Não gostei particularmente do filme, confesso...
Não gostei por aí além do argumento nem tão pouco da realização... Considerei a interpretação irrepreensível, bem como a fotografia do filme e a banda sonora! No todo, um bom filme, mas não excepcional...
Quando relacionado com o pouco que conheço do universo do BDSM nacional, sou obrigada a concordar que poucos se identificarão – subs e/ou Doms – já que as personagens são apresentadas quase caricatamente, muito imperfeitas, muito à procura! Assim como o espectador, que não sabe bem o que procurar nas sombras das imagens (que aqui valem mais do que os diálogos minimalistas)... nos silêncios visuais que enchem o ecrã a espaços propositados.
Inseridos dois elementos fundamentais da prática do BDSM (sub e Dom) num cenário banalissímo do quotidiano, que resta dizer, que mensagem sobra? Cada um tirou a sua conclusão, mas a minha não se fica pelo aparente... e traz à boca de cena um terceiro parceiro subentendido - o switcher, o que troca de papeis e ora domina ora é dominado!
A minha leitura do filme é essa – quem domina e quem é dominado ali? A submissa Lee começa por ser a personificação da anulação até descobrir o que quer, enquanto o advogado Edward pensa saber o que tem até assumir o que é. Depois, o céu é o limite... Lee domina-o ao ponto de o fazer revelar-se, enquanto ele a solta ao ponto de ela o querer dominar conseguindo-o só para si pelo casamento. Magnífica inversão de papeis e fantástico volt-face num mundo onde todos parecem querer pôr tudo a preto e branco, como bom ou mau, sendo dominador ou dominado...
E com mais ou menos dôr, menos ou mais submissão, não é exactamente isso que se passa numa relação dita “baunilha”? Quem domina e quem é dominado? Porque é preciso haver quem mande e quem cumpra, sempre. Os propósitos são diferentes? Claro que são, mas não tão antagónicos... Afinal de contas, todos fazemos o melhor que sabemos... porque o espectáculo tem de continuar!
ML
2 comentários:
Este filme é um marco para o debate cinematografico. Nunca vi tanta gente a falar sobre um filme e ficar sem saber bem como concluir a sua relaçao com ele.
Para mim, ele insere-se num restrito grupo de filmes que considero bons, nao pelo que são mas pelo que abre a quem os vê.
A secretária nao é um filme BDSM.
Tem de facto muitos elementos de Dominação/submisssão e podemos lá tentar ver uma tese sobre isso. Mas so tentar. Não me partece que de facto o autor consiga essa intenção (se a tinha, claro).
É tempo de se começar a distinguir entre a pratica BDSM e a prática de elementos que se praticam no BDSM.
No filme há uma história dinâmica de uma relaçao entre duas pessoas que vogam na procura de um relacionamento satisfatório que nao parecem nunca encontrar da forma mais conseguida para ambos.
É uma historia de vida normal sem cor de rosa.
Bela so pela presença de pessoas que se nao deixam vencer pela vida caindo em numa rotina.
Dai o nao ser um filme de uma relação baunilha.
E não haverá tantas realidades quantas as pessoas? Pessoalmente não acredito por aí além na generosidade. Normalmente quem dá, seja o que for, pretendo algo em troca - até que não seja a consciência tranquila. rebusco o passado e encontro uma jovem, nem bonita nem feia, que "ia" com qualquer homem (suponho que mulheres também, que estivesse interessado em servir-se dela. Interessei-me pelo caso e descobri que a opção se devia a um caso de abandono. Então ela, admitindo que não poderia ser feliz sem o homem que amava, decidiu fazer prenda do seu corpo, do seu sexo, do seu ser para, pelo menos por momentos, fazer os outros felizes. E também apanhava umas palmadas e embarcava em cenas mais perversas. Enfim, colocava-se ao dispor do outro, fosse ele quem fosse. Este terá sido, até hoje e em muitos anos de observação atenta, o caso mais real e profundamente verdadeiro de submissão sem cobrança. talvez a resposta resida noutro local, noutros factos. Ainda bem que, seja porque motivo for, há submissas. A vida dos Doms seria muito mais enfadonha e a malta não se divertia nada.
PS Não assinei o comentário na primeira parte. Se tivesse assinado, se calhar, teria ficado sem beijo.
PPS Estava a escrever isto e a ouvir o Big Mouth Strikes Again... Achei apropriado partilhar e tu sabes muito bem porquê, não sabes?
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