quinta-feira, agosto 18, 2005

Submissas e Doms Descartáveis!

Por vezes surpreeendo-me com a receptividade dos meus leitores a este despretencioso blog!
Não raramente suregem comentários que me deixam a pensar! Por ser este o caso e por achar que há coments que merecem passar a posts, abro aqui a excepção que confirmará a regra sempre que o ache necessário, não desmerecendo qualquer um dos outros posts! Porque este tema é controverso mas muito constante, aqui seguem as respostas ao post "Como se Reconhece Uma Entrega?"...


TheVanilla:
«A linguagem é uma fonte de mal entendidos» - Saint Exupéry

«O Homem que vê mal vê sempre menos do que aquilo que há para ver; o Homem que ouve mal ouve sempre algo mais do que aquilo que há para ouvir» - Nietzsche

Na confusão do que sentimos, ouvimos e vemos contrabalançado com o que queremos (ou precisamos) sentir, ver e ouvir, que opções temos?Opto sempre pelo que sinto. A linguagem pode de facto ser uma fonte de mal entendidos, mas é-o especialmente porque poucas pessoas se esforçam por ouvir com o coração/alma. A alma... esta coisa que nos faz diferentes dos outros animais e que nos devia permitir reconhecer uma ENTREGA sem que fosse preciso uma palavra. Não deveria bastar para tanto os sinais de entrega, aqueles que mesmo que não se vejam se sentem? Porque é que quase nunca chega o que se diz sem palavras?! Porque é que nem depois de tentarmos dizer as palavras certas (quais serão as palavras certas????) parece chegar?!As pessoas são animais complicados. Pelo menos as que respiram com alma.«Muitas vezes, a alma parece-me apenas uma simples respiração do corpo» - Marguerite Yourcenar

vanderdecken3 :
Como se reconhece uma entrega? Não sei como se reconhece, mas reconhece-se. Acho que tens razão quando escreves que a entrega é interior mais do que exterior «esotérica» mais do que «exotérica», se quisermos exprimir-nos (o que até é apropriado) em termos espirituais.Que a entrega é facilmente reconhecível, e que é uma coisa interior, prova-o um fenómeno que não é de modo nenhum raro; o do escravo que «pune» o seu senhor e se assenhoreia dele cumprindo escrupulosamente todos os rituais da entrega, mas não se entregando de verdade. Qual é o senhor que não se apercebe disto e que não é afectado por isto? O escravo finge que finge a entrega para deixar bem claro que não se está a entregar; e o senhor sabe que está a ser punido porque pela sua parte também não se entregou.A entrega só não se reconhece por cegueira ; e entre senhor e escravo, ou estão ambos lúcidos, ou estão ambos cegos. Não há meio termo.

MissLibido:
Recentemente, soube de uma história que envolve um Dom e uma sub numa relação D/s de um ano de sessões esporádicas. O Dom sempre incentivou o lado SM da relação, a submissa sempre o acompanhou numa entrega total e, um ano volvido, ele desiste dela em prol duma submissa que aprecia hard SM. Apesar do secretismo da relação e do factor distância, era visivel a quantos conheciam o par a entrega da submissa em questão, que o Dom nunca questionou mas sempre reconheceu em teoria. Quando resolve escolher outra sub, sem qualquer bom motivo aparente, a sua primeira sub questiona-o, amargurada: "como vai fazer para me devolver a minha entrega?"Será legítimo um Dom fazer a sua sub avançar numa via por si escolhida e de repente "lançá-la as feras", apesar da entrega? Uma entrega devida e reconhecida não obriga a uma certa ética de dever?

vanderdecken3:
«Como vai fazer para me devolver a minha entrega?»Esta é uma pergunta terrível, que eu nunca ouvi e espero nunca ouvir na minha vida. É claro que a entrega da escrava obriga a uma ética do dever. Se não for um dever do Senhor para com a sua escrava - que por definição não tem direitos - é certamente um dever do Senhor para consigo mesmo.Eu, sinceramente, não sei o que faria na posição do dominante que tu referes. Ou encontrava uma maneira de devolver à minha submissa a sua entrega, ou, se não a encontrasse, não lha devolveria, e obrigaria a minha segunda submissa a aceitar a presença da primeira.O que me colocaria, se a segunda me obedecesse, perante um novo problema: pode um dominante ter duas submissas ao mesmo tempo?É claro que pode, dirão alguns. E até deve, dirão os mesmos : que melhor maneira haverá de deixar claro a uma escrava que ela é que pertence ao seu Senhor, e não ele a ela, do que obrigá-la a uma fidelidade à qual ele não está obrigado? Eu próprio cheguei uma vez a tentar adquirir uma escrava enquanto tinha outra. Não o consegui, e por isso não sei qual teria sido o resultado de ter duas escravas ao mesmo tempo.Hoje, que não tenho nenhuma, não estou para aí virado. Estou de novo à procura duma escrava, mas só de uma. Há alguma coisa em mim, que não sei muito bem o que é mas de que tenho muito a certeza, que se revolta contra a ideia dum harém.Acho que objectivamente o harém teria sido a melhor solução para o dominante que referes, e concebivelmente também para as duas submissas envolvidas; mas tudo depende dos afectos em jogo, e esses não sei quais são. Para mim, na fase a que cheguei, o harém seria uma solução emocionalmente impossível ; teria que escolher entre as duas submissas ; e, tendo que escolher, escolheria provavelmente aquela a quem não tivesse que devolver a entrega.


