<< A austera liberdade que ela descobrira na masturbação eliminou todo o desejo de relações sexuais com outras pessoas. Estava livre numa estranha prisão, uma prisão onde lhe era permitido fazer, ou dizer, ou sentir tudo o que quisesse em qualquer altura que o impulso a movesse, mas sob uma condição: permanecer sozinha.
Que ela tinha andado a gravitar em torno deste estado durante toda a sua vida adulta era algo que podia ser visto somente em retrospectiva. Nos dez anos que se seguiram à perda da virgindade, aos dezassete anos, entrou numa promiscuidade de tal modo desmedida que parecia que ela nunca conseguiria obter o suficiente das pessoas. Era-lhe impossível lembrar-se de quantos homens, mulheres, crianças, animais e dildos tinham estado dentro dela, de quantos galões de esperma absorvera, de que perversas acções ela não experimentou ou proporcionou. Então, numa bela noite, enquanto estava deitada num tapete roubado, contorcendo-se diante de uma lareira crepitante, o seu corpo num mar revolto de sombras vermelhas, os seus dedos acariciando a sua cona, depois de horas de ser fodida, chicoteada, mijada, humilhada, uma qualquer corda delicada quebrou-se dentro de si, e ela abriu os olhos para se interrogar sobre o porque de estar ali a gastar tanta da sua energia naquilo que subitamente lhe veio a parecer um melodrama sem sentido. Com uma honestidade implacável ela separou a realidade das aparencias que a camulflaram e fez a si propria a única pergunta importante que tem alguma validade no eino do erotismo: porque envolver os outros, afinal de contas?
Isolou-se para meditar na resposta e chegou a uma conclusão surpreendente. "Os outros apenas proporcionam energia adicional para aumentar o âmbito e a intensidade do orgasmo" raciocinou ela "quer juntando o próprio acto de foder, quer observando, quer ainda fornecendo quantidades em momentos cruciais sob a forma de palmadas, carícias ou palavras". Ela aperecebeu-se de outras funções, tais como proporcionar companhia, apoio ou instrução, mas não considerava tal aspecto por dizer respeito a pessoas que ainda não tinham atingido qualquer autonomia de personalidade.
"O orgasmo é a experiência quinta-essencialmente privada" continuou ela "e a ideia de que devemos partilhá-lo com terceiros é a corrupção final do que resta da civilização. O único momento em que as pessoas deviam foder seria para fazer bebes. Tudo o resto é mera indulgência.">>
in "As Comédias Eróticas"
Marco Vassi (1981)
"Vou-me amar.
Quero e desejo e preciso
de mim neste momento
branco,
lavado pelas chuvas de Março.
Vou-me ter.
Até ao orgasmo mais meu,
quando cicio para mim
acaricio para mim
rebolo para mim,
até mais não poder.
Vou-me deixar ir.
Em cadência.
Ritmo desenfreado no fim
batida medrosa primeiro.
Gosto disso.
Vou-me amar mais.
Sou demente em mim
e aproveito o cheiro a chuva,
o gotejar nas vidraças,
o restolho das águas na rua.
Vou-me adorar mais e mais.
Até chorar.
Como da única vez -
num quarto barato de hotel,
numa cama manchada por lençóis cinzentos.
Até chorar.
Até sentir o vazio.
Até sentir perfurar o meu sexo
com as minhas mãos possuídas.
Até à vertigem. Branca. Palpável.
Até ao abismo. Perigoso. Atraente.
Até à maior felicidade...
Depois
nada foi como antes.
Nunca repeti, esqueci o caminho.
Entre amar e ser amada adormeci os sentidos.
Depois,
só lembrar,
só para mim,
impossível partilhar -
imperioso gostar.
Tenho pressa.
Vou-me amar!"
ML
"TODOS SÃO CAPAZES DE DOMINAR UMA DÔR, EXCEPTO QUEM A SENTE!" William Shakespeare
sábado, agosto 28, 2004
terça-feira, agosto 10, 2004
Sexo oral na Europa e na América...
