Tenho uma varanda e estou a olhar o mar, sob um sol escaldante de Setembro. É o fim do Verão e o fim de parte da minha vida. Todos os dias se morre um bocadinho mais. Todos os dias temos um bocadinho mais de medo. Todos os dias enlouquecemos uma e outra vez.
Há semanas que faço luto.
Por uns e por outros! Por mim...
De vez em quando arrancam-nos à força um pedaço de nós; outras vezes somos nós que o damos sem retorno. Vezes demais somos apenas o que os outros querem que sejamos.
Chamam-nos importantes e acreditamos. Chamam-nos grandes e especiais e indispensáveis; usam expressões como "para sempre" e um dia acordamos a acreditar que o somos. Depois queremos mais, e quem nos fez foge, e quem nos teve dispensa-nos e surge o Amigo e a Amizade. Tudo em nome de um Adeus menor.
Sou gente. Com o coração do lado esquerdo. Falho porque dou tudo e quero mais. Falho porque sinto tudo demais e sofro demais. Ou tudo ou nada! Gosto de pensar que sou honesta, embora a palavra tenha laivos de paleolítico nos dias que correm. Mas sei que o sou! Faço amigos para sempre e nunca lhes viro as costas; raramente hasteio a bandeira do "sou teu Amigo", no entanto. Quem me gosta não foge de mim, e eu não preciso de lhe lembrar.
Hoje estou de luto por amigos que foram e não vão voltar, e não sei quando partiram porque não se despediram. Qaundo viajo mando postais aos amigos e trago-lhes um souvenir; fico em pulgas para partilhar as descobertas; desejo muito voltar a casa e sentir o carinho de quem me conhece a olhar-me nos olhos
Estou de luto!
A alma mirrada.
Os olhos tristes.
As mãos vazias.
As palavras ocas que não fazem festas na cabeça...
Há sentimentos que não se descrevem com palavras.
Há coleiras de cão que se transformam em cadeados em volta do coração, no lado esquerdo da gente...
Há pessoas de quem nunca se recupera.
O único homem a quem eu beijava as mãos. Como se fosse Rei. Ou meu Dono. Para sempre! Na imortalidade de um amor maior!
Meu!
"...Como não sei rezar só queria mostrar o meu olhar..."