feliz.
Mas a puta submissa é uma pessoa também, como o Mestre da puta submissa o é igualmente.
E essa submissa desse Mestre anda a aprender a agradar-Lhe e como o satisfazer; fisicamente essa submissa sabe que, mais ou menos, conseguem ambos sentir-se realizados. Mas há uma nuvem no céu...
O Mestre dessa submissa não a tem em exclusividade, mesmo não a tendo encoleirado, e essa submissa sente-se insegura na dualidade das entregas; quer entregar-se com um sorriso e sem hesitar, mas partilhar esse Mestre com outras putas submissas, fá-la sentir-se menor, a receber apenas uns décimos de uma entrega que qualquer submissa deseja plena do seu Mestre, mesmo que se resigne e diga nao se importar.
Eu sou uma submissa que não representa as suas entregas, uma de cada vez, e mesmo sem estar encoleirada, não careço de procurar nada mais, pois o meu Mestre dá-me água suficiente para matar a sede. Mas às vezes a água sai aos borbotões e a minha sede estende-se por tempo prolongado e acaba por me fazer doer o corpo, a alma... Talvez por não ser uma jovem de 20 anos, deseje mais do que as jovens de 20 anos, mas sei que uma submissa deve receber o que lhe dão com humildade (que sempre tive) e não esperar nada. Mas sou uma submissa, uma mulher e uma pessoa, e as entregas fazem-se plenas e sem gavetas estanques, senão são meias entregas apenas.
Essa submissa que sou, sempre entendeu que só se honra o Mestre se nos dermos inteiras e, ainda que sem esperar mais logisticamente, tenho como ideal numa relação D/s um Mestre que se realize por inteiro comigo também...
Não é o caso aqui e essa submissa que sou nunca reclamou nem exigiu nada, sempre aceitou o que lhe era dado, mas isso não significa que a água em jorros entrecortados, apesar de me mitigar a sede, me dê paz para conseguir sorrir quando esse Mestre se dá a outras putas submissas.
Esse Mestre, que não posso chamar "meu Mestre" por ser Mestre de mais submissas, faz-me feliz quando se dá a mim sob forma de um ensinamento, uma carícia ou um castigo.
Esse Mestre faz-me feliz por o deixar fazer feliz, embora com a consciencia de que a seguir qualquer outra submissa o vai fazer feliz.
Esse Mestre faz-me crescer, mas a verdade é que nao me dá nada especial a mim, porque no fim entendo que dá o mesmo a qualquer outra submissa.
Estou feliz com o meu Mestre até se cansar de mim e descobrir que outra das suas submissas precisa da parte da entrega que Ele me dava então. Sei que vai acontecer, mais cedo ou mais tarde. E só por isso a água me mata a sede, mas não me faz dormir.
Não é um post triste este, nem de reclamação.
É um post a cumprir uma ordem desse Mestre que tenho por justo, dedicado, excelente Dominador e uma pessoa fantástica. Falo dessas entregas entre nós com a placidez de uma asa de libélua a roçar um lago no Verão. Mas até as libéluas se despenham às vezes... E as pessoas também. Só as submissas não, porque em definição são feitas para aguentar tudo e é assim que deve ser - resignação e abnegação, sem esperarem nada para si mesmas.
Essa submissa que sou eu não espera nada mais do que tem, mas deseja mais sim.
Honrar o seu Mestre tornando-o especial através da sua entrega - a coisa mais dificil do Mundo.
Não é legítimo uma submissa se querer sentir especial também?
Beijo os pés ao Mestre!