...VOU ESPERAR OS V.COMENTÁRIOS E COMENTO NO FIM...
"Fala-se muitas vezes, em Foruns, em conversas de amigos, numa questão que acho merecedora de alguma atenção: do “verdadeiro” BDSM.
Para muitos, o BDSM não pode passar sem que haja uma série de rituais e de parafernálias, mesmo um conjunto de vestimentas. Ou por um conjunto de “práticas”. Para esses, o que se faz em Portugal não é o verdadeiro BDSM, pelo menos de uma forma generalista. É frequente ouvi-los dizer “no estrangeiro é que é....” ou meramente olhar com sobranceria o que de modo geral por cá se faz em termos de festas ou de vivencias. Tendem geralmente a juntar-se em élites meio fechadas, ou fechadas mesmo. Mas isso é o verdadeiro BDSM? Essa é a pergunta que faço a mim próprio de cada vez que alguém fala nesses termos ou tem uma atitude relacionada.
Por mais que se queira, ao pensar no assunto, vai-se sempre ter de encontro ao inicio: ao São, Seguro e Concensual, tendo ou não a adenda do RACK, excelente para "beginners"(iniciantes) segundo os proprios "expert"(especialistas) internacionais. Faz/vive (por que há quem faça e há quem viva) verdadeiro BDSM quem respeita esses principios, pratique ou não as práticas mais convencionais dentro do BDSM, se é que se pode dizer que há práticas convencionais... Mas o que leva a que haja essa confusão?
O BDSM tem origens no pós 2ª Guerra Mundial, nas culturas anglo saxónicas, e as pessoas que o iniciaram, descobriram o meio de conseguirem “soltar” impulsos que tinha de reprimir até então, ou libertar de forma criminosa. Como? “negociando”. Pode parecer estranho, mas essa é de facto a base do BDSM, o poder viver uma forma de relação, em que elementos sádicos, masoquistas, de desejo de dominação/submissão erestricção poderima ser combinados com alguem que disso gostasse tambem, e que permitiria que isso acontecesse sem que houvesse abuso de parte de ninguem, e fosse feito dentro de um ambiente responsavel. O SSC é exactamente isso. A base, e o que define o que é e não é verdadeiro BDSM. Dominadore/as e submissa/os sempre existiram, e ao longo da História nao sao poucos os exemplos disso. Há mesmo culturas e grupos sociais que viveram e alguns vivem baseados nesse tipo de relaçao. Também se pode verificar historicamente a existencia de sado-masoquismo, sendo a cultura egipcia em que a flagelação era uma pratica comum, um dos muitos exemplos. Mas se a prática deste tipo de relação, foi iniciada nas culturas anglo saxónicas, o BDSM, teve necessariamente de ter uma forte componente de indole social associada. Os aspectos sociais, historicos e culturais, estão nitidamente patentes no contexto do BDSM que se pratica nesses paises.
Em Portugal tem de ser assim? Teremos nós portugueses de fazer BDSM como os ingleses, alemães etc fazem? Senti-lo do mesmo modo? Não.Irónicamente vem-me à abeça a ideia de dizer à minha submissa: on you kness! Quando o que quero dzer é "põe-te de joelhos". Soa um bocado a falso não é? Do mesmo modo vivenciar o BDSM ao modo estrangeiro tambem soa, e sabe.
O fenomeno da aculturação é universal, logo aprender com o que se faz noutras paragens e culturas é enriquecedor. Apreende-se uma série de informação e adapta-se às se deve necessidades e gostos. Mas negar o que temos? A nossa propria cultura, maneira de estar e de sentir bastante diferente?
Vejamos um exemplo: os jovens negros do bairro da Cova da Moura, que gingam como os jovens da mesma etnia no bairro de Harlem USA, usam a cultura americana de gang. Cumprimentam-se, falam como em Harlem. Onde esta a identidade cultural destes jovens? Nas suas origens culturais, vindas da Guiné, Angola, Cabo Verde e Portugal, através dos seus pais e meio circundante, ou através de um artificial processo cujo resultado é tão nocivo? Curiosamente não posso deixar de olhar esse processo articial, como o que se pretende através de fazer BDSM à maneira anglo saxónica. Seremos sempre morenos, artificialmente pintados de loiro...
