Acabei de ver o filme "A Secretária"...
Lembrei-me de "Eduardo Mãos-de-Tesoura", "Beleza Americana", "Assasinos Natos" e "Laranja Mecânica" - em comum, os anti-heróis!
Ontem, véspera de Natal, ouvi em silêncio uma discussão entre dois amigos meus sobre a legitimidade de Viriato ser ou não um herói português, ou sequer herói...
Na verdade, tudo isto, em comum, tem apenas o conceito de anti-herói, apesar de todos eles apenas quererem ser, à sua maneira e como conseguem e lhes deixam, diferentes, lembrados, especiais... E não é disso que os heróis são feitos?
E no BDSM, tudo não se resume apenas a querer ser especial?
Senão vejamos... o Dominador quer ser visto como o tal pela submissa, esta por sua vez quer ser a tal para o Dominador, enquanto ambos querem ser heróis nem que por umas horas, uns dias, uma eternidade - numa fantasia de dádiva e cumplicidade exigentes!!!
Se não se trata de heroísmo, então de que trata o BDSM? De exageros punitivos com vista à dôr per si? Não me parece, ainda que haja quem o defenda, talvez com medo das verdadeiras razões de se expôr ao diferente, para muitos ao ridículo! Mesmo quem se acha completamente liberto, livre de rótulos e receptivo a julgamentos ditos sociais, muitas vezes apenas se engana a si mesmo.
Todos sabemos que as minorias se mantêm minorias enquanto ghettos fechados, a sobreviverem em redomas de secretismo e falsos rótulos, a auto-esconderem-se em definições que contornam os problemas; e aqui, por problemas leia-se enfrentar críticas e assumir atitudes...
Não é à toa que grande percentagem de Dominadores ditos "assumidos" só aparece de viva voz na esfera do bondage/sado-maso depois de os ditos terem as suas bases pessoais e familiares alicerçadas, por outras palavras - grande percentagem de Dominadores (e não só) são casados, pais de filhos, com um "estável" equilíbrio social e rendimento financeiro assegurados, antes de espreitarem da toca da segurança. Até lá, nem são heróis nem anti-heróis - apenas são gente... e nem sempre chega!
O que afirmo é polémico e controverso, mas não deixa de ser real. Do meu cantinho de submissa, vejo padrões, principalmente no que toca a Dominação (refiro-me principalmente à masculina, por ausência de dados efectivos quanto à feminina) - regra geral, os chamados "verdadeiros Doms" estão na faixa dos 35/50, casados, profissionalmente bem-estabelecidos, financeiramente garantidos e a usarem um qualquer disfarce que geralmente implica uma barba fácil de remover em caso de necessidade! A fuga é sempre possível...
Mas quando ser Dom ou submisso se torna uma "necessidade básica", aí nascem os verdadeiros heróis - porque não usam rede sob eles, a queda será sempre bem do alto. E pior do que isso, muitas vezes são os seus pares quem lhes tiram a rede de segurança, porque a competição com "genuínos" Dominadores e submissos nem sempre é leal. Flores de plástico e verdadeiras não são rigorosamente semelhantes, embora sejam possíveis boas imitações...
"Podes fugir, mas não te podes esconder!" é o mote!
Heróis e anti-heróis coexistem, mas nem todos queremos fugir...
No entretanto, ultrapassar os limites para atingir um equilíbrio é a única maneira de ser feliz! O espelho reflecte o brilho no olhar...
ML
3 comentários:
Absolutamente brilhante... É mesmo assim, eu sei.
Mas que dirás das submissas (a maioria das quais não passa de candidatas a tal), frustadas por não conseguirem fidelizar um homem acabam por fazer tudo (literalmente) por uns momentos de atenção (mesmo que seja de um barbudo/casado/com filhos/e às escondidas).
Como não uso barba, estou confortável nesse somenos, embora preferisse uma sociedade de permitisse a poligamia e, por que não, a poliandria. Pessoalmente acho que as pessoas, passado algum tempo, se tornam chatas. São chatas. São pequeninas. E a variedade permite chegar à excelência.
Sexo e amor não tem rigorosamente nada a ver. Mas quantas são as submissas que arriscam a dor apenas e só para se sentirem amadas? Para sentirem que são a tal? Muitas não desejam mais do prazer, mas até na sua suposta servidão se desmascaram: são escravas de um só Dono. Tretas. Juram fidelidade na esperança de que o Dominador as conserve.
