"Sou submissa e já fui escrava...
Uma vez, o meu então Dono resolveu convidar a mulher por detrás da escrava a jantar no restaurante... Perguntei-lhe como o deveria tratar. Na verdade, tinha sido sempre Senhor e depois Meu Dono... Respondeu-me um nome próprio, vendo-me embaraçada e corada, aliviando a minha dúvida. O jantar foi informal e decorreu em conformidade. Depois, como fosse ainda cedo, propôs levar-me à sua casa de campo. Era fim de Verão e estava uma noite surreal, banhada por uma lua de cenário cinematográfico; não havia vento e tudo parecia em paz, desde que o sol se deitou até à noite clara e tépida ter nascido. Eu sentia-me contente por o meu Dono ter saído das quatro paredes comigo. Tinha tomado um banho demorado, posto creme de leite e mel, acetinado a pele e a alma, respirado fundo, e depois vesti uma saia de seda até ao joelho, justa mas com uma racha atrás, e um casaco amarelo colado ao tronco, de minúsculos botões e manga curta; estava muito morena, e soltei o cabelo... Nos pés sandálias rasas da côr da saia, de um verde desmaiado. Sentia-me feliz e via o meu Dono feliz por eu fazer os homens olharem para nós à entrada e saída do restaurante. Já no carro, o meu Dono disse que iríamos à casa de campo dele, que não ficava longe, e por dentro fiquei mais feliz ainda - seria mais um privilégio, como me informou.
No meio da serra, após curvas e contracurvas, paramos finalmente junto de um muro alto rente à estrada, numa povoação desconhecida, deserta, entre árvores e arbustos. Ele abriu um portão de madeira e entramos numa alameda de gravilha. Entrei mulher e saí escrava!
Quando o meu Dono entrou em casa e acendeu as luzes, vi então um vasto espaço com duas casas, árvores de fruto e vinha, tudo bem tratado e com ar organizado. Sob o alpendre, nozes num cesto à entrada... o bucolismo rural a fazer bem aos olhos. Uma paz, um silêncio, uma quase paragem no tempo!
Lá dentro, o meu Dono mostrou-me a casa, bem adaptada ao conforto dos tempos modernos, e deixou para o fim a cave, a que chamou com um sorriso maroto "A masmorra"... Aproximando-se por detrás de mim, sussurrou-me "Quero que me sirvas!" e indicou-me que descesse a íngreme escada de madeira. Senti o coração acelerar e o sexo apertar-se num esgar de desejo... Lá em baixo, um sofá e dois cadeirões ao centro, e paredes de pedra com reentrâncias sugestivas, uma pesada salamandra e pouco mais. Durante algum tempo seguiu-se o ritual habitual ao servir o meu Dono, acabando por ficar nua à sua disposição. A novidade veio depois. De quatro, com a coleira e trela bem puxadas, fez-me sair pelas traseiras da cave, ao seu lado, até às traseiras da casa, que davam para um vinhedo. Aí, de pé, ficou a contemplar a noite enquanto eu, de quatro, devia manter o olhar baixo, sentindo no cimento o frio da madrugada no campo. Um arrepio na nuca fazia-me sentir viva, levantados todos os poucos pêlos dos braços, e o sexo molhado como orvalho; o meu Dono serviu-se da minha boca, recortado na luz da lua, com uma erecção digna de um Dono, e tudo em silêncio - como só na melancolia da aldeia é possível. Já no interior, o meu Dono satisfez-se nas minhas costas e nádegas, de chibata e chicote, deu-me um orgasmo vaginal e mandou-me vestir. Arrumou as suas coisas, mas deixou de fora um dildo de madeira, duro e possante, que me mandou levar para o carro, eu sem cuecas e de coleira e trela postas. Confesso que estava expectante, como se o que quer que fosse que me estava destinado fosse uma prenda maior! Calma mas ansiosa, continuei de olhos baixos e em silêncio. O carro arrancou, o meu Dono a retesar-me a trela sempre que entendia, e uns metros depois, numa recta deserta, no meio do nada, de madrugada, numa serra, o meu Dono a imobilizar o carro. Vem pelo meu lado e manda-me sair! Caminha comigo pela trela ao longo da estrada, com os farois apontados à minha figura, o carro a ficar para trás. Quando regressamos, encosta-me ao carro e enfia-me o dildo quase de uma só vez, a olhar-me nos olhos. Manda-me entrar e retesa-me de novo a coleira. E o silêncio a dar margem para tudo... E a estrada deserta a aproximar-se das vilas onde no sábado à noite, todos se encontram à porta do café. Gente e luz! O meu Dono manda-me descobrir os seios, e cumpro - fico com dois peitos com mamilos espetados à vista, a saia levantada, o dildo a querer sair a cada solavanco da estrada, e a minha mão direita a empurrá-lo, sob pena de castigo iminente - dentro do carro cheira a sexo e a inesperado! E a silêncio!
O meu Dono retesa-me a trela e chega-me a ele; conduzindo com uma mão, a outra explora-me o sexo e titila-me o clitoris inchado. De vez em quando aperta-me os mamilos e chama-me "sua cadela!", dá-me palmadas no interior das coxas, nas mamas, dá-me os dedos dele com o meu suco a chupar. Faço tudo sem um som... Agora, devagar, o carro desliza por povoações com luz, e a cada candeeiro vejo-me exibida à luz, receosa de ser vista pelos condutores dos carros em sentido oposto, de máximos ligados. "Volta-te de costas no assento!" - diz-me o meu Dono, tendo de repetir por eu não ter entendido à primeira, tal o espanto na ordem. Cumpro, gemendo por o dildo entrar mais ainda, numa gruta encharcada por humilhação e satisfação do meu Senhor. Sinto palmadas ritmadas a marcarem a cadência dos quilómetros feitos bem devagar. Sinto as nádegas tão quentes como o meu rosto, ruborizado pelo calor de Verão, pelo latejar do sexo e pela excitação de cumprir ordens do meu Dono. Parece-me interminável a quantidade de palmadas que levo, os sacões do dildo e o frémito de orgasmos adiados... mas sorrio sempre.