Devemos estar abertos a novos conhecimentos, mas não deixar de ser criticos e selectivos, sob pena de passarmos a ser antes provincianos, e preservar a nossa identidade cultural. Adquirir conhecimento com o que se passa no mundo, quer em termos de BDSM quer gerais, é sinónimo de sede de conhecimento, de mente aberta e acaba por ser benéfico. Mas renegar a identidade própria debaixo da capa de "que lá fora é que é bom" não passa de uma forma de pouca capacidade de perceber a nossa própria identidade, ou de acreditar que não a temos, o que é pior ainda. Desvalorizar uma cultura como a nossa rica, em Dominação/submissão, é a mesma coisa que dizer que não se sabe quem é, ou não se aceita.
Não sou um nacionalista, mas acredito que o povo que começou com um tipo qualquer a prender a mãe para formar um país, em que se aboliu a escravatura, porque se acreditou na liberdade de escolha do individuo (embora alguns maliciosamente possam dizer que não era necessária, visto as diferenças sociais garantirem a submissão de uma classe por outra), demonstrando assim acreditar na liberdade de escolha, ou seja no consensual, em que ainda em meados do seculo passado a familia comum era uma familia onde os papeis de dominação submissão estavam bem definidos e eram reconhecidos pelo próprio estado, como se percebe pela necessidade de autorização do esposo caso a mulher quisesse trabalhar. Ainda hoje essa mesma familia tradicional existe em Portugal,e eu, como todos, conhecemos alguma assim.
Logo, renegar isso não faz sentido.
Alguns dos membros da Comunidade BDSM Portuguesa, viveram e foram educados nessa familia. Sabem do que eu estou a falar. Em Portugal era frequente um marido dar tareia de cinto a sua esposa. Seriam todas essas tareias, violencia domestica? Duvido. O prazer nesse tipo de actividades sempre existiu. Aquilo que a aprendizagem com o estrangeiro trouxe de bom, foi a separação entre abuso e consensual, e, não menos importante, a destruição da ideia que era errado, e anormal. Um fenomeno tão marcante, que ainda hoje pessoas que se referem ao "verdadeiro BDSM", como sendo exclusivamente o que se faz lá fora, se debatem com a ideia das parafilias e outros termos clinicos como forma de justificar comportamentos, como se fosse necessário expurgar alguma culpa. Mas "lá fora" hoje em dia a comunidade dos estudiosos em psicopatias e doenças de foro mental está a deixar esse conceito e a riscar o sado-masoquismo da lista de doenças do foro psiquiatrico. Somos enquanto pessoas pertencentes a um povo, pessoas com back ground cultural especifico e nunca o BDSM que fazemos sera comparado aos anglo saxonicos, frios e metódicos, contra a nossa propria natureza emotiva e passional. Mas isso não faz de nós menos capazes de nos controlarmos em situações necessárias como o BDSM. Por isso podemos ser sadicos ou masoquistas conforme conseguirmos, pois a noção de limites consegue ser respeitada.
Seremos sempre melhores em Dominação psicológica que a maioria dos estrangeiros, pelo menos temos mais aptidão para relacionamentos interpessoais e manipulação. Teremos sempre mais capacidade de fazer coisas originais pois está no sangue a capacidade de desenrascar, sempre associada à criatividade. Temos instrumentos que não lembra a mais ninguém usar. Alguém se lembra no estrangeiro de uma "picha de boi", de uma colher de pau como instrumento alternativo a um chicote ou paddle? Temos sim uma cultura e riqueza em D/s que urge não desperdiçar e sim incrementar.
Façam lá BDSM sem ter que falar ou pensar em Inglês...
De resto, sejam felizes (em portugues)!"
JoaoDeAviz in
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