“(…) Olhando para ela, não saberia dizer se estava excitada ou não. Mas a humidade em volta do seu tufo sedoso atraiçoa-a. Alastra e brilha entre as coxas e o cheiro a sexo sobrepõe-se lentamente ao perfume que ela usa. Acaricia a cabeça de J.T. e titila-me os testículos. Estende-se entre as minhas pernas, com o nariz percorre-me o pénis, esfregando-o depois nos meus pintelhos… o seu cabelo é negro-azulado, escorrido e brilhante… Não sei o que é que ensinam às mulheres no Oriente… talvez o broche seja ali negligenciado, mas Lótus deve ter tido uma genuína aprendizagem francesa. Passa suavemente a língua pelos pêlos que me cobrem os testículos. Lambe-me o pénis, com os lábios macios beija-me o ventre… as suas sobrancelhas oblíquas arqueiam-se quando abre a boca e se inclina para permitir que a cabeça de J.T. possa entrar… os olhos são duas fendas selvagens. Chupa-me, passa-me os braços pelos quadris, os testículos recebem o calor das mamas dela… Estico-me por cima dela… senta-se, com o pénis ainda na boca, ainda a chupá-lo, mas deito-a, rastejo em direcção à abertura do seu sexo.”
In “Opus Pistorum”
Henry Miller (1941)
“(…)O olho de Duncan saltara quando o rapaz foi atirado para a frente, entre os dois lugares dianteiros do carro. A extremidade aguçada da alavanca das mudanças tinha sido a primeira coisa que a amparara a sua queda. O braço direito de Garp, estendendo-se no espaço entre os dois bancos, chegara tarde demais; Duncan passou por debaixo do braço dele, ficando sem o olho direito e partindo três dados da mão direita no mecanismo do cinto de segurança do carro. As investigações concluíram que o Volvo não avançava a mais de vinte e cinco, no máximo trinta e cinco milhas por hora, mas o choque foi espantoso. O Buick de três toneladas não deslizou uma polegada com o choque do carro de Garp. Dentro do Volvo as duas crianças foram chocalhadas como ovos caídos da caixa e espalhados no saco das compras – no momento do impacto – e mesmo no interior do Buick a sacudidela foi de uma surpreendente ferocidade.
A cabeça de Helen foi atirada para a frente, falhando por pouco o volante, que acabou por lhe atingir a nuca. Muitos filhos de lutadores têm pescoços fortes e a verdade é que o de Helen não se partiu – apesar de ela ter sido forçada a usar um colete durante seis semanas e de as costas a incomodarem durante o resto da sua vida. A sua clavícula direita ficou fracturada, talvez com a pancada desferida pelo joelho de Michael Milton, que se erguera, e o nariz com um grande golpe (fora suturado com nove pontos) provocado pela fivela do cinto de Michael. A boca de Helen fechou-se com tal força que ela partiu dois dentes e precisou de levar dois pontos na língua. Ao princípio Helen pensou ter ficado com a língua completamente cortada, porque a sentia a nadar na boca, que estava cheia de sangue, mas a cabeça doía-lhe tanto que não se atrevia a abrir a boca, até ser obrigada a fazê-lo para respirar. Além disso, também não podia mexer o braço direito. Cuspiu aquilo que pensava ser a língua para a palma da mão esquerda, mas não era, claro. Eram três quartos do pénis de Michael Milton.”
In “O Estranho Mundo de Garp”
John Irving (1978)
In “Opus Pistorum”
Henry Miller (1941)
“(…)O olho de Duncan saltara quando o rapaz foi atirado para a frente, entre os dois lugares dianteiros do carro. A extremidade aguçada da alavanca das mudanças tinha sido a primeira coisa que a amparara a sua queda. O braço direito de Garp, estendendo-se no espaço entre os dois bancos, chegara tarde demais; Duncan passou por debaixo do braço dele, ficando sem o olho direito e partindo três dados da mão direita no mecanismo do cinto de segurança do carro. As investigações concluíram que o Volvo não avançava a mais de vinte e cinco, no máximo trinta e cinco milhas por hora, mas o choque foi espantoso. O Buick de três toneladas não deslizou uma polegada com o choque do carro de Garp. Dentro do Volvo as duas crianças foram chocalhadas como ovos caídos da caixa e espalhados no saco das compras – no momento do impacto – e mesmo no interior do Buick a sacudidela foi de uma surpreendente ferocidade.
