Sempre achei que o BDSM permitisse uma libertação, mais do que liberdade, dos sentidos e das vontades, das fantasias e dos fetiches!!! Deduzia então que para tal, uma certa pequenez de mente e de espírito, de tacanhez, de preconceito e de, principalmente, medo... fosse ultrapassados. Tendo em conta que entre quem manda e quem é mandado, são os ultimos quem mais se sujeita à moralidade maior dos "mandadores", cria-se então uma espécie de código de honra que de repente parece ser lei! Ninguém sabe ao certo de onde surge, mas lentamente vão surgindo os "10 Mandamentos" do BDSM, bebendo no entanto alguns ditames não só de algum (nem sempre suficiente) bom-senso, como de lugares-comuns que vão sendo adoptados por necessidade de directrizes. Mas nem sempre as boas intenções bastam...
Sou submissa e acredito nesta minha afinidade com o mundo da libertação dos sentidos, através de maior ou menor erotismo, maior ou menor expansão dos limites da dôr... No entanto, cada vez mais, julgo que a palavra "ombridade" deveria ser o 11º Mandamento - se tal é concebível - pela inerência do seu significado.
Torna-se extremamente difícil confiar em Dominadores sem ombridade, como em qualquer pessoa despojado desse sentimento maior. O limite entre o que se quer, o que se tem, e o que se teve, deveria ser traçado sem pudor - apenas porque regras são precisas, e as do bom-senso são imperiosas! Qualquer "jogo" necessita de parâmetros e os que implicam a entrega (muitas vezes incondicional)de um ser humano a outro, obriga a limites, também, daqueles que recebem a entrega, tantas vezes com leviandade, demasiadas vezes sem qualquer espécie de pudor pela obrigatoriedade em respeitar o submisso!!!!
Na verdade, tudo não é mais do que uma troca, um dar e receber recíprocos, que deveria ser tratado como um acordo de cavalheiros! A pergunta é: quem ensina os Dominadores a entregarem-se com a mesma ombridade com que o fazem os submissos? Que regras regulam a conduta dos Mestres? Quem pune um Dom que não respeita um sub? Onde acaba e começa a tirania dos Senhores? Um submisso define os seus limites, mas não tem poder para acusar um Dominador que os desrespeite; porquê? Ser submisso é um orgulho maior que não deve ter a chancela do "coitadinho"! Pelo contrário, ser submisso é a certeza de que a prática do BDSM não se faz com um número ímpar!
4 comentários:
Ora ai está, bela flor, um texto que da que pensar. Para os que souberem a sua origem e razões por certo serão dadas respostas conclusivas. Para quem não sabe do que se trata realmente fica a base para uma reflexão a fazer e ser levada pelo vento que passa... esperando que não congele com o frio que está.
Que voe então esta.
O BDSM é uma forma de libertação, de uso da liberdade, nos limites do possível mas sempre na busca do máximo possível.
Dai que tanto se fale de filosofia de vida por serem os seus princípios aplicáveis a tudo o que é a nossa existência.
As regras são para ser existentes (mas quem as quer? quem assume o contrato?) e delas nasce o código de honra (ou seja a lei absoluta porque não existindo é assumida).
Mas o código de honra tem na nossa sociedade um problema: não e para ser evocado em tribunal mas sim para ser praticado sem faltas. E isso é muito mais complicado do que ficar a espera de uma possível sanção que só haverá se .....
Os Dez mandamentos (que em diferentes locais e sites se vão lendo) sempre são Códigos pessoais de pessoas e/ou grupos que os assumem como seus, na sua vasta plenitude de decisão pessoal.
E contra cada um deles nada há a dizer, pois são de quem são e de quem a eles adere em plena liberdade de consciência.
E como em tudo, se a adesão é livre, a saída é porta aberta. Não ser capaz de se assumir que se errou é ... Burrice.
Mas uma condição sempre estará presente certamente... O facto de uns serem os "fortes" e outros os "fracos" nunca pode em direito dos Códigos levar a prevalência dos mais fortes e sempre será uma protecção dos mais fracos.
Dentro disto a ombridade (ou hombridade?) é ponto básico.
Por mim não a punha em nenhuma regra por estar subjacente a tudo.
Mas a por então seria Primeiro Mandamento.
Ser Dominador pode ser muita coisa. Por certo que o dicionário dirá que é quem Domina. Mas o Dominador no BDSM é algo de bem mais do que isso.
É certamente alguém que conduz, ilumina, ajuda, participa, alguém que não tem medo de arriscar conscientemente, que sabe que também todos os dias aprende.
NO BDSM, entendido não só como filosofia como também como jogo, todos sempre ganham. Dai que tudo tenha de ser algo perfeito em certo sentido.
Falar de BDSM e difícil porque é algo que em lado algum está regido. Como filosofia de verdade que é, cada um tem o seu.
