Não gostei particularmente do filme, confesso...
Não gostei por aí além do argumento nem tão pouco da realização... Considerei a interpretação irrepreensível, bem como a fotografia do filme e a banda sonora! No todo, um bom filme, mas não excepcional...
Quando relacionado com o pouco que conheço do universo do BDSM nacional, sou obrigada a concordar que poucos se identificarão – subs e/ou Doms – já que as personagens são apresentadas quase caricatamente, muito imperfeitas, muito à procura! Assim como o espectador, que não sabe bem o que procurar nas sombras das imagens (que aqui valem mais do que os diálogos minimalistas)... nos silêncios visuais que enchem o ecrã a espaços propositados.
Inseridos dois elementos fundamentais da prática do BDSM (sub e Dom) num cenário banalissímo do quotidiano, que resta dizer, que mensagem sobra? Cada um tirou a sua conclusão, mas a minha não se fica pelo aparente... e traz à boca de cena um terceiro parceiro subentendido - o switcher, o que troca de papeis e ora domina ora é dominado!
A minha leitura do filme é essa – quem domina e quem é dominado ali? A submissa Lee começa por ser a personificação da anulação até descobrir o que quer, enquanto o advogado Edward pensa saber o que tem até assumir o que é. Depois, o céu é o limite... Lee domina-o ao ponto de o fazer revelar-se, enquanto ele a solta ao ponto de ela o querer dominar conseguindo-o só para si pelo casamento. Magnífica inversão de papeis e fantástico volt-face num mundo onde todos parecem querer pôr tudo a preto e branco, como bom ou mau, sendo dominador ou dominado...
E com mais ou menos dôr, menos ou mais submissão, não é exactamente isso que se passa numa relação dita “baunilha”? Quem domina e quem é dominado? Porque é preciso haver quem mande e quem cumpra, sempre. Os propósitos são diferentes? Claro que são, mas não tão antagónicos... Afinal de contas, todos fazemos o melhor que sabemos... porque o espectáculo tem de continuar!
ML
"TODOS SÃO CAPAZES DE DOMINAR UMA DÔR, EXCEPTO QUEM A SENTE!" William Shakespeare
segunda-feira, dezembro 27, 2004
sábado, dezembro 25, 2004
"A Secretária"
Acabei de ver o filme "A Secretária"...
Lembrei-me de "Eduardo Mãos-de-Tesoura", "Beleza Americana", "Assasinos Natos" e "Laranja Mecânica" - em comum, os anti-heróis!
Ontem, véspera de Natal, ouvi em silêncio uma discussão entre dois amigos meus sobre a legitimidade de Viriato ser ou não um herói português, ou sequer herói...
Na verdade, tudo isto, em comum, tem apenas o conceito de anti-herói, apesar de todos eles apenas quererem ser, à sua maneira e como conseguem e lhes deixam, diferentes, lembrados, especiais... E não é disso que os heróis são feitos?
E no BDSM, tudo não se resume apenas a querer ser especial?
Senão vejamos... o Dominador quer ser visto como o tal pela submissa, esta por sua vez quer ser a tal para o Dominador, enquanto ambos querem ser heróis nem que por umas horas, uns dias, uma eternidade - numa fantasia de dádiva e cumplicidade exigentes!!!
Se não se trata de heroísmo, então de que trata o BDSM? De exageros punitivos com vista à dôr per si? Não me parece, ainda que haja quem o defenda, talvez com medo das verdadeiras razões de se expôr ao diferente, para muitos ao ridículo! Mesmo quem se acha completamente liberto, livre de rótulos e receptivo a julgamentos ditos sociais, muitas vezes apenas se engana a si mesmo.
Todos sabemos que as minorias se mantêm minorias enquanto ghettos fechados, a sobreviverem em redomas de secretismo e falsos rótulos, a auto-esconderem-se em definições que contornam os problemas; e aqui, por problemas leia-se enfrentar críticas e assumir atitudes...
Não é à toa que grande percentagem de Dominadores ditos "assumidos" só aparece de viva voz na esfera do bondage/sado-maso depois de os ditos terem as suas bases pessoais e familiares alicerçadas, por outras palavras - grande percentagem de Dominadores (e não só) são casados, pais de filhos, com um "estável" equilíbrio social e rendimento financeiro assegurados, antes de espreitarem da toca da segurança. Até lá, nem são heróis nem anti-heróis - apenas são gente... e nem sempre chega!