A cabeça de Helen foi atirada para a frente, falhando por pouco o volante, que acabou por lhe atingir a nuca. Muitos filhos de lutadores têm pescoços fortes e a verdade é que o de Helen não se partiu – apesar de ela ter sido forçada a usar um colete durante seis semanas e de as costas a incomodarem durante o resto da sua vida. A sua clavícula direita ficou fracturada, talvez com a pancada desferida pelo joelho de Michael Milton, que se erguera, e o nariz com um grande golpe (fora suturado com nove pontos) provocado pela fivela do cinto de Michael. A boca de Helen fechou-se com tal força que ela partiu dois dentes e precisou de levar dois pontos na língua. Ao princípio Helen pensou ter ficado com a língua completamente cortada, porque a sentia a nadar na boca, que estava cheia de sangue, mas a cabeça doía-lhe tanto que não se atrevia a abrir a boca, até ser obrigada a fazê-lo para respirar. Além disso, também não podia mexer o braço direito. Cuspiu aquilo que pensava ser a língua para a palma da mão esquerda, mas não era, claro. Eram três quartos do pénis de Michael Milton.”
In “O Estranho Mundo de Garp”
John Irving (1978)
segunda-feira, agosto 09, 2004
Uma mulher pediu a palavra!
Ninguém admite, mas andamos todos a procurar conhecer-nos melhor…
Até morrer, o ser humano deseja mais que tudo saber quem é, o que faz, para onde vai, de onde vem, como fazer! Mas mais do que isso, todos queremos saber porquê. Um blogue só é conseguido quando é lido por alguém, mas é bem conseguido quando recebe feed-back, quando consegue estabelecer comunicação. Aconteceu aqui e faz-me sentir contente. Alguém que leu o meu despretensioso pensar sobre o livro “História d´O” e que se identifica com a prática de BDSM (Bondage, Dominação, Sado-Masoquismo), enviou-me um relato verídico de uma primeira sessão com um Dom (Dominador) que a cativou. Por o sentir verdadeiro, quero partilhá-lo. Por o saber honesto, julgo-o importante. E por talvez desmistificar um pouco o lado negro da BDSM, por falar de alguém que se quis conhecer para além do que julgava saber, e procurar as razões, talvez esse relato faça mais gente anónima querer saber melhor quem é e para onde vai…
“Vou tentar cumprir o prometido, como sempre faço....
Antes de nada, quero que saibas que confiei em ti desde a primeira vez que falamos, por isso o desfecho foi o que foi... A minha intuição é de confiança, e não sou a leviana que poderia sugerir o facto de ter feito algo "perigoso" como sugeriste e com razão; o tal "levar a sério" que sentiste em mim, foi o que senti em relação a ti. Querer descobrir-me e saber os meus limites dando prazer e sentindo prazer - é a minha quest, a minha busca do meu Graal. Acredito em emoções e sentimentos, daí a entrega...
A confiança total chegou quando disseste antes da sessão "faço isto para me divertir!"!!!! Aí senti definitivamente que podia confiar, porque essa sim foi uma exposição tua que revelou honestidade... embora outros pudessem encarar como muito pouco. Aparte isso, tentei não desiludir porque só tenho o que sinto para dar, não certo look ou comportamento extravagante...
Durante a tarde gostei do contexto, gostei de me poder entregar, mais até do que de me entregar (o que nem toda a gente entenderá) e fi-lo com imenso prazer porque eu merecia e tu merecias, claro. Julgava-me repugnada com imensas coisas que me fizeste, mas saber-me entendida deu-me vontade de querer mais. A mordaça, capuz, algemas, açoites, molas no sexo - eram conceitos e situações que me apavoravam, principalmente a dor física, mas descobri-me a apreciar uma nova sensação, a de impotência acalentada, do deixar-me ir, que me deixou soltar. Senti que fizeste tudo para cumprir o que tinhas dito e o que eu tinha pedido, isso desarmou-me e quis honrar o acto, tanto como me senti quase honrada por me teres escolhido.
