"A sexualidade humana é uma sexualidade errante: incerta quanto à sua origem, indefinidamente disponível quanto ao seu objecto, o seu único fim, a procura do prazer especifica a pulsão sexual. Noutros termos (mais prosaicos): no domínio da sexualidade todos os meios são bons para se alcançar o prazer, mesmo os piores. Este vagabundear da sexualidade é o mesmo que o da subjectividade, aberta a todos os possíveis.
O célebre aforismo de Freud, segundo o qual "o sonho é a realização de um desejo", mergulha-nos no âmago da subjectividade. Com efeito, que há de mais subjectivo que um sonho?
A linguagem corrente opõe sonho e realidade: diz-se até de uma pessoa que ela toma os seus desejos pela realidade, etc. Assim, desejo e sonho estão do mesmo lado, o não real, em oposição à realidade objectiva: o senso comum e a psicanálise estão de acordo quanto ao carácter eminentemente subjectivo do desejo.
Se o estudo da psicanálise concede ao desejo uma dignidade e uma realidade muito particulares, o senso comum deixa transparecer uma nota pejorativa, rica de ensinamentos. O desejo: é o sonho, o impossível, a origem de miragens, e tem por função o logro, etc. Tomar os seus desejos pela realidade é o cúmulo da inconsequência, da ingenuidade; é mesmo loucura. Temos assim tres vizinhos: o desejo, o sonho e a loucura.
Uma espécie de intuição leva-nos a considerá-los como constituídos por um elemento comum, caracterizado pela sua imaterialidade, pela sua irrealidade, embora existam segundo uma outra realidade. (...) "
"Para Uma Sociedade Erótica" (1972)
Bernard Muldworf
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