MissLibido:
O seu texto é contraditório: se por um lado diz k tem de haver sim uma ética do dever, por outro concluiu k escolheria aquela a quem não tivesse de devolver a entrega! Uma submissa descartável não deixa de ter alma, nem deixa de ser menos gente por isso... assim como facto de o Senhor a fazer descartável, por analogia faz dele também um Dom descartável! A ética do dever diz-me que se há respeito na entrega da submissa, espera-se dever no comportamento do Senhor, preparando-a antes para uma liberdade forçada. Por outro lado, quando um Dom escolhe uma submissa a quem não tenha de devolver a entrega, reduz a uma banalidade o conceito de D/s: não faltam relações sem entrega fora do BDSM, em que continuo a acreditar numa Verdade maior que não obrigue à representação. De facto, a primeira submissa foi preterida, mas a unica realidade constatada foi o facto de o seu Dom ter passado a ser mais um homem a precisar da Mentira para se afirmar no Mundo. E mais do que a perda dele, o sentir que ele não era especial e que foi ela que o fez especial dentro dela, merecia certamente um pouco mais de cuidado na hora da fuga... Onde não há entrega de ambas as partes há apenas uma longa masturbação sem orgasmo. Quem não sabe receber uma entrega nunca chega a Dominar, ilude-se apenas com momentos sem nome dos quais não terá de devolver a entrega...

8 comentários:

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

Tens toda a razão: a palavra «não» está a mais na última frase do meu comentário.
Queria dizer a submissa a quem tivesse de devolver a entrega - ou seja, a primeira, ou seja, aquela em relação à qual eu sentiria ter um dever para comigo próprio.
Ninguém é descartável. Uma separação é sempre uma amputação.

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

E também concordo contigo quando dizes que se a submissa é descartável, o dominante também o é. Só não concordo que isto seja assim por analogia. Muitas analogias entre Senhor e escrava parecem-me simetria a mais para uma relação cujo equilíbrio se faz na assimetria radical.
Eu diria antes que quando o João e a maria se afastam, a distância que se vai abrindo entre o João e a maria é exactamente igual à que se abre entre a maria e o João.
Qual dos dois é descartável? Que interessa, se já não estão juntos? Tu acreditas no Karma: se o João descarta a maria no mundo das aparências, então podes estar certa que no mundo da realidade a maria descartou o João. Não por analogia, mas pela contrapartida que o Universo exige para cada coisa.

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

Tão belo o teu texto, Anjo. E tão em carne viva.
Ninguém disse que nada disto era fácil. Entregar-se à vontade e ao domínio do outro deve ser uma das coisas mais difícil do mundo; e assumir a responsabilidade pela entrega do outro é igualmente difícil.

Por isso escrevi algures que as relações domínio-submissão são um jogo, mas não são uma brincadeira.
Trata-sedecorrer riscos enormes para recolher uma recompensa também ela enorme, mas incerta.

Tenho uma profunda admiração por quem joga este jogo sabendo o que está a fazer - quer na qualidade de Senhor ou dominante, quer na de escravo ou submisso.

Mas o que não tem limites é a minha admiração por aqueles que, tendo jogado e perdido, jogam outra vez...

Anónimo disse...

vanderdecken3,

por vezes voltar a tentar não é uma questão de escolhas ou coragem... há coisas de que não se consegue fugir...

um abraço
Shortbow

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

Shortbow:

Estava a pensar na autora dum blog, «Meg's Journey» (http://megwench.com/) que, depois de anos de inferno às mãos de um marido abusivo, soube entregar-se como escrava a um Senhor que a ajudou a libertar-se e a curar-se. É um caso em que não sei quem devo admirar mais, se o Senhor, se a escrava.

Um abraço também para si.

Anónimo disse...

eu diria os dois... ele por saber lhe dar a segurança e provavelmente carinho necessário, para ela voltar a ter confiança... e na coragem dela de voltar a confiar em alguem para se entregar dessa maneira...
mas mantenho o que disse... ela provalvelmente não teve opções... precisava de tentar:) se não, não imagino porque ela tenha entrado em tal situação...

p.s vou cuscar o link... obrigado

Shortbow

Miss Libido disse...

Et voilá!
A vida continua, e tanto baunilhas como praticantes de estilos de vida alternativos prosseguem a sobreviver! Com mais ou menos mentira, honestidade e certeza, mas sem parar o coração!
Pena que as pessoas percam tempo a fingir... porque no fim somos todos enterrados sozinhos num buraco escuro, ou aliviados do fardo do corpo numa pira funerária!
Foi bom, não foi...?!