terça-feira, maio 06, 2008

*
Postagem retirada da comunidade Piratas do BDSM no orkut http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=36535799&tid=2598014842649021617&start=1
*

“Robert Stoller, em 1985, conceituou sadomasoquismo - ou S&M, termo que ele e outros estudiosos costumam usar - como tentativa de dominar um trauma precoce revivendo-o em situações controladas e seguras(1). Os sadomasoquistas participam involuntariamente de um mecanismo inconsciente, de forma ativa ou passiva, em alguma situação familiar. Em outras palavras, esses praticantes não têm consciência(2) de que tal comportamento seja uma maneira de reviver um trauma anterior. A repetição indica uma tentativa de solucionar o trauma inicial.”

“Quando eram bebês ou crianças pequenas, essas pessoas passaram por um sofrimento emocional ou físico e não puderam se proteger dos ofensores, pela falta de recursos físicos e sobretudo emocionais. Crescidas e já adultas, elas podem sentir a necessidade, as vezes compulsiva, de repetir esses atos.Não sabem o que provoca a compulsão e chegam até a se sentir aturdidas. Além disso, não percebem nenhuma ligação direta que as ajude a raciocinar e compreender o que as leva a ter tal comportamento. Para complicar ainda mais, é provável que o trauma original, por causa da gravidade, tenha sido apagado da consciência.(3)“

“O fato de não haver recordação consciente não significa que o trauma tenha sido esquecido para sempre. Na verdade, a recordação talvez tenha ficado profundamente entranhada na psique”.

“Ao longo do meu trabalho clínico com pessoas que se envolvem em sadomasoquismo, constatei com freqüência um forte grau de negação. Alguns sadomasoquistas declarados recusam-se a admitir que seus atos possam provocar algum mal, emocional ou físico, nos que participam dessas atividades. Apenas em certos casos intratáveis de pedofilia encontrei esse mecanismo de defesa na mesma proporção. Os sadomasoquistas são categóricos em afirmar que sentem uma sensação de liberdade que lhes permite escolher o que “querem” fazer. Essa sensação de liberdade se confirma tanto interna quanto externamente, sobretudo por causa do claro consenso nas atividades. É importante lembrar que a desumanização, uma das características mais freqüentes das perversões, também existe no sadomasoquismo.”

“Erich Fromm correlaciona de forma muito pungente ‘desumanização’ e ‘liberdade’ quando explica que o sadismo tem por objetivo ‘transformar o homem em coisa’, o animado em inanimado, de modo que, por meio de um controle completo e absoluto, o que é vivo perde uma qualidade essencial da vida - a liberdade”.

Sente liberdade perdendo a liberdade. Um paradoxo de que as vezes falo.

“Uma ocorrência freqüente nas perversões é o fato de que o indivíduo sabe que ‘está sendo dominado’ e tenta impedir esse ato errado, mas em geral fracassa e se entrega. Mais tarde, ele sente vergonha avassaladora, desprezo por si mesmo e depressão. Ocorre, assim, um círculo vicioso: a pessoa atormentada por uma perversão entrega-se para aliviar a profunda sensação de angústia sexual; com isso, consegue apenas voltar à aflição anterior de aumentar a angústia sexual, a qual, depois de atenuada, mais uma vez exige a execução do mesmo ato… (aqui ele usou ‘bizarro e ilógico’, me recuso a repetir sem dar o crédito a ele).No círculo vicioso de vergonha, aversão a si mesmo e depressão existe um desejo inconsciente de humilhar ou machucar outra pessoa. Os sadomasoquistas negam esse conhecido ciclo de sentimentos”.

“A suposta natureza ‘consensual’ do sadomasoquismo reforça a falta de motivação para a mudança, o que dificulta o convencimento do indivíduo com qualquer recurso terapêutico. Isso o impede de procurar ajuda profissional ou de submeter-se a uma terapia. Poucos se dispõem a fazer terapia e, quando o fazem, em geral fogem assustados sob pretexto de que não precisam dela, pois os sadomasoquistas agiriam por consentimento mútuo”.

“No sadomasoquismo, esse ‘acordo mútuo’ entre as partes constitui o ponto central de um relacionamento em que o mais importante é assumir o controle”.
*
1- Não lhes parece que uma Sessão tem esse caráter?
2 e 3 - Não é acessível para nós ou o próprio masoquista encontrar a verdadeira motivação, meu amigo Borg. Além disso, vem a negação, o disfarce inconsciente. Não é, portanto, absurdo, se quisermos sair dos velhos clichês e entrar mais nos meandros do Sadismo e do masoquismo, questionar como a Pênya questionou.

