Li atenta e demoradamente um comment deixado em "BDSM Precisa-se!" e fiquei a cogitar.
Agradeço a credibilidade que me dão, mas tenho de continuar a ser honesta - sou aqui exactamente aquilo que sou na vida real: choro quando sofro e rio quando feliz; submeto-me quando tem de ser e insurjo-me se for necessário. Sou submissa porque sou gente, mas gente que se dá por inteiro quando chega a hora... sem limites de espaço, tempo ou credo ou raça ou idade ou ... que se dá.
Há anos que tinha uma ideia formada sobre os Dominadores, que se tem vindo a modificar - hoje já os vejo como gente que chora, sofre e ri quando tem de ser, porque são gente antes de serem Dominadores - mas que Domina quando tem de ser, entregando-se, se possível!
Ser submissa não é igual para todos, nem há um padrão, nem se aprende - apenas se pode ensinar submissos a comportar-se perante a hierarquia do Mestre, mas não a sentir essa hierarquia enraízada inevitavelmente.
Sei que só entende o que escrevo quem já se entregou ao ponto de não saber ficar só e querer morrer todas as noites; eu disse "nao saber ficar só" e não "querer"; tenho vindo a pensar que uma das características dos submissos é não saberem ficar sem os seus guardiãos, sentirem-se perdidos e sem Norte.
Pode não ser uma regra, mas entregar-se em BDSM é muito parecido com apaixonar-se, senao igual, dum modo paralelo, de querer ser e fundir-se no outro. E por aí, também os Dominadores se entregam para poderem exigir segurar a trela o máximo de tempo possível... Há uma simbiose, uma metastase que obriga ambos a serem de ambos - sem apelo nem agravo.
Só se podem aprender os rituais.
Tudo o resto vem no código genético, se não falarmos de quem representa para receber representações - actos de teatro, peças bem elaboradas de tiradas cinematográficas de heróis e heroínas bem maquilhadas; mas, no fim da festa, "ficamos sempre sozinhos com os donos da casa"!
O código genético!
O bicho de sete cabeças que fez das mulheres e dos homens um puzzle que tem de encaixar ou partir; o que diz ao homem que tem de copular para propagar a espécie e à mulher para se deixar ser copulada para ser o meio para o fim; a gota de água que muda tudo porque homem e mulher são gente a dar-se sem opção.
No BDSM, acrescenta-se uma alinea ao código genético: a entrega tem de ser total para o ser ser totalizado! Ou seja, só existo se o outro me faz existir! Um sem o outro não existem!
Entao ser submisso é apresentar na bandeja da hierarquia a dádiva do seu ser, para que o Dominante recolha o fruto do seu cultivo e o transforme, o molde a seu bel-prazer...
E para quem é inevitável dar-se, nada o faz brilhar mais ou ser mais resplandecente - nem quando chora sob o silvo do látego, quando uiva com mamilos esmagados ou sente na cabeça a mão que afaga o bichinho indefeso...
Dar-se é o que distingue um submisso, não é dar!
Qualquer um dá e qualquer um bate; mas nem todos são submissos e nem todos Dominam...
Se quem anda no Reino Encantado do BDSM não entende isto, não é nem submisso nem Dominador - apenas gosta de jogos apimentados e de máscaras por fora.
É que a alma não se consegue esconder se se fôr verdadeiramente submisso ou Dominador.
Aparece no riso, nas lágrimas e no bater do coração ou, como em "O Princepezinho" de Saint-Exupéry - "se vieres às quatro, às tres já começo a ser feliz!"
Agradeço com todo o meu ser, todos os poros e todas as fibras que latejam sob o braço do Poder, a quem me faz brilhar e sorrir na espera... o resto é tudo um monte de folhas secas... murchas...
3 comentários:
mais que uma tecnica, mais que uma arte, mais que uma atitude, D/s é um estado de alma e uma forma de ser
Olá amiga tenho passado por aqui lendo o que escreves como sempre o fiz, como te compreendo quando te sentes um trapo por seres enganada porque afinal eu também o acabei por ser, recordo-me de alguém num certo forum me alertar que estava errado que aquela pessoa apenas se estava a aproveitar do meu momento de fraqueza para me usar em seu proveito, e assim o fez, na altura defendi com unhas e dentes pois acredita estar a defender uma felicidade que não passava de uma ilusão criada por um conjunto de mentiras, mas enfim a vida é assim mesmo, relativamente a este texto acho que a 2ª parte se ajusta muito bem á realidade um Dominador também sofre, chora porque é humano como qualquer pessoa...
Meu caro amigo Exion...
Infelizmente a vida nao é fácil e o BDSM e as paixões em geral reflectem o Homem na vida.
Dedico-te (e a mim) o Soneto Amoroso acima e aconselho-te a teres cuidado com as ratoeiras, com a certeza porém de sermos todos apenas gente a tentar fazer o seu melhor ;)
Grande abraço e forte!
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