“Neste momento, ergueu os olhos que conservava baixos para as papoilas e reparou que Sir Stephen fixava os seus lábios. Escutá-la-ia ou só estaria atento ao som da sua voz, ao movimento dos seus lábios? Calou-se bruscamente e o olhar de Sir Stephen subiu e cruzou o seu próprio olhar. O que leu nele desta vez era claro, e tão claro para ele o que ela tinha lido, que foi a sua vez de empalidecer. Se ele a amava, perdoá-la-ia por ter percebido? Ela não podia afastar os olhos, nem sorrir, nem falar.
Se ele a amava, o que teria mudado? Poderia ser ameaçada de morte que permanecia igualmente incapaz de um gesto, incapaz de fugir, os joelhos não lhe teriam obedecido. Sem dúvida, ele não quereria nada mais do que submissão, ou o seu desejo, que, desde o dia em que René a entregara, bastava para explicar que ele a reclamasse e a retivesse cada vez mais, algumas vezes só pela presença, sem nada lhe pedir.(...)
Sir Stephen começou por lembrar que, na primeira noite em que ela fora a sua casa, lhe dera uma ordem à qual não obedecera, e observou que, embora a houvesse esbofeteado, não renovara depois a ordem. Conceder-lhe-ia no futuro o que lhe tinha recusado? O compreendeu que era necessário não só aquiescer, mas que ele queria ouvir da sua boca, em termos apropriados, que sim, que ela se acariciaria todas as vezes que lhe pedisse. Ela disse-o, e tornou a ver o salão amarelo-cinza, a partida de René, a sua revolta da primeira noite, o fogo que brilhava entre os seus joelhos separados quando se deitara nua no tapete...”
In “História de O”
Pauline Réage
3 comentários:
tá decidido!!!! não passa de hoje que vou comprar o livro!!!:)))
missLibido, um ganda jinho
Amar é algo que se não transmite em actos ou palavras. É o simples sentir....
Se precisas de uma acto ou uma palavra então ainda o caminho não chegou ao seu fim.
Shortbow: Espero que ja tenhas lido... e gostado!
já o li sim, e adorei...
eu sei e concordo.. o amor não se transmite por palavras... mas acredito que se transmite por actos...
o olhar... o beijar... o apoio incondicional. o estar lá ao lado...
e mais importante ainda... o arriscar a amar... sentimento maravilhoso e libertador... mesmo quando não correspondido.. pode-se continuar a amar
um abraço
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