"Daqui a umas horas vou fazer BDSM.
Quero e preciso e nem vou olhar para trás.
Fica feliz por mim!"
Disse-mo uma vez uma amiga submissa, numa decisão de momento.
E foi e fez e voltou - mais vazia do que antes.
E fiquei a pensar no que já sabia...
Que quando tantas vezes tanta gente se interroga sobre o que é uma submissa de alma - talvez seja isto.
Quando precisamos e nos entregamos sem bonds, sem laços nem nós, apenas pela trip de adrenalina que não dura tanto assim, ficamos muito mais vazias depois... drenadas do que deveria ser especial.
Portanto, a magia está em nós, é interior e metamorfósica - precisamos e queremos, mas não em cartuchos de pólvora seca. Será?
Que algumas submissas querem que doa mesmo, que seja mesmo bom, que seja mesmo especial, que seja eterno mas não apenas enquanto dure, porque este amor é feito de tempo mais do que de espaço...
Sim, amor - uma espécie de amor. O pior de todos, que dá sem retorno e sem certeza de devolução.
Como fazer quando a minha amiga e muitas outras/os de nós, que sabem o que não querem quando só lhes surge exactamente isso? É legítimo acreditar que ainda pode acontecer? Será que há Dominadores/as que querem o mesmo, além das fotos fantásticas e dos momentos bem passados "enquanto durar"? Tantas perguntas...
Tanta gente ávida de alguém que as ame no BDSM, que as ampare na Vida, que as faça sentir pertença de... sem esperança num Meio prêt-a....
Como se encontra um Dominador de alma - que, certamente, os há....?
Como se sabe o momento certo para desistir ou investir?
Como se sabe que os olhos brilham se se usa uma venda imposta?
Acho que apenas seguindo caminho e tendo sorte, muita sorte...
Não basta merecer. De todo - seja para Doms ou subs ou apenas gente sem BDSM.
O BDSM deveria ser a ponte que aproxima, mas nos dias de hoje, parece ser o fosso que dilata a distância, como num pesadelo - caminha-se e a estrada é cada vez mais estreita e infinita.
Porque o compromisso pesa? Porque uma coleira pesa? Porque segurar na trela pesa?
As almas vogam num limbo feito de sonhos e esperanças.
Todas.
Algumas recuam perante a luz.
Outras, como as traças, são atraídas e....
Também ninguém disse que seria fácil.
Ninguém avisou que há castigos sem recompensa.
Que há estradas sem fim.
Mas que há gente bonita que merecia ser feliz com a pesada dor da maravilhosa entrega, há.
Que tudo está subvertido, que ninguém sabe para onde vai nem porque está.
Mas alguns fingem muito bem!
(Para ti, submissa de alma, em qualquer lugar do País)