O que afirmo é polémico e controverso, mas não deixa de ser real. Do meu cantinho de submissa, vejo padrões, principalmente no que toca a Dominação (refiro-me principalmente à masculina, por ausência de dados efectivos quanto à feminina) - regra geral, os chamados "verdadeiros Doms" estão na faixa dos 35/50, casados, profissionalmente bem-estabelecidos, financeiramente garantidos e a usarem um qualquer disfarce que geralmente implica uma barba fácil de remover em caso de necessidade! A fuga é sempre possível...
Mas quando ser Dom ou submisso se torna uma "necessidade básica", aí nascem os verdadeiros heróis - porque não usam rede sob eles, a queda será sempre bem do alto. E pior do que isso, muitas vezes são os seus pares quem lhes tiram a rede de segurança, porque a competição com "genuínos" Dominadores e submissos nem sempre é leal. Flores de plástico e verdadeiras não são rigorosamente semelhantes, embora sejam possíveis boas imitações...
"Podes fugir, mas não te podes esconder!" é o mote!
Heróis e anti-heróis coexistem, mas nem todos queremos fugir...
No entretanto, ultrapassar os limites para atingir um equilíbrio é a única maneira de ser feliz! O espelho reflecte o brilho no olhar...
ML
Lembrei-me de "Eduardo Mãos-de-Tesoura", "Beleza Americana", "Assasinos Natos" e "Laranja Mecânica" - em comum, os anti-heróis!
Ontem, véspera de Natal, ouvi em silêncio uma discussão entre dois amigos meus sobre a legitimidade de Viriato ser ou não um herói português, ou sequer herói...
Na verdade, tudo isto, em comum, tem apenas o conceito de anti-herói, apesar de todos eles apenas quererem ser, à sua maneira e como conseguem e lhes deixam, diferentes, lembrados, especiais... E não é disso que os heróis são feitos?
E no BDSM, tudo não se resume apenas a querer ser especial?
Senão vejamos... o Dominador quer ser visto como o tal pela submissa, esta por sua vez quer ser a tal para o Dominador, enquanto ambos querem ser heróis nem que por umas horas, uns dias, uma eternidade - numa fantasia de dádiva e cumplicidade exigentes!!!
Se não se trata de heroísmo, então de que trata o BDSM? De exageros punitivos com vista à dôr per si? Não me parece, ainda que haja quem o defenda, talvez com medo das verdadeiras razões de se expôr ao diferente, para muitos ao ridículo! Mesmo quem se acha completamente liberto, livre de rótulos e receptivo a julgamentos ditos sociais, muitas vezes apenas se engana a si mesmo.
Todos sabemos que as minorias se mantêm minorias enquanto ghettos fechados, a sobreviverem em redomas de secretismo e falsos rótulos, a auto-esconderem-se em definições que contornam os problemas; e aqui, por problemas leia-se enfrentar críticas e assumir atitudes...
Não é à toa que grande percentagem de Dominadores ditos "assumidos" só aparece de viva voz na esfera do bondage/sado-maso depois de os ditos terem as suas bases pessoais e familiares alicerçadas, por outras palavras - grande percentagem de Dominadores (e não só) são casados, pais de filhos, com um "estável" equilíbrio social e rendimento financeiro assegurados, antes de espreitarem da toca da segurança. Até lá, nem são heróis nem anti-heróis - apenas são gente... e nem sempre chega!
O que afirmo é polémico e controverso, mas não deixa de ser real. Do meu cantinho de submissa, vejo padrões, principalmente no que toca a Dominação (refiro-me principalmente à masculina, por ausência de dados efectivos quanto à feminina) - regra geral, os chamados "verdadeiros Doms" estão na faixa dos 35/50, casados, profissionalmente bem-estabelecidos, financeiramente garantidos e a usarem um qualquer disfarce que geralmente implica uma barba fácil de remover em caso de necessidade! A fuga é sempre possível...