No carro disseste-me masoquista e não me senti envergonhada, sintomático apenas de que a dor, para mim, julgo agora saber, é apenas mais um sentir que sempre senti, mas não fisicamente... Passei dois dias a entender como se pode racionalizar a dor consentida - não se pode! Ou está lá e é bem aceite porque de certo modo conforta, ou é banida por receio de nos dominar, e os meus medos não são esses...
Obviamente que todas estas situações têm de ser secretivas, mas tenho de admitir que me despedi de ti com vontade de gritar bem alto que me senti livre durante a tarde de sexta. Mas sou ponderada e tenho bom-senso, considero-me adulta e a respeitar os outros como gosto que me respeitem, espero que acredites nisso e em mim.
Estou apreensiva quanto a ver as fotos que tiraste, e coloquei a hipótese de não as querer ver, mas concluí que tenho de as ver; o planar sobre o corpo só prova que o corpo esteve lá, e sei que me vou sentir feliz por ter conseguido superar-me. Fisicamente, fiquei orgulhosamente marcada - gostava que entendesses que nunca senti que o meu corpo fosse importante, nunca lhe dei valor, mas aqui ele é que levou a mente pela mão até onde quis, e isso foi maravilhosamente novo e libertador.
Começo a repetir-me porque estou ainda cheia de uma boa sensação, de um estar-bem que dificilmente consigo sentir quanto mais manter. Embora consciente de que a surpresa nem sempre será a mesma, a minha entrega a ti é um facto consumado... e agradecido. Os jogos são fantásticos quando as regras são respeitadas, e tento sempre ganhar - aqui ganhei amor-próprio talvez.
Tecnicamente, se assim o posso chamar, excitou-me muito saber-me a tua mercê, saber-me a depender de ti, a ser recompensada e castigada com empenho, com a tua justiça. Excitou-me o desconhecido, o apreender as regras na pele, nunca te olhar... a humilhação de nunca me teres penetrado, de me teres provado que o meu prazer era a tua manipulação. Estava preocupada com o teu prazer, isso conseguiu roer-me um pouco, o meu cuidado contigo também - não te conheço suficientemente bem para saber se ou como manifestas o teu prazer, mas confiei que estivesses, de algum modo, a realizar-te. Imaginei-te sempre a olhar-me as mãos, que ali eram os olhos, e isso foi terrível e fantasticamente embaraçoso - não as poder controlar....
Não há mais nada para dizer - deixei-me ir na escrita, como naquela tarde... soltando-me, libertando-me com a tua ajuda, e foi muito bom....
Sei que entendes o que sinto e o que falo, por isso chega.... Silêncio!”
Até morrer, o ser humano deseja mais que tudo saber quem é, o que faz, para onde vai, de onde vem, como fazer! Mas mais do que isso, todos queremos saber porquê. Um blogue só é conseguido quando é lido por alguém, mas é bem conseguido quando recebe feed-back, quando consegue estabelecer comunicação. Aconteceu aqui e faz-me sentir contente. Alguém que leu o meu despretensioso pensar sobre o livro “História d´O” e que se identifica com a prática de BDSM (Bondage, Dominação, Sado-Masoquismo), enviou-me um relato verídico de uma primeira sessão com um Dom (Dominador) que a cativou. Por o sentir verdadeiro, quero partilhá-lo. Por o saber honesto, julgo-o importante. E por talvez desmistificar um pouco o lado negro da BDSM, por falar de alguém que se quis conhecer para além do que julgava saber, e procurar as razões, talvez esse relato faça mais gente anónima querer saber melhor quem é e para onde vai…
“Vou tentar cumprir o prometido, como sempre faço....
Antes de nada, quero que saibas que confiei em ti desde a primeira vez que falamos, por isso o desfecho foi o que foi... A minha intuição é de confiança, e não sou a leviana que poderia sugerir o facto de ter feito algo "perigoso" como sugeriste e com razão; o tal "levar a sério" que sentiste em mim, foi o que senti em relação a ti. Querer descobrir-me e saber os meus limites dando prazer e sentindo prazer - é a minha quest, a minha busca do meu Graal. Acredito em emoções e sentimentos, daí a entrega...
