Há meses que gostaria de ter escrito aqui o que agora vai nascer e crescer nas entrelinhas... Mas quando as coisas são importantes, muito importantes, corre-se o risco de ficar aquém, e assim sendo nem me arriscava a começar.
Neste momento tenho a certeza do que vou escrever porque é o que sinto, logo nem hesito...
Conheço as mãos mais macias do Mundo!
As tais que sulcavam estradas no meu traseiro e costas, eram seres vivos que depois me afagavam a cara para logo me castigarem com uma bofetada, se necessário... Macias como veludo, tão calmas como os olhos pequenos semicerrados, grandes como o que me davam – uma certa justiça!
O maior segredo do Mundo é o equilíbrio – dosear os opostos para que se toquem na linha do horizonte.
As mãos conseguem esse milagre, e estas mãos - as mais macias do Mundo - recriavam o horizonte nos meus olhos sempre que aplicavam a ternura e a recompensa, ou a fúria do castigo.
Há mãos que nunca se esquecem e estas deixaram marcas indeléveis, num toque suave de bebé recêm-nascido, num cheiro agradável de quem sente muito prazer em gerar vida através delas, passando ao outro a sensação de ser privilegiado.
Mãos gulosas, mãos ávidas de reter num momento breve as sensações que causavam, de o eternizar num movimento aparentemente inconsequente mas forte na sua raíz.
Estas mãos de que falo, abriram caminho numa selva de insensibilidade. Causaram sensações que foram únicas e encolheram-se na hora da despedida, com todo o direito de quem cumpriu um dever... Estas mãos reinventaram-me!
Venero essas mãos como entendidades vivas que me acolheram no altar da distinção. Faço-lhes reverência como se dependesse delas o meu futuro. Levo-as comigo para todo o lado, porque um toque é único e cabe no coração. Sinto-lhes a falta. Porque sim...
ML
3 comentários:
Ir mais longe no "porque sim" seria, talvez, a parte mais interessante. Mesmo assim, julgo que a fixação pelas mãos deve ter uma explicação que, neste canto, e por antever curiosa, poderia partilhar...
Porque sim.
em certas coisas, infelizmente o mundo não para, e vai evoluindo, modificando e vamos "perdendo" coisas boas para (pensamos nós na altura) obter outras melhores. e depois vendo em retrospectiva, um dia, um mes, um ano passado olhamos para trás e sentimos falta do que tivemos e deixámos de ter.
é algo que infelizmente acontece sempre. eu sinto falta da sensação de segurança que sentia dos meus pais.
das conversas com aquela ou a aquela pessoa que entretanto me fui afastando por circunstancias da vida...
de certos aspectos de uma relação que tive, e acabou, mas que me deixou saudades em alguns dos seus aspectos.
viver é perder... e ganhar... o truque (para mim) é acarinhar o que tenho, e sugar-lhe tudo o que posso, e depois enquanto estiver vivo, de vez em quando volto ao meu album de emoções e recordações, e bebo novamente dessa alegria e satisfação. por vezes choro de saudades. por vezes fico triste, por vezes .... mas elas estão lá. e por mais que doam.. por mais que me custe eu estou vivo porque as tenho e as recordo! e amanhã é um novo dia, para ganhar mais recordações. pois afinal... que não é uma vida que recordações? de momentos passados, bem ou mal passados. de erros e decisões correctas. de alegrias e tristezas? um grande Jinho ML, e continua a recordar
Gostei também deste!
Sente-se cada palavra, cada frase. E sente-se de tal maneira que até parece que se vive ou que se viveu o que tu escreves.
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