Mas quando ser Dom ou submisso se torna uma "necessidade básica", aí nascem os verdadeiros heróis - porque não usam rede sob eles, a queda será sempre bem do alto. E pior do que isso, muitas vezes são os seus pares quem lhes tiram a rede de segurança, porque a competição com "genuínos" Dominadores e submissos nem sempre é leal. Flores de plástico e verdadeiras não são rigorosamente semelhantes, embora sejam possíveis boas imitações...
"Podes fugir, mas não te podes esconder!" é o mote!
Heróis e anti-heróis coexistem, mas nem todos queremos fugir...
No entretanto, ultrapassar os limites para atingir um equilíbrio é a única maneira de ser feliz! O espelho reflecte o brilho no olhar...
ML
sexta-feira, dezembro 24, 2004
Natal é quando um Homem quiser!!!!
Sei que é uma frase batida, mas é verdadeira e merece alguma atenção....!
O melhor Natal possível para todos os que se dignam a ler o que escrevo e a tentar perceber o que sinto nesta efémera passagem pelo Mundo!
Saber que alguém se interessa pelo que outrem tem a dizer é uma forma de fazer o Natal em quem se quer dar. A entrega é total e diária e isso é uma forma de fazer qualquer dia da nossa vida mais feliz...
Na verdade, a entrega é o que faz de nós especiais, e foi exactamente o que acabei de fazer agora...
Dei um pouco mais de mim e espero que sorriam!!!!
Por mim, recebo sempre tudo o que posso!...
...Boas Festas...
ML
O melhor Natal possível para todos os que se dignam a ler o que escrevo e a tentar perceber o que sinto nesta efémera passagem pelo Mundo!
Saber que alguém se interessa pelo que outrem tem a dizer é uma forma de fazer o Natal em quem se quer dar. A entrega é total e diária e isso é uma forma de fazer qualquer dia da nossa vida mais feliz...
Na verdade, a entrega é o que faz de nós especiais, e foi exactamente o que acabei de fazer agora...
Dei um pouco mais de mim e espero que sorriam!!!!
Por mim, recebo sempre tudo o que posso!...
...Boas Festas...
ML
segunda-feira, dezembro 20, 2004
As mãos mais macias que já beijei!
Há meses que gostaria de ter escrito aqui o que agora vai nascer e crescer nas entrelinhas... Mas quando as coisas são importantes, muito importantes, corre-se o risco de ficar aquém, e assim sendo nem me arriscava a começar.
Neste momento tenho a certeza do que vou escrever porque é o que sinto, logo nem hesito...
Conheço as mãos mais macias do Mundo!
As tais que sulcavam estradas no meu traseiro e costas, eram seres vivos que depois me afagavam a cara para logo me castigarem com uma bofetada, se necessário... Macias como veludo, tão calmas como os olhos pequenos semicerrados, grandes como o que me davam – uma certa justiça!
O maior segredo do Mundo é o equilíbrio – dosear os opostos para que se toquem na linha do horizonte.
As mãos conseguem esse milagre, e estas mãos - as mais macias do Mundo - recriavam o horizonte nos meus olhos sempre que aplicavam a ternura e a recompensa, ou a fúria do castigo.
Há mãos que nunca se esquecem e estas deixaram marcas indeléveis, num toque suave de bebé recêm-nascido, num cheiro agradável de quem sente muito prazer em gerar vida através delas, passando ao outro a sensação de ser privilegiado.
Mãos gulosas, mãos ávidas de reter num momento breve as sensações que causavam, de o eternizar num movimento aparentemente inconsequente mas forte na sua raíz.
Estas mãos de que falo, abriram caminho numa selva de insensibilidade. Causaram sensações que foram únicas e encolheram-se na hora da despedida, com todo o direito de quem cumpriu um dever... Estas mãos reinventaram-me!
Venero essas mãos como entendidades vivas que me acolheram no altar da distinção. Faço-lhes reverência como se dependesse delas o meu futuro. Levo-as comigo para todo o lado, porque um toque é único e cabe no coração. Sinto-lhes a falta. Porque sim...
ML
Neste momento tenho a certeza do que vou escrever porque é o que sinto, logo nem hesito...
Conheço as mãos mais macias do Mundo!
As tais que sulcavam estradas no meu traseiro e costas, eram seres vivos que depois me afagavam a cara para logo me castigarem com uma bofetada, se necessário... Macias como veludo, tão calmas como os olhos pequenos semicerrados, grandes como o que me davam – uma certa justiça!