A confiança total chegou quando disseste antes da sessão "faço isto para me divertir!"!!!! Aí senti definitivamente que podia confiar, porque essa sim foi uma exposição tua que revelou honestidade... embora outros pudessem encarar como muito pouco. Aparte isso, tentei não desiludir porque só tenho o que sinto para dar, não certo look ou comportamento extravagante...
Durante a tarde gostei do contexto, gostei de me poder entregar, mais até do que de me entregar (o que nem toda a gente entenderá) e fi-lo com imenso prazer porque eu merecia e tu merecias, claro. Julgava-me repugnada com imensas coisas que me fizeste, mas saber-me entendida deu-me vontade de querer mais. A mordaça, capuz, algemas, açoites, molas no sexo - eram conceitos e situações que me apavoravam, principalmente a dor física, mas descobri-me a apreciar uma nova sensação, a de impotência acalentada, do deixar-me ir, que me deixou soltar. Senti que fizeste tudo para cumprir o que tinhas dito e o que eu tinha pedido, isso desarmou-me e quis honrar o acto, tanto como me senti quase honrada por me teres escolhido.
No carro disseste-me masoquista e não me senti envergonhada, sintomático apenas de que a dor, para mim, julgo agora saber, é apenas mais um sentir que sempre senti, mas não fisicamente... Passei dois dias a entender como se pode racionalizar a dor consentida - não se pode! Ou está lá e é bem aceite porque de certo modo conforta, ou é banida por receio de nos dominar, e os meus medos não são esses...
Obviamente que todas estas situações têm de ser secretivas, mas tenho de admitir que me despedi de ti com vontade de gritar bem alto que me senti livre durante a tarde de sexta. Mas sou ponderada e tenho bom-senso, considero-me adulta e a respeitar os outros como gosto que me respeitem, espero que acredites nisso e em mim.
Estou apreensiva quanto a ver as fotos que tiraste, e coloquei a hipótese de não as querer ver, mas concluí que tenho de as ver; o planar sobre o corpo só prova que o corpo esteve lá, e sei que me vou sentir feliz por ter conseguido superar-me. Fisicamente, fiquei orgulhosamente marcada - gostava que entendesses que nunca senti que o meu corpo fosse importante, nunca lhe dei valor, mas aqui ele é que levou a mente pela mão até onde quis, e isso foi maravilhosamente novo e libertador.
Começo a repetir-me porque estou ainda cheia de uma boa sensação, de um estar-bem que dificilmente consigo sentir quanto mais manter. Embora consciente de que a surpresa nem sempre será a mesma, a minha entrega a ti é um facto consumado... e agradecido. Os jogos são fantásticos quando as regras são respeitadas, e tento sempre ganhar - aqui ganhei amor-próprio talvez.
Tecnicamente, se assim o posso chamar, excitou-me muito saber-me a tua mercê, saber-me a depender de ti, a ser recompensada e castigada com empenho, com a tua justiça. Excitou-me o desconhecido, o apreender as regras na pele, nunca te olhar... a humilhação de nunca me teres penetrado, de me teres provado que o meu prazer era a tua manipulação. Estava preocupada com o teu prazer, isso conseguiu roer-me um pouco, o meu cuidado contigo também - não te conheço suficientemente bem para saber se ou como manifestas o teu prazer, mas confiei que estivesses, de algum modo, a realizar-te. Imaginei-te sempre a olhar-me as mãos, que ali eram os olhos, e isso foi terrível e fantasticamente embaraçoso - não as poder controlar....
Não há mais nada para dizer - deixei-me ir na escrita, como naquela tarde... soltando-me, libertando-me com a tua ajuda, e foi muito bom....
