sábado, julho 01, 2006

O meu amigo Vanderdecken ofereceu-me um texto para o blog... este!
Chamou-lhe "Dançarina de Gor" e partilho-o agora aqui!



- Lembras-te do papel que caiu do livro? - perguntou ele.
- Sim - disse eu.
- O que é que estava lá escrito? - perguntou ele.
- Estava escrito - disse eu - "sou uma escrava".
- Repete - disse ele.
- Sou uma escrava - disse eu.
Então ele inclinou-se para mim e segurou-me por um braço, o braço esquerdo, e fez-me levantar e puxou-me para junto dele, caminhando ao longo das estantes em direcção à parte aberta da biblioteca, a parte norte, perto da secretária. Quando chegámos soltou-me.
- Ajoelha-te - disse ele. Então ajoelhei-me na carpete. Sem pensar ajeitei a saia translúcida à minhavolta de modo que formasse um padrão redondo e atraente. Ele sorriu. E eu olhei para o chão. O terceiro homem estava nesta área, junto duma das mesas. Pousou sobre a mesa uma pasta de executivo, que abriu.
- Viu-me dançar? Perguntei.
- Olha para mim - disse ele.
Obedeci.
- Sim - disse ele. Olhei para baixo, desconsolada. Não tinha sido minha intenção que ninguém me visse dançar, especialmente vestida como me tinha vestido para dançar esta noite!
- Mas paraste, e paraste antes de teres terminado a tua dança, e sem autorização- disse ele. - Por isso vais dançar outra vez.
Olhei de novo para ele, sobressaltada.
- E esta - disse ele - vai ser a primeira vez que danças, com consciência disso,à frente de homens.
- Como sabe o senhor que eu nunca dancei à frente de homens? - perguntei.
- Pensas que não andaste a ser vigiada, - disse ele - que não sabemos nada sobreti?- Não posso dançar diante de homens - disse eu.
Ele sorriu.
- Não vou dançar! - Disse eu.
Põe-te de pé - disse ele.
Levantei-me e fiquei de pé. O homem que estava junto da mesa rebobinou a fita do gravador.
- Vais começar do princípio - disse ele. - Vais executar a dança completa, do princípio até ao fim, para nós.
- Por favor, não - disse eu. Não podia suportar a ideia, a ideia aterradora, de me apresentar, na beleza da dança, diante de homens como estes. Não podia sequer sonhar deixar que homens como estes me vissem dançar. Era totalmente impensável. Nem sequer nunca tinha ousado mostrar-me nesta figura a homens normais, a homens banais, inofensivos,triviais, vencidos, homens do género daqueles com quem me dava, homens da espécie que eu conhecia. Quem sabe o que esses homens pensariam, como seriam tentados a agir, o que seriam incentivados a fazer? O homem carregou no botão do gravador, e eu dancei.

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