Um Dominador que um dia me disse "não quero ser seu amigo" quando lhe revelei o meu diminuitivo para Amigos, escolheu então que eu seria Maria. A Maria e o Dominador P não se conheceram ainda, mas são cúmplices no que procuram, embora desviados nos atalhos da vida da urbe.
Hoje recebi dele este texto, não assinado, deszconhecendo a sua autoria. Espero que ele não se importe que o partilhe, porque eu gostei do que li...
"Sentir a pele que comanda e não saber.
Viver o equilíbrio precário das emoções grandes, fortes, valiosas e significantes.
Habitar a busca enorme de nobreza e sentimento sem cair na valeta da obscura satisfaçãozinha nos dai hoje.
Não se rever na paz podre de um lento abanar de corpos, agitando-se na penumbra do tédio, na busca do cumprimento, no limite da vulgaridade. Querer mais. Mais alto, mais longe e mais além.
Sentir, com a força imensa do desejo todo, a busca permanente de absolutos e insólitos excessos. Vibrar com eles. Gostar.
SM é o coito secreto dos "outros" amantes. Os que habitam o lado de lá do espelho e moram no exagero e no impropério consentido. Os que buscaram a diferença vivem a diferença e habitam a diferença. No gesto secreto quase inconfessado.
Aqui se convocam os que esgotaram a pachorra das longas cenas de beijo e violinos, as falsas juras eternas de paixão e castidade, o bom comportamento de paróquia, a dimensão pequena do desejozito, como quem mendigasse pequenamente os favores complacentes de um prazer fugazmente consentido.
Que este seja um espaço da volúpia; renascida das cinzas de um gozo posto a descoberto. Que aqui se revejam os que com elevação e criatividade reinventaram os jogos mais secretos de si mesmos.
Em Roissy a mítica O aprendeu a solenidade e a liturgia. E o erotismo ritual – haverá outro digno desse nome? - Sentou-se, observou e corrigiu. E partiu. E sonhou.
E ousando experimentar, nunca mais regressou. Como um cavalo domado que um dia, irreverente, parte ao pôr-do-sol, para nunca mais voltar ao estábulo, nunca mais comer ração, nunca mais obedecer.
Desobedeçamos, pois. Inventem-se novos valores, novos códigos, novas ordens. Novos prazeres ligados ao sentir mais profundo de nós. Assumamos com gosto a luxúria desse sentir. Com equilíbrio, senso e com-sensualidade.
Nenhum prazer complementado com desprazer. Mas busquemos um novo Hedon. Onde a submissão seja uma forma de glória e de volúpia. E o domínio, embora seguro e sabedor seja sempre um acto desejado e consentido.
Aceitam-se comensais. Cúmplices de uma mesma confraria de dessacralidades e descobertas. Gente do corpo em chama por busca da chama que dentro habita. Gente que não hesita ante o gosto de comandar ou de obedecer. E dele retira o gozo de um acto de inteligência e natureza.
Neste espaço apenas se recusa a vulgaridade, a obscenidade da incultura ou o notório desajuste das matérias. Tirando isso todos estão convidados. Noviças, interessadas, praticantes, curiosos, sabedores, médios, superiores ou assim-assim. Indecisos. Teóricos cheios de chateza e presunção. Tímidos principiantes cheios de dúvidas. Pretensas escravas cheias de incertezas. Experimentados Mestres cheios de conselhos.
Ecce Sm! Esta arte existirá na nobreza e elevação dos que a habitarem.
Obs. Se não percebeu nada do que aqui leu, óptimo. Não volte. Asseguro-lhe que não faz nenhuma falta.
Agora e sempre, o sonho e a força."
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