O maior segredo do Mundo é o equilíbrio – dosear os opostos para que se toquem na linha do horizonte.
As mãos conseguem esse milagre, e estas mãos - as mais macias do Mundo - recriavam o horizonte nos meus olhos sempre que aplicavam a ternura e a recompensa, ou a fúria do castigo.
Há mãos que nunca se esquecem e estas deixaram marcas indeléveis, num toque suave de bebé recêm-nascido, num cheiro agradável de quem sente muito prazer em gerar vida através delas, passando ao outro a sensação de ser privilegiado.
Mãos gulosas, mãos ávidas de reter num momento breve as sensações que causavam, de o eternizar num movimento aparentemente inconsequente mas forte na sua raíz.
Estas mãos de que falo, abriram caminho numa selva de insensibilidade. Causaram sensações que foram únicas e encolheram-se na hora da despedida, com todo o direito de quem cumpriu um dever... Estas mãos reinventaram-me!
Venero essas mãos como entendidades vivas que me acolheram no altar da distinção. Faço-lhes reverência como se dependesse delas o meu futuro. Levo-as comigo para todo o lado, porque um toque é único e cabe no coração. Sinto-lhes a falta. Porque sim...
ML
domingo, dezembro 12, 2004
Fotografia
A cor fugiu e deu lugar ao silêncio.
Penumbras e brancos refugiaram-se.
Gente encolheu-se com medo,
assustadas as pessoas...
O cheiro chegou e ficou.
Era cinzento.
Espalmado sobre o espelho,
qual negativo de uma fotografia...
impresso como o dia,
rasteiro, a crescer.
A manhã foi andando devagar,
subindo um rio sem caudal,
eterno e manso...
como telhados arrepiados por frios
de Outonos gélidos.
Paisagem de sonho.
Onde corações palpitam às lareiras,
onde sonhos se encavalitam nos olhos estreitados,
onde o fim começa sem princípio.
Olhamos e deixamos de ser.
Queremos e não temos.
Crescemos e morremos.
Entra-nos pelos olhos a vida
e não há nada a fazer.
Viver!!
ML
domingo, dezembro 05, 2004
Les Chansons de Bilitis
“(…)
Quando sentiu que já só a retinham em Mitilene dolorosas lembranças, Bilitis empreendeu uma segunda viagem, dirigiu-se a Chipre, ilha grega e fenícia como a própria Panfília, que deve ter-lhe recordado com frequência o aspecto da sua região natal. Foi ali que Bilitis, pela terceira vez, recomeçou a sua vida, e agora duma forma que me será mais difícil fazer admitir sem lembrar, mais uma vez, a que ponto o amor era coisa santa no seio dos povos da Antiguidade.
As cortesãs de Amatunte não eram, como são as nossas, criaturas em decadência, exiladas de toda a sociedade mundana; eram jovens provindas das melhores famílias da cidade. Afrodite fizera com que fossem belas, e elas, por seu turno, agradeciam à deusa, consagrando ao serviço do culto a sua beleza reconhecida. Todas as cidades, como as de Chipre, que possuíam um templo rico em cortesãs, tinham para com estas mulheres os mesmos cuidados respeitosos.
A incomparável história de Frineia, tal como Ateneu no-la transmitiu, poderá dar uma ideia dessa veneração. Não é verdade que Hipérides tenha precisado de a pôr nua, a fim de aplacar o Aerópago, e no entanto era grande o crime: ela fora culpada de assassínio. O orador apenas rasgou a parte de cima da túnica de Frineia, pondo-lhe à mostra os seios. E suplicou aos juízes “que não matassem a sacerdotisa e a inspirada de Afrodite”. Contrariamente às outras cortesãs, que saíam vestidas de cíclades transparentes através das quais se revelavam todos os pormenores dos seus corpos, Frineia tinha o costume de até o cabelo envolver num desses grandes vestidos pregueados de que as figurinhas de Tânagre conservaram a graça. Ninguém, não sendo os seus amigos, vira os seus braços ou os seus ombros, e nunca ela aparecia na piscina dos banhos públicos. Mas um dia deu-se uma coisa extraordinária. Era o dia dos festejos de Eleusis; vinte mil pessoas, vindas de todas as regiões da Grécia, encontravam-se reunidas na praia, quando a certa altura Frineia avançou para junto das ondas; despiu-se, desfez a cinta, retirando até a túnica interior, “desenrolou todos os cabelos e entrou no mar”. E nesta multidão estava Praxíteles, o qual, com base nessa deusa viva, desenhou a Afrodite de Cnido.”
