"(...)
O karma é o encantamento (desastroso) das acções (das suas causas e dos seus efeitos). O budista quer afastar-se do karma; quer suspender o jogo da causalidade; quer ausentar-se dos signos, ignorar a questão prática: que fazer? Não deixo, eu próprio, de pô-la a mim mesmo e suspiro por esta suspensão do karma que é o nirvana. Também as situações que, por acaso, me não impoêm qualquer responsabilidade de conduta, por mais dolorosas que sejam, são recebidas numa espécie de paz; sofro, mas pelo menos nada tenho para decidir; a máquina do amor (imaginário) funciona aqui completamente sózinha, sem mim; como um operário da idade electrónica, ou como o cábula do fundo da aula, apenas tenho de estar presente: o karma (a máquina, a aula) sussurra diante de mim, mas sem mim. Na própria infelicidade, posso, num momento muito breve, arranjar um cantinho de preguiça. (...)"
in "Fragmentos de Um Discurso Amoroso"
Roland Barthes (1977)
1 comentário:
Dedicado a quem sabe que a vida não é um eterno cantinho de preguiça...
ML
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