Sei que entendes o que sinto e o que falo, por isso chega.... Silêncio!”
terça-feira, agosto 03, 2004
O pensamento sexual
“(…) Era um pensar muito sereno, o género de pensar a que se devem ter entregado os homens do Paleolítico. As coisas não eram absurdas nem
explicáveis. Era um quebra-cabeças que podíamos empurrar com os dois pés, quando nos cansávamos. Aliás, podia-se afastar facilmente tudo, até os Himalaias. Era precisamente o tipo de pensar oposto ao de Maomet. Não conduzia absolutamente a nada e por consequência era agradável. O grande edifício que se podia construir ao longo de uma longa foda também podia ruir num abrir e fechar de olhos. O que contava era a foda e não o trabalho de construção. Era como viver na Arca durante o Dilúvio: havia de tudo à disposição, desde o mais complicado até à chave de parafusos. Para quê cometer assassínio, estupro ou incesto quando tudo quanto nos pediam era que matássemos tempo?
(…) Fechado assim, dias e noites a fio, comecei a compreender que pensar, quando não é masturbador, é lenitivo, curativo, agradável. O pensar que não nos leva a lado nenhum leva-nos a todo o lado; todo o outro pensar é feito sobre trilhos e por muito longo que seja o percurso no fim ergue-se sempre o depósito ou a rotunda de recolha. No fim há sempre uma lanterna vermelha que diz: PÁRE! Mas quando o pénis desata a pensar não há nenhum sinal de paragem nem nada que o impeça: é um feriado perpétuo, com isca fresca e o peixe sempre a mordiscar…”
in “Trópico de Capricórnio” – Henry Miller (1961)
Curiosa a analogia entre vários tipos de pensamento, principalmente o facto de o pénis adquirir essa espécie de consciência da presa a que Miller se refere. Se o nosso pensamento quotidiano é um pisar dos trilhos que se sabe sempre onde acabam, o do pénis engalfinhado atrás do sangue do coito é um pensamento verdadeiramente livre, embora condicionado pelo desejo. Na verdade, afinal de contas, são os objectivos que nos limitam todo o tipo de pensamento. Ao pensar, estamos pura e simplesmente a tentar alcançar uma meta, seja responder a uma questão, racionalizar uma ideia, explicar uma construção, não importa o quê… O pensamento do pénis segundo Henry Miller é, assim, o único verdadeiro, genuíno, inato, porque não se perde em devaneios nem desvios – solta a fera, só se detém perante a gruta do prazer, onde bebe de uma goteira de palavras soltas que compõem o prazer.
Nada mais importa, uma vez despoletado o que se poderá popularmente chamar de “pensamento sexual” – quando o pensamento passa a ser táctil, verbal, externo ao raciocínio, uma demonstração do próprio acto de pensar. Pulsa o pénis e a vagina como um coração, latejam as veias com o sangue quente, e o que era pensamento transforma-se no reflexo do pensamento – uma obra-de-arte… Como um quadro, uma esultura, um mural! Aberta a caça, o pénis segue o seu pensamento sexual até à raia da cópula e só ai estaca, ciente de que terá muito para dizer!!!
Gosto de pensar que todos nós somos filhos de um pensamento sexual, daí a luta de prazer e dor que o orgasmo implica – o momento maior em que se faz luz e uma centelha de algo superior à compreensão toma conta de nós. Embala-nos como crianças com medo… e é bom adormecer assim!
ML
explicáveis. Era um quebra-cabeças que podíamos empurrar com os dois pés, quando nos cansávamos. Aliás, podia-se afastar facilmente tudo, até os Himalaias. Era precisamente o tipo de pensar oposto ao de Maomet. Não conduzia absolutamente a nada e por consequência era agradável. O grande edifício que se podia construir ao longo de uma longa foda também podia ruir num abrir e fechar de olhos. O que contava era a foda e não o trabalho de construção. Era como viver na Arca durante o Dilúvio: havia de tudo à disposição, desde o mais complicado até à chave de parafusos. Para quê cometer assassínio, estupro ou incesto quando tudo quanto nos pediam era que matássemos tempo?