"As Canções de Bilitis/ Bucólicas em Panfília"
Pierre Louÿs (1894)
Quando sentiu que já só a retinham em Mitilene dolorosas lembranças, Bilitis empreendeu uma segunda viagem, dirigiu-se a Chipre, ilha grega e fenícia como a própria Panfília, que deve ter-lhe recordado com frequência o aspecto da sua região natal. Foi ali que Bilitis, pela terceira vez, recomeçou a sua vida, e agora duma forma que me será mais difícil fazer admitir sem lembrar, mais uma vez, a que ponto o amor era coisa santa no seio dos povos da Antiguidade.
As cortesãs de Amatunte não eram, como são as nossas, criaturas em decadência, exiladas de toda a sociedade mundana; eram jovens provindas das melhores famílias da cidade. Afrodite fizera com que fossem belas, e elas, por seu turno, agradeciam à deusa, consagrando ao serviço do culto a sua beleza reconhecida. Todas as cidades, como as de Chipre, que possuíam um templo rico em cortesãs, tinham para com estas mulheres os mesmos cuidados respeitosos.
A incomparável história de Frineia, tal como Ateneu no-la transmitiu, poderá dar uma ideia dessa veneração. Não é verdade que Hipérides tenha precisado de a pôr nua, a fim de aplacar o Aerópago, e no entanto era grande o crime: ela fora culpada de assassínio. O orador apenas rasgou a parte de cima da túnica de Frineia, pondo-lhe à mostra os seios. E suplicou aos juízes “que não matassem a sacerdotisa e a inspirada de Afrodite”. Contrariamente às outras cortesãs, que saíam vestidas de cíclades transparentes através das quais se revelavam todos os pormenores dos seus corpos, Frineia tinha o costume de até o cabelo envolver num desses grandes vestidos pregueados de que as figurinhas de Tânagre conservaram a graça. Ninguém, não sendo os seus amigos, vira os seus braços ou os seus ombros, e nunca ela aparecia na piscina dos banhos públicos. Mas um dia deu-se uma coisa extraordinária. Era o dia dos festejos de Eleusis; vinte mil pessoas, vindas de todas as regiões da Grécia, encontravam-se reunidas na praia, quando a certa altura Frineia avançou para junto das ondas; despiu-se, desfez a cinta, retirando até a túnica interior, “desenrolou todos os cabelos e entrou no mar”. E nesta multidão estava Praxíteles, o qual, com base nessa deusa viva, desenhou a Afrodite de Cnido.”
"As Canções de Bilitis/ Bucólicas em Panfília"
Pierre Louÿs (1894)
Recentemente, tive uma experiência religiosa!
Há muito tempo que não entro numa igreja ou num local dito religioso, por nunca estar deserto o suficiente para expôr a alma à minha descoberta do Mundo e dos seus mistérios...
Uma espécie de solidão necessária ajuda-me a crescer, e o ar fresco e límpido dos locais de oração, transportam-me quase sempre numa nuvem de elevação a um outro estado de transcendência. Desde que essas condições se tornaram quase inexistentes nas igrejas, deixei de lá ir... mas, às vezes, muito poucas vezes, sou arrastada em ondas de uma qualquer coisa sem nome que me transportam no éter, até dentro de mim...
Recentemente, tive uma dessas experiências a que chamo religiosas!
Num jantar de praticantes de BDSM, entre conhecidos e menos conhecidos, amigos e mais amigos, dei comigo a sentir-me planar num claustro da Idade Média. Demorei duas semanas a degustar a sensação, porque as sensações se instalam devagarinho, embora não pareça...
E descobri então que rezar é um mistério da alma e às vezes somos rezados! Eu fui rezada nesse jantar, porque não procurei, fui encontrada...
Vinte pessoas conversavam entre elas, de copo na mão. Baixaram-se as luzes e gradualmente as almas ganharam espaço! Acenderam-se velas e o ar engrossou, adensou-se...
