quinta-feira, outubro 11, 2007

O outro lado da vida!



Em 1988, na Praia da Torre, na linha de Cascais, à noite, num mês qualquer, um jovem de vinte e poucos anos, tirava do bolso do blusão de cabedal, uma prenda para mim.


Também eu tinha pouco mais de vinte anos anos e cabelo comprido, ondulado, e ele cabelo encaracolado e tez morena - chamava-se Luís e era meu namorado; andámos juntos cinco meses e foi intenso mas tranquilo o que construímos na flor da idade...


Ele foi para Angola pouco tempo depois, para conseguir ganhar dinheiro, e ganhou... ficou lá uns anos, mas nunca perdemos o contacto apesar de eu ter saído da capital. Ele era uma pessoa decente e íntegra e nunca deixamos de ser grandes amigos.


Nestes anos todos, quando contactável, sempre nos demos parabéns e desejamos bom Natal e felicidades.


Há mês e meio telefonou-me sob falso pretexto e fiquei chocada - estava internado há meses com doença grave, mas optimista e a acreditar que tudo ia mudar... acreditei nele e dei-lhe força!


Ontem um amigo comum telefonou:"O nosso amigo já não está entre nós! Partiu...!"


Foi de madrugada e não sei mais detalhes.


Ando a remoer esta ideia de falsa imortalidade que todos temos há 24 horas e revi mentalmente tudo o que rimos e dissemos nesse tempo tão distante e tão vívido ainda...


E o que me recordo melhor foi da prenda que me deu, a olharmos o mar e a ouvir as vagas desmaiarem na areia - um chocolate Mars, o meu favorito.


Espero que ele esteja hoje perto do mar...


Eu estou, e mais pobre! Afinal ele telefonou-me apenas para se despedir...


Partiu de novo!





3 comentários:

Inês Ramos disse...

bMuito belo o gesto desse teu amigo... Despedir-se de ti com a mesma genuínidade k te deu o Mars...

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

(Álvaro de Campos - in Tabacaria)

Ás vezes imagino k tb tenho uma cena assim e ponho-me a magicar de kem é k eu me ia despedir... Se só tivesse mais um dia de vida o k é k keu keria fazer e com kem keria estar... Kem teria sido o homem / pessoa k mais me custaria dizer "bye bye" enfim, essas merdas... Dps ponho-me a pensar k n adianta planear essas cenas e o k importa é proteger o nosso círculo, familia e amigos... Eles é k importam.

Anónimo disse...

É triste a perda, nunca é possivel substituir, nunca há palavras nestas alturas...nunca sei o que dizer, tiveste duas perdas em pouco tempo...

Beijinhos e um abraço forte

Anónimo disse...

Duas perdas tão próximas na Tragi-comédia da Vida.
Duas realidades absolutas do que será nosso destino final.
E se algumas " perdas " podem ser substituidas, estas não o são nunca.
As palavras esmorecem e os sinónimos desaparecem. A boa intenção de confortar não chega.
Devem restar como homenagem póstuma e lição de Vida, as RECORDAÇÕES, nem que sejam de breves instantes de Alegria e Felicidade.
Um Beijo carinhoso e um ombro Amigo.
Ambos desejariam que continuasses a ser Feliz....por ti e por ELES.