sentada no chão,
pés descalços e alma núa...
descanso o perfil de quem nao vai.
As mãos no regaço,
torcidas num espasmo,
a pedirem água,
que a sede é de dias de chuva,
que o sol mata tudo!
Os olhos
- abertos, doridos, esverdeados -
dizem ser de desafio, mas são de negro carregado;
chamam-lhes belos mas são virgens apenas,
são contas de um rosário interminável.
Sentada no chão, pés em carne viva,
oferto o que me resta sem me pedirem ou exigirem;
dou o que nao tenho e reinvento-me a cada segundo
da chuva que não cai neste deserto...
Ahhhh, e o sorriso.
O primeiro sorriso
que despontou com a primeira alvorada,
que se abraçou ao prazer,
e de maos dadas, entrelaçadas, encovadas,
juntos foram fazer a dança das estrelas...
nos olhos!
Todos os dias
renasce o sonho
e adormece a vida;
devagar
sem pressa
sem querer nada
só a dar, dar, dar...
É o Outono que ameaça chegar!
Continuo sentada
a dar as costas a um homem de negro.
O chão é a minha cama
onde me espojo em toda a plenitude
da escrava que nao sou...
Sou isto e nao aquilo e ainda bem!
As árvores pedem-me perdão
por nao se conseguirem entregar!
Eu perdoo, e durmo à sombra delas....
ML
2 comentários:
Tens aqui versos de uma beleza de cortar a respiração. Parabéns.
Deixas-me sem palavras....
Em tao poucas palavras consegues te dar mais um pouco a todos nos...
Mulher amiga de alma transparente....
Beijo grande gaja
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