São quatro da manhã e a baía na praia tem um luar recortado que lembra o que imaginamos da Ilha do Tesouro... À porta de minha casa, o meu Dono manda-me tirar o dildo, e eu respiro fundo... Mantém em mim a trela e a coleira, baixa-me a saia e diz-me "Vamos!". Volto a ficar atónita, nova surpresa - mas obedeço sem hesitar. Há muitos carros no "beijódromo" improvisado... O meu Dono chega-me a ele com um sacão da trela, e descemos à praia e à areia. Aí, desabotoa-me o casaco, manda-me ajoelhar e possui-me a boca, chamando-me "sua cadela", "minha escrava" e "a minha puta!" - continuo em silêncio, contente por agradar ao meu Dono. De repente, atira-me para trás na areia, e marca a sua propriedade com o seu esperma, nas mamas e pescoço. Eu gemo e agradeço, espalho o semén no tronco, como sei que o meu Dono gosta... Ficamos ambos a sentir a brisa marinha uns instantes, e voltamos ao carro, ele meu Dono e eu sua escrava, pela trela, com a sua marca na minha pele, o coração aos saltos por o fazer feliz! No carro, componho-me o melhor possivel e despeço-me do meu Senhor "Obrigada por tudo, meu Dono!". Ele diz "Vai!" e eu subo no elevador do prédio, corada, suada e a cheirar a sexo, cúmplice do contentamento do meu Dono. Entro em casa e fumo um cigarro! Estou feliz!"
Sem comentários!
ML
7 comentários:
Fizeste-me sentir saudades. Saudades das emoções e da pertença, da expectativa e do silêncio. Do querer e do "medo". Do vento e do ar da noite no corpo nu que parece exposto ao mundo de uma forma brutal e completa.
As luzes que incidem sobre nós e são sentidas como focos potentissimos - os olhos do mundo, que se transformam em mãos, em bocas, em linguas.
Tudo intensificado. O máximo nos máximos enquanto se vive.
A liberdade de passear nua com trela, presa e livre, seguindo, obedecendo.
Obrigado. Beijo.
Tenho que devolver o elogio que fizeste ao Meu conto «Os Seixos»: muito lindo, e muito humano.
É bem provavel que o tal ex-Dono de ML, que se presume significar MissLibido, possa já ter lido e relido o seu relato. E, mais provavel ainda, é que se tenha sentido muito honrado com a qualidade da sua ex-escrava e com a forma fiel, diria fotográfica, como ela aqui expõe os factos. Na verdade, tudo se terá passado sob uma lua o que torna os encantos eternos e as sensações perduraveis. Salvé submissa, que os Deuses te protejam para que possas continuar a honrar todos aqueles que acreditam na verdade do bdsm. Porque, quem se expõe com tal nudez de sentimentos só pode merecer o respeito daqueles que alguma vez a tiveram a honra de a merecer.E porque as relações não se medem pelo tempo mas pelo modo, acredito, sinceramente, que tenha valido a pena. Á submissa ML, aqui deixo os meus respeitos por ser como é e quem é na certeza de que outras luas virão.
DOMamares
A propósito de coisa nenhuma
Todos temos histórias ou não passará tudo de uma história em que vamos surgindo como figurantes? Somos nós que sonhamos ou limitamo-nos a ser sonhádos? O real versus virtual e por aí fora, ignorando o porto destino os raros que ousaram partir. Apanhei parte do teu comentário sobre Dominação e Manipulação, em concreto a história da "queda sem rede". Se houver rede onde está a virtude do risco? tenho para mim que todos, repito TODOS, manipulamos e, de uma forma ou outra tentamos, pelo menos, dominar. Até na entrega absoluta há uma esperança de recompensa, seja ela qual for. Iguais mas diferentes, traçamos percursos que, coisa notável, acabam por se tornar únios, como raios emergentes de um mesmo centro. E que procuramos afinal? Que por uma qualquer relação causal, a matéria deforme o espaço e o traço, que não é forçosamente recto, se curve. Chamamos a isto, noutras áreas, Eterno Retorno. E tantas vezes visto acaba por se tornar uma constante invariável e muda. A sabedoria popular diz que todos os caminhos vão dar a Roma e que todos os nascimentos levam ao coval. Consubstanciado o epílogo, resta saber quantas curvas, que colorido, que sons vão rechear esse trajcto. Tudo o mais é absolutamente irrelevante. Todos buscamos o mesmo, independentemente do papel em que vem embrulhado ou do nome que lhe chamamos. Arriscar, ganhar, perder, a tudo isto minha querida, chamo apenas viver.
PS
Um dildo de madeira? Curioso, pensava que só eu as fazia usá-los.
Belo relato, mas o "Sem Comentários" que antecede o ML não chega para esconder o seu autor ainda que esse tenha sido o propósito: MissLibido, quiçá bondarina, naturalmente, a quem aqui faltou a coragem para se assumir.
Um anónimo a falar de falta de coragem apenas me parece ridículo...
Obrigada pela sua prestimosa colaboração (piscar de olho!...)
ML
Há anónimos que só o são por manifesta distracçao, nunca por recurso a outras habilidades.
DOMamares
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