segunda-feira, julho 05, 2004

O Orgasmo Feminino


“De todos os elementos da sexualidade humana, o orgasmo feminino é considerado o mais enigmático. (…) No entanto, o orgasmo influencia diferentemente o sucesso reprodutivo da mulher, dependendo da altura em que ocorre. (…) Mas o prazer não é uma função em si mesmo, mas um sub-produto da função; ou seja, quando o corpo deseja desencadear alguma acção, desencadeia a necessidade de a realizar. Quando esta urgência é gratificada, a sensação originada é o prazer. O orgasmo feminino dá prazer porque tem uma função. A mulher sente o orgasmo quando o seu corpo julga que ele pode incrementar o seu sucesso reprodutivo. Quando o corpo entende que ele reduz o seu sucesso reprodutivo, ela não sente tal urgência.
(…) Cerca de 80% das mulheres masturbam-se para atingir o orgasmo em alguma fase da sua vida e, para muitas, é uma actividade de rotina, embora não frequente. A taxa média de masturbação é inferior a uma vez por semana – pouco mais elevada na semana que precede a ovulação, mais baixa nas restantes fases. A mulher tem mais apetência para se masturbar, e fá-lo mais vezes à medida que envelhece, pelo menos depois dos quarenta anos.”
“As Guerras do Esperma” – Robin Baker


Nunca é fácil falar de algo abstracto.
Assim, o orgasmo é uma dessas coisas tão complexas não só porque abstracto mas porque conceito, ideia. Falar do processo que leva ao orgasmo e dos seus efeitos, é relativamente fácil. Mas trato agora de outra coisa…
Há uns anos, tive o maior orgasmo da minha vida. Estava num motel de Lisboa, com um parceiro sexual com quem convivi quatro anos, o sexo foi excelente, como sempre acontecia mas, contrariamente ao habitual, acabei a noite a chorar! E nunca se repetiu…
No momento certo e inesperado, a fêmea envolvida numa cópula de noite de Primavera, num quarto anónimo de um motel conhecido, com um parceiro empático, sente-se perder num labirinto, escorregar numa encosta de sensações desconhecidas. A viagem parece interminável e descontrolada, as coisas mudam de sítio, tecto e chão não têm nome, e a queda é vertiginosa. Tudo muito escuro, muito sem dimensão, sem gravidade; um buraco negro como o imaginamos, sem princípio nem fim… Assustada, a fêmea tenta agarrar-se a qualquer coisa, mas só um choro das entranhas surge a surpreendê-la e a apavorar o parceiro. Ele pensa que a magoou. Ela sabe que plana. Ela só se lembra dum desenho animado dum filme dos Beatles e da música “A Day In Life” – uma espiral que suga tudo para dentro de si. Demorou a recompor-se, de olhos fechados e na posição fetal, como a lutar num esforço monstruoso de recuperar o que era seu, mas que não volta.
Se me perguntassem, à fêmea, o que perdi, não saberia dizer…
Talvez um sentir que não tem definição, mas esmagador, opressor, gigante porque sem nome. Talvez uma maneira de estar em que nada vale senão o perder-se, o planar, o soltar-se… Só tentei perceber de onde veio! Em que gaveta de nós, fêmeas, mulheres, está guardado esse bocadinho que os anjos nos arrancam entre suor e esperma, entre bocados de corpo mais corpo?
Não sei se gostava que voltasse a acontecer, perdia metade da sua magia, certamente, e na altura foi avassalador e cobriu-me como uma onda… Hemingway dizia que “quando acontece um orgasmo a Terra deixa de girar”.
Cobrimos os olhos quando ficamos nus – e o orgasmo talvez seja isso…


ML

1 comentário:

Anónimo disse...

Há poucas coisas tão doces e tão enigmáticas como o orgasmo feminino (do masculino não posso falar...). A passagem de nós mesmas para servas absolutas do prazer (apesar de já nos considerarmos como tal...), envoltas numa nuvem coberta de sensações que nos invadem sem que nelas consigamos pensar, tocar ou mesmo até descrever, de tão vorazmente nos consumirem. E penetram-nos tão profundamente que podemos senti-las percorrer nossas entranhas mesmo depois de pousarmos um pé no chão. E afinal é tão bom... que nem a exaustão nos impede de querermos tocar esse céu vezes sem conta... O orgasmo talvez seja isso ou aquilo ou o que vier! (Zio)