Mas não é fidelidade que procuro - é obediência. A escrava ou o escravo são apenas objectos de que me sirvo e por isso defendo que no processo de aprendizagem/ensino, uma das etapas passa exactamente por lhes mostrar (aos escravos) que não fazem nada que outros, no seu lugar, não consigam. E espero que me agradeçam sempre que os partilho com os amigos.
No BDSM não tem de existir amor, apenas confiança. Ambos têm desejos que querem satisfazer e mal estará quem estiver à espera da grande paixão.
Não digo que isso não possa acontecer (sei que pode), mas é apenas uma possibilidade que só acontece quando se está disponível para tal, quando a procuramos. A verdade é diferente por crua e não adianta procurar disfarces. Se o que buscamos é satisfazer os nossos desejos, alcançar o nosso prazer, então todos os caminhos são igualmente válidos, todos são da mesma forma, legítimos... ou então não.
A verdade é que o que dizes é também um outro lado da mesma realidade!
Mas não assinaste o texto...
Um beijo
ML
Herói e anti-Heroi... fui á enciclopédia, para ter a certeza do que estava a falar. e resumidamente o que diz é:
Herói: alguém que executa algo de extraordinário, para o bem de alguem ou vários alguns. é perfeito (ou será, quando a sua história for contada mais tarde) e segue sempre o caminho do bem ( como visto pela comunidade aonde está inserido)
Anti-Heroi: conceito recente, em que alguém tenta ser perfeito, tenta fazer o bem, a alguem ou um grupo de alguns mas que não é perfeito, tem problemas pessoais, ou os meios que utiliza não são os mais correctos, ou os seus objectivos principais são egoístas e self-centered, e que normalmente falham na totalidade dos seus objectivos, ou em que o resultado final, não é BEM o que planeavam:)))
exemplos deles encontram-se mais vulgarmente na literatura: Homem-aranha e a sua luta interior, Dare-devil, que á noite executa Vingança aos que fogem á justiça, hamlet que falha no fim, etc... resumidamente.. têm defeitos....
por estas definições, o anti-heroi, é muito mais humano e genuíno que o dito herói genuíno, enquanto que o herói, é talvez um anti-heroi que teve a sua historia contada muitas vezes, e de cada vez que foi contada foi "ajeitada e corrigida".
Falas de herois, e anti-herois, Doms, e subs Verdadeiros e Falsos. já por várias vezes fui acusado de procurar o consenso e de não assumir uma opinião... make a stand. Provavelmente vão-me acusar novamente disso agora... mas é a minha opinião... e talvez o meu lado submisso a querer entender todas as partes, e não sentir a necessidade de impor a minha opinião sobre a dos outros...
Então é assim... não existem heróis e anti-herois, verdadeiros e falsos... infelizmente existem sim, doms e subs com e sem sucesso. os que sabem jogar o "Jogo", os que não sabem e os que estão no meio termo.
ou melhor, há Verdadeiros Doms e Subs sim... mas esses tão no meio dos com sucesso e dos sem sucesso... os que passam uma vida inteira a tentar... ou os que passam uma vida inteira a sonhar, mas sem coragem ou oportunidade, ou que adiam para amanhã, o tentar.
como distinguir os verdadeiros dos falsos? primeiro há que conseguir definir o que são verdadeiros doms e subs... para mim é simples... na minha Opinião, são os que não conseguem resistir ao chamamento do BDSM... já tentaram mas voltam sempre... e não importa se esperaram/resistiram por ter uma vida estável ou não, se usam ou não barba. os verdadeiros são os que não conseguem resistir... e atenção... por serem Verdadeiros Doms ou Subs, não quer dizer que sejam bons no que fazem... á semelhança dos Anti-herois.. podem ter falhas... mas o desejo é puro! e é isso que os faz Verdadeiros
tenho dito;)
p.s. tb adorei a secretária... quando a vi ainda não tinha entrado no canal. no outro dia vi o filme novamente e consegui ver tantas novas subtilezas... o modo como ele a critica, mas ao mesmo tempo prova que repara nela... perfeito!!!
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