(…) Fechado assim, dias e noites a fio, comecei a compreender que pensar, quando não é masturbador, é lenitivo, curativo, agradável. O pensar que não nos leva a lado nenhum leva-nos a todo o lado; todo o outro pensar é feito sobre trilhos e por muito longo que seja o percurso no fim ergue-se sempre o depósito ou a rotunda de recolha. No fim há sempre uma lanterna vermelha que diz: PÁRE! Mas quando o pénis desata a pensar não há nenhum sinal de paragem nem nada que o impeça: é um feriado perpétuo, com isca fresca e o peixe sempre a mordiscar…”
in “Trópico de Capricórnio” – Henry Miller (1961)
Curiosa a analogia entre vários tipos de pensamento, principalmente o facto de o pénis adquirir essa espécie de consciência da presa a que Miller se refere. Se o nosso pensamento quotidiano é um pisar dos trilhos que se sabe sempre onde acabam, o do pénis engalfinhado atrás do sangue do coito é um pensamento verdadeiramente livre, embora condicionado pelo desejo. Na verdade, afinal de contas, são os objectivos que nos limitam todo o tipo de pensamento. Ao pensar, estamos pura e simplesmente a tentar alcançar uma meta, seja responder a uma questão, racionalizar uma ideia, explicar uma construção, não importa o quê… O pensamento do pénis segundo Henry Miller é, assim, o único verdadeiro, genuíno, inato, porque não se perde em devaneios nem desvios – solta a fera, só se detém perante a gruta do prazer, onde bebe de uma goteira de palavras soltas que compõem o prazer.
Nada mais importa, uma vez despoletado o que se poderá popularmente chamar de “pensamento sexual” – quando o pensamento passa a ser táctil, verbal, externo ao raciocínio, uma demonstração do próprio acto de pensar. Pulsa o pénis e a vagina como um coração, latejam as veias com o sangue quente, e o que era pensamento transforma-se no reflexo do pensamento – uma obra-de-arte… Como um quadro, uma esultura, um mural! Aberta a caça, o pénis segue o seu pensamento sexual até à raia da cópula e só ai estaca, ciente de que terá muito para dizer!!!
Gosto de pensar que todos nós somos filhos de um pensamento sexual, daí a luta de prazer e dor que o orgasmo implica – o momento maior em que se faz luz e uma centelha de algo superior à compreensão toma conta de nós. Embala-nos como crianças com medo… e é bom adormecer assim!
ML
segunda-feira, agosto 02, 2004
Para o amigo que me fugiu…
“- E agora conta-me porque estás triste.
- Porque até agora vivi num sonho e tenho medo de despertar…”
in “De Amor e de Sombra” - Isabel Allende
“(…)lançamo-nos ao trabalho de tirar esqueletos do armário e de os fazer dançar, como aconselhava Bernard Shaw. Digerir, o passado não se esquece, negoceia-se…”
in “O Sexo dos Anjos” – Júlio Machado Vaz
”Deves escolher um caminho para ti próprio!” – Kazuo Koike
Recebi um telefonema de alguém que eu gostaria que fosse meu amigo! Despedia-se, ia-se embora do meu mundo, na verdade sem nunca ter entrado… Balbuciou muitas explicações, fez muitos silêncios que sei magoados, mas disse que ia. Soube que não voltava!
Uma espécie de voluntário para uma guerra, para uma causa maior – como um cruzado atrás de um estandarte, que vai pelo apelo… Não tive tempo nem de perceber!! Amigo é isto – é ficar a acenar quando o outro parte, a aceitar sem saber o quê, é rezar para que o outro não fique pela tentativa…
Este amigo não tinha rosto porque nunca o vi, tinha voz porque o ouvi muitas horas, tinha vida porque ma contou, tinha tudo… A concessão de se mostrar Homem fez-me sentir especial, uma amiga, e retribui sem segunda intenção. Estava para ele como para o mar – a escutá-lo, e a sentir-lhe um cheiro que inventei… Queria-o feliz! Merecia que ele dissesse “Vou ser feliz assim!”, mas não disse…
O amigo que me fugiu procurou as minhas palavras e silêncios antes de a vida lhe ter feito mal, quando todo ele era uma certeza inabalável! Agora procura uma trincheira onde mais ninguém cabe… e eu ensaio um adeus que não tinha de ser. Já me faz falta e ainda nem partiu - ouço a voz ressoar nos ouvidos, sinto a gargalhada encostada à ombreira da porta. Estou orgulhosa dele. E nem sabia que o gostava…
“As palavras estão gastas. Adeus!“ – Eugénio de Andrade
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