As pessoas juntaram-se aos cantos. E um Dom, uma submissa e um submisso quiseram ofertar as suas dádivas! O Dom derramou cera quente em silêncio e depois retirou-a a pancadas certeiras de chicote, não só dos seios da sua submissa como nas costas do agora iniciado submisso...
Seria mais um acto normal e esperado num jantar de praticantes de BDSM, se não se desse a transformação!
As pessoas baixaram gradualmente as vozes, as conversas morreram, alguns deslocaram-se em passinhos tímidos para o canto da sala, e as sombras das velas interagiam com o que cada um estava a sentir. Do meu canto, olhava a parede, com grandes e ameaçadores fantasmas negros a agitarem-se na entrega, e senti que todos estávamos em respeito, a absorver um momento de grande intensidade...
Pessoalmente, vi-me no homem do chicote e na submissa de seios descobertos, até no submisso de costas nuas, encorpado e estóico, dobrado sobre um sofá!
Mas a experiência religiosa começava no silêncio – eu era rezada, orada, naquele momento único de entrega geral.... e senti-me sugada por algo maior para o vórtice daquele turbilhão de sensações. Eu era olhos abertos, mãos crispadas, coração em sobressalto, e uma paz indescritível de quem não quer que acabe!
Rezei-me como pude, mas demorei a perceber.
Por vezes ser orada é o que há de mais parecido com um orgasmo, onde se cresce, vive e morre num segundo...
ML
Há muito tempo que não entro numa igreja ou num local dito religioso, por nunca estar deserto o suficiente para expôr a alma à minha descoberta do Mundo e dos seus mistérios...
Uma espécie de solidão necessária ajuda-me a crescer, e o ar fresco e límpido dos locais de oração, transportam-me quase sempre numa nuvem de elevação a um outro estado de transcendência. Desde que essas condições se tornaram quase inexistentes nas igrejas, deixei de lá ir... mas, às vezes, muito poucas vezes, sou arrastada em ondas de uma qualquer coisa sem nome que me transportam no éter, até dentro de mim...
Recentemente, tive uma dessas experiências a que chamo religiosas!
Num jantar de praticantes de BDSM, entre conhecidos e menos conhecidos, amigos e mais amigos, dei comigo a sentir-me planar num claustro da Idade Média. Demorei duas semanas a degustar a sensação, porque as sensações se instalam devagarinho, embora não pareça...
E descobri então que rezar é um mistério da alma e às vezes somos rezados! Eu fui rezada nesse jantar, porque não procurei, fui encontrada...
Vinte pessoas conversavam entre elas, de copo na mão. Baixaram-se as luzes e gradualmente as almas ganharam espaço! Acenderam-se velas e o ar engrossou, adensou-se...
As pessoas juntaram-se aos cantos. E um Dom, uma submissa e um submisso quiseram ofertar as suas dádivas! O Dom derramou cera quente em silêncio e depois retirou-a a pancadas certeiras de chicote, não só dos seios da sua submissa como nas costas do agora iniciado submisso...
Seria mais um acto normal e esperado num jantar de praticantes de BDSM, se não se desse a transformação!
As pessoas baixaram gradualmente as vozes, as conversas morreram, alguns deslocaram-se em passinhos tímidos para o canto da sala, e as sombras das velas interagiam com o que cada um estava a sentir. Do meu canto, olhava a parede, com grandes e ameaçadores fantasmas negros a agitarem-se na entrega, e senti que todos estávamos em respeito, a absorver um momento de grande intensidade...
Pessoalmente, vi-me no homem do chicote e na submissa de seios descobertos, até no submisso de costas nuas, encorpado e estóico, dobrado sobre um sofá!
Mas a experiência religiosa começava no silêncio – eu era rezada, orada, naquele momento único de entrega geral.... e senti-me sugada por algo maior para o vórtice daquele turbilhão de sensações. Eu era olhos abertos, mãos crispadas, coração em sobressalto, e uma paz indescritível de quem não quer que acabe!
Rezei-me como pude, mas demorei a perceber.
Por vezes ser orada é o que há de mais parecido com um orgasmo, onde se cresce, vive e morre num segundo...
ML
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