Se porém falarmos de BDSM no contexto de algo criado ao longo de anos e de muitas e muitas praticas analisadas posteriormente em todas as suas vertentes vemos que hoje algumas coisas começam a ser "esquecidas" por serem "chatas", "escusadas", "que fazem perder tempo"... e, dizem, tempo é dinheiro.
Neoliberalismos da época aplicados aos prazeres da carne... assim vejo.
Dentre essas coisas esquecidas esta uma figura que teve em tempos uma muito grande importância no crescimento do BDSM tal como o recebemos nos nossos dias. É a figura do Mentor.
Deles vinha a garantia da rectidão das coisas, das regras cumpridas, da regulação do irregular.
A base da sua força esta precisamente no seu carácter e na sua personalidade.
De notar que, contrariamente ao que tenho visto ultimamente referido, o Mentor não tem de ser necessariamente um Dominador.
Talvez aqui se volte a questão do que e BDSM isolado (a dois) ou BDSM em grupo (não se leia orgias).
Mas penso que em qualquer dos casos as coisas se passam sempre de forma quase igual.
Os Dominadores estão sempre sujeitos aos submissos e seus castigos pois sem eles não subsistiam e sempre o submisso pode lançar mão do castigo máximo: abandonar o Dominador.
As suas regras são sempre sujeitas a plebiscito desde que o submisso as assume como suas, dai que também este seja culpado se depois se verificar que não estavam esclarecidas.
A entrega, no BDSM, ou é total ou não é.
E sendo não pode ser assumida de forma ligeira na ânsia de um momento de prazer.
Não se deveria confundir a prática de BDSM com a existência das "sessões" de BDSM.
Ai estamos perante momentos de praticas diversas que também os do BDSM usam... somente isso.
Misslibido, só tenho uma coisa a dizer...
que é depois do comentário da flor do campo, nada mais há a dizer:))) está tudo dito:)
Ora aqui vai, para não teres motivo de queixa. O BDSM não é uma libertação, antes uma demonstração da mesma. Ter coragem de o praticar, quer se trate de Dominar ou de se submeter não implica necessariamente ultrapassar outros medos, sejam eles quais forem. Julgo esmo que há quem procure no BDSM um certo refúgio. Mas isso são contas de outro rosário e motivos para outras prosas. Discordo da tirania "absoluta" dos mandadores. É verdade que há quem se aproveite das circunstãncias para Mandar fazer coisas que, noutras circunstâncias, nem se atreveria. Mas isso acontece em todas as actividades humanas: a ocasião faz o ladrão explica este meu pensamento. Há de facto um código, o n´mero de leis varia claro está, de acordo com as fontes, mas a história da confiança, consenso, consentimento e segurança parecem ser o somatório lóico. É verdade que, por vezes, se cometem abusos. Um Dominador pode não resistir à "febre" do poder e, mais uma vez, isso também é visível noutras acções humanas. O poder inebria. Enquanto Dominador, consigo apreciar o distanciamento de uma sessão com uma praticamente desconhecida, quase sempre na condição de Treinador ou de Mentor, mas por estar exactamente num nível, não direi superior, mas diferente. Há um conhecimento prévio do Dom ou da Domme que apresentam o seu escravo. Nestes casos avalia-se sobretudo o comportamento e as reacções existindo uma espécie de representação de parte a parte. Confesso contudo, que a maioria das "sessões" acaba por acontecer com pessoas com quem já existe alguma afinidade, surgindo o BDSM, mais Bd que SM, como prelúdio para uma libertação. Claro que se tenta ir mais longe, até porque é essa a vontade de ambos. E é aqui que reside tudo. Se ela se entrega, fá-lo com um propósito, se eu a reebo também. Há uma unidade objectiva que tende para um final que ambos conhecem e desejam. Dir-me-ás que mesmo assim há dominadores que se aproveitam. Temo que sim e lamento-o porque isso leva muitos subs a fugirem, a negarem o seu desejo e, com isso, a limitarem o universo de possibilidades. Uma boa sub, tal como um bom Dom são coisas raras. E quando se encontram deve-se saber mantê-los.
PS
Não tenho nada contra os números ímpares, pelo contrário aposto neles, sobretudo quando se trata de BDSM. E só saberás o que quero dizer depois de experimentares. Fica o desafio.
Tens toda a razão, a confiança é a questão central em tudo isto. E confiança é a única coisa que um Dominante não pode exigir a uma submissa nem um Senhor a uma escrava.
A confiança não se pede nem se exige, merece-se.
Parece-Me que o folclore do BDSM - aquilo a que chamas a tirania dos Senhores - se destina em parte a iludir esta questão. Daí as regras, os mandamentos, as modas. Por Mim devo dizer que a própria expressão BDSM me desagrada um pouco - tal como, imagino, a palavra «gay» desagradará a muitos É uma expressão curta e por isso útil; e poderá servir de bandeira na luta pelo nosso direito á diferença; mas é uma expressão de que nos devemos servir sem a servirmos a ela.
Enviar um comentário