sexta-feira, novembro 25, 2005

O sentir da Felicidade...

"Por mero acaso acabei “tropeçando” no seu site.
Tomei a iniciativa de lhe escrever por ter ficado muito interessado na pessoa por detrás deste perfil. Tenho muito interesse em a conhecer melhor e em saber mais sobre a atitude que preconiza. Pelo que me deu a entender assume-se inteiramente como praticante da filosofia BDSM. Essa sua atitude fascina-me e ficaria muito agradado se tivesse disponibilidade para discutir comigo alguns assuntos relacionados com esta prática.

Já li algo sobre o assunto mas sinceramente acho que a maioria dos relatos provém de pessoas que nem sequer estiveram próximo de viver este tipo de situações. É fácil qualquer um escrever um conto ou emitir uma opinião e publicar o texto na Internet. Difícil, parece-me, é encontrar os verdadeiros praticantes desta filosofia de vida. O seu site parece-me sincero daí o ter-me despertado especial interesse.

Penso que neste momento deve ter um dono e não sei se ele lhe proibirá este tipo de contactos. No entanto se não houver nenhum impedimento a que possamos dialogar eu teria algumas questões a colocar-lhe para as quais gostaria de ter o seu ponto de vista.

Talvez a primeira questão que me ocorre seja: o porquê da atracção pela submissão e dominação? É certo que todos procuramos a felicidade. Normalmente associada a prazer e bem estar. O que tento compreender é em que medida o sentir-se dominada e totalmente submissa a outra pessoa lhe pode trazer essa felicidade e prazer. Não seria também feliz sem se sentir dominada por outra pessoa?

Interessa-me também entender como consegue conciliar uma vida em sociedade com este tipo de práticas. Vê o seu dono como uma presença 24h por dia, 7 dias por semana ou como uma relação apenas existente nas sessões de BDSM? Ou prefere mesmo viver em casa do seu dono e dedicar inteiramente a sua vida a satisfazer os desejos dele? Não sair de casa, cuidar de tudo para ele e esperar pacientemente que ele volte do trabalho para se dedicar a ele e receber os castigos inerentes a algum mau comportamento ou descuido que possa ter tido. Em suma abdicar da sua vida para se entregar totalmente ao seu dono.

Outra questão prende-se com o nível de entrega ao seu dono. Vejo que a resposta clássica é que a entrega tem de ser total. Mas e se o seu dono a encaminhar a fazer algo que está para lá do que poderá admitir. Imaginemos que a encaminha para um relacionamento com outra mulher, gang bang, sexo com animais ou com menores,... enfim algo que não pudesse mesmo admitir. Como reagiria? Isto levanta mesmo outra questão: Deve a submissa exprimir claramente o que espera da relação e quais os seus limites ou deve o dono ir descobrindo? (...)"



Sempre fui a vítima nas minhas fantasias masturbatórias e antes disso era inevitavelmente o cowboy escalpelado pelos índios, apesar de ser a mais matulona do grupo; adorava ser amarrada ao poste e humilhada por ser a vencida... Nunca dei grande importância a isso, até ter descoberto a prática do BDSM e com ela a necessidade de olhar para trás e procurar entender! E entendi! Gosto do que sinto a servir um Dominador, gosto da liberdade de sentir coisas novas na pele e nos sentidos, de expandir os meus limites que sempre foram os estipulados por convenções e socializações baratuchas... Mas com conta, peso e medida - não arvoro bandeiras em arco, nem seguro estandartes que não consigo elevar; gosto de bom-senso e do que se pode fazer com ele. No BDSM como na vida. Arriscar mas nao ser um suicida.
O prazer é como o bom sexo - carece de tempo e de habilidade e... entrega!
A tal que tem de ser honesta antes de ser total!
Não acredito em representar para agradar; em embalagens vazias para serem "recicladas" numa sessão; nada contra as sessões - só nao admito é gente feita embalagem... Desumanização pode ser isso, mas até aí tem de haver limites.

Felicidade pode ser qualquer coisa! Já fui feliz no BDSM, várias vezes. No entanto, Felicidade é algo egoista e de cada um, algo narcísico e individual, logo único! Já fui feliz várias vezes no BDSM. Mas tal está numa equação dependente de terceiros na prática desta afinidade. Já fui feliz só por mim, só para o Dono/Dom e para ambos... E entendo k é assim k deve ser! O BDSM e a vida vivem de momentos e de situações, de decisões e causa/efeito. Apenas isso! Já fui muito feliz fora do BDSM também e até com pessoas k conheci no BDSM. Ser feliz sem ser dominada por outra pessoa claro k é possivel e até talvez seja uma meta k todos deviamos ter, pois só assim os contrastes acontecem, dando valor aos actos e alterando as definições. Mas é obvio k alguem com tendencia submissa pode ter-se realizado muito mais, toda a vida, fora do BDSM, na realização (por ex.) de rough sex ou de cenas elaboradas sexuais, sem lhe dar um nome. Não é raro ter sexo mais "interveniente" e que me satisfaz mais do que o simples baunilha, sem riscos, mas isso não significa k não saiba ou/e não queira ter sexo fora da submissão.
Há tanto a dizer sobre BDSM e a sua prática...
Mas aconselho o sentir! Esse não dá direito a fugas...
Embora defenda que antes da prática os intervenientes se devam conhecer minimamente e, sim, a submissa se deva revelar por inteiro, ansiedades, limites e desejos. Claro que na prática isso será gradual e muito será descoberto em sessões e intimidades, mas não concebo BDSM sem alguma certeza no que ambos desejam e querem evitar...
Submissa e Dom estão um para o outro e devem faze-lo em unissono se pretendem uma relação que determine uma entrega incondicional de ambas as partes. Se for apenas manutenção, a entrega nao será tão cabal porque os objectivos não são tão maiores, o que não significa que na hora do acto a entrega nao seja honesta. Defendo as sessões eventuais como a abertura de porta para uma eventual relação mais profunda e incontornável.

No fundo, temos todos de nos dar uma chance, dando-nos e recebendo...
Recentemente tive uma crise de identidade no BDSM e questionava-me se devia arriscar sessões, pois tinha medo de falhar. Um Dom amigo disse-me: "Falhar é nem começar, não é desistir a meio!"
Que fazemos nós na vida? Vamos recomeçando sempre, em ciclos, como as horas e as ondas da Virginia Wolf.
Só podemos mesmo é tentar! Honestamente! Com medos!
"E se doer, é porque vale a pena!"






1 comentário:

Anónimo disse...

nunca me enganaste... é bom ter-te por cá :)