Também não gosto desse tipo de texto, mas sou obrigado a dar razão hoje, num ponto: A negação. Basta que alguém saia dos clichês a que estamos confortavelmente acostumados e insinuar entrar nos meandros do Sadismo e Masoquismo que ficamos ouriçados, nos apressamos em negar: Prazer pra cá, poesia pra lá, dominação psicológica, submissão de alma e a natureza consensual abafam o caso. NEGAÇÃO! Eu também me recuso a ouvir essas ‘ofensas’ dos psicanalistas. Mas calma lá, não tapemos tanto o sol com a peneira. Não tenhamos medo. Assumamos e brademos, conscientes, sem nos esconder debaixo de nossa própria retórica, que queremos continuar assim e que ninguém é perfeito mesmo. Que eles vão curar os políticos corruptos, que vão curar as mulheres que não têm orgasmos de forma nenhuma, os homens que tem ejaculação precoce e os impotentes, os que roubam, os que matam… todos esses tem problemas muito maiores que os nossos e, no caso dos políticos, ladrões e assassinos, muito mais nocivos à sociedade. Sadomasoquismo, mesmo com tudo isso que eles dizem, é fichinha.

Não nos proibamos de falar no assunto, de nos estudarmos, utilizando-nos inclusive das opiniões deles como uma das possibilidades. Sem medo, sem transformar em tabu.

Eu sou Sádico e falo por mim, “No verdadeiro sádico
O prazer não reside justamente na violação
no profundo abuso da integridade física
moral e emocional..?”. SIM. É assim mesmo. Para me dar o verdadeiro tesão, o verdadeiro prazer é assim que funciona. Lamento se decepcionar alguém, mas é a verdade.

” Existe Realmente SSC para um sádico..?”Existe porque quem sente prazer assim não deixa de ser humano e o Ser humano é dotado de inteligência, desejará ter vida longa, digna e próspera, por isso, será capaz de exercer controle sobre os instintos. Colocará a consciência para governar os instintos. Um homem comum pode prometer que na hora de gozar tira pra fora e não tirar, mas um Sádico não pode cometer este erro, este descontrole. Eu não posso e não aceito que nenhum outro que se diga Sádico cisme de poder. Um sádico deve sacrificar o seu próprio prazer quando necessário. Ou então é só um animal movido por instinto.

Você quer saber se os instintos conhecem SSC? Não, não conhecem. Isso deve ser lhe imposto pela inteligência, pela consciência.


” A busca no sadomasoquismo é transformar a dor em prazer ou uma auto-destruição?” - Respondo com outra pergunta: Se a auto destruição der prazer, mas o indivíduo nega, não tem consciência disso? Dirá que busca o prazer e todos nos sairemos repetindo essa ladainha, por que nem ele nem nós não sabemos de verdade, no fim da linha, o que se busca. Prazer pode ser só a ponta do iceberg.

” A idéia de sadismo consensual em si não é absurda e desagradável..? - É. Mas já está explicado que é desagradável para o instinto, não para a inteligência. A última tem que ter controle sobre o primeiro, se o Sádico não for um estúpido.

Submissas adoram dizer que o importante é o prazer do Sádico. Balela! Isso é só nos fetichezinhos. Nem eu quero considerar importante demais o meu prazer. Recusaria veementemente qualquer oferta de me darem o prazer máximo. Porque isso me destruiria. Eu sou muito mais que um Sádico, sou um homem, um ser humano e diversas outras coisas. Seria um estúpido se deixasse o meu instinto e o prazer Sádico me dominar completamente.

Alguns podem falar com facilidade em obter prazer máximo e que isso é o que é mais importante porque sentem o prazer máximo de forma simplista que não lhes causaria nenhum mal. Um Sádico de verdade, dependendo da forma como este prazer máximo viria, não. SSC na mente o tempo todo.


Os trechos citados entre aspas são do livro “Conceitos da Psicanálise - Sadomasoquismo” de Estela Welldon - Psicoterapeuta em Londres
*

1 comentário:

JoaoDeAviz disse...

Bem lembrado bichinha: faz parte de nos e não vale a pena negar. É como uma caracteristica de personalidade. De que ter vergonha? somos assim que mais há a fazer? só isto: encontrar alguem com o mesmo apetite pelas mesmas coisas e fazer aquilo que a nossa natureza diz para fazer.
Eu encontrei te a ti ;-)