segunda-feira, novembro 26, 2007

QUANDO HÁ DE FACTO UMA RELAÇÃO BDSM 24/7?

Mantenho com o meu Dono uma relação de BDSM Dono/escrava há já três meses.
Vivemos um contacto presencial em média quinzenal, de três dias, não tão curto por vontade própria mas por logística – a distância não ajuda…
No entanto, todos os dias nos vemos na Webcam e falamos horas