AOS PÉS DA CAMA
"- Hoje dormes aos pés da cama.
- Não, meu Senhor!
Sabes que te é proibida a palavra «não»; mas se há coisa que nunca foste, é burra, e sabes também que certas palavras proibidas, ditas num certo tom de voz, não costumam merecer castigo.
- Meu Senhor, não te servi bem hoje? Deixa-me dormir contigo. Continuar a servir-te... E meneias as ancas num gesto quase inconsciente. Eu, indulgente, sorrio: - E vais continuar a servir-me, não tenhas medo. Mas depois dormes aos pés da cama. Nada a fazer, concluis. Suspiras ostensivamente, fazes cara de amuo e começas a preparar a tua esteira.
Muitas mulheres atiram com as coisas quando estão zangadas, mas tu não: de cada vez que esboças um gesto mais brusco olhas para mim disfarçadamente, para ver como eu reajo. Eu finjo que não reparo, e isto põe-te ainda mais zangada. A esteira é de espuma de borracha e não tem mais que dois centímetros de espessura. Vais buscá-la ao armário, juntamente com um tapete que lá está justamente para estas ocasiões. Revestes a esteira com um lençol muito bem esticado, estende-la em cima do tapete, pões outro lençol por cima e um cobertor, porque és friorenta. Ao pôr o cobertor marcas mais os gestos e olhas para mim com um olhar de censura, como que a dizer-me «vês, vou ter frio por tua causa.»
Não demoraste muito. Dizes-me, num tom de voz que tenta ser brusco sem conseguir:- Pronto, já está. Agora, sim, mereces castigo. Saio do quarto em direcção à sala e ordeno:- Traz-me os charutos. E um whisky. Ouço-te arquejar atrás de mim como se te sentisses ultrajada com a ordem que te dei. Mas quando me sento no sofá e olho para ti vejo que tens a boca entreaberta, os lábios húmidos, as pálpebras pesadas, e que um rubor te cobre o rosto, o pescoço e os seios. Ultrajada não estás, como eu bem sabia. E a tua voz é meiga quando me respondes:- Sim, meu Senhor. Peste...
Serves-me o whisky de joelhos. Acendes-me um charuto. Vejo as tuas bochechas metidas para dentro quando o chupas com força, para acender bem. Enquanto eu fumo, bebo e leio tu vais-me beijando, e afagando com os seios, as partes do meu corpo onde as tuas carícias não me estorvam: os pés, os joelhos, as coxas.O whisky demora um quarto de hora a beber, o charuto quase uma hora a fumar. Só então pouso o livro. Só então ousas erguer-te um pouco para me beijares o sexo e chupares os mamilos. Eu, aos teus, aperto-tos com força. Gemes; e arquejas com muito mais sinceridade do que há bocado.
Quando te mando ir buscar a vergasta, obedeces sem uma hesitação, sem um protesto.Castigo-te pela secura daquele «pronto já está.» O castigo custa-te a aguentar. Dizes pela milésima vez, mais para ti própria do que para mim, que odeias a vergasta. Depois, na cama, enquanto eu te possuo e tu me serves, nenhum dos dois se consegue impedir de pensar que não vamos dormir nos braços um do outro. Talvez seja por isso que nos abraçamos com mais força. De manhã acordo com o meu pénis na tua boca. É o que tens ordem de fazer todas as manhãs, mas muitas vezes não fazes porque gostas mais de ficar a dormir.Arrumas de novo o tapete, a esteira, os lençóis.
Quando a empregada chegar não pode ver onde dormiste. Fantasio um pouco: deixávamos as coisas onde estão, a empregada via, toda a gente ficava a saber, nós assumíamos...Cruzo o olhar com o teu; e vejo que estás a fantasiar o mesmo."
in http://www.omarkhayyam.blogspot.com/
por Vanderdecken - Junho 2007
3 comentários:
Mais um grande conto publicado pelo nosso querido Vanderdecken...
Agora aguardo por um dos teus...
Beijos
Eu aguardo a conclusão da dança dos cubos de gelo.
Mereciamos ler um conto com as tuas capacidades linguisticas e descritivas.
Beijo
MS
MestreSade - tenho pena que se esconda num conto que não é meu... :)
Quanto à conclusão da minha fantasia, desafio-o a ajudar-me a testa-la antes de a escrever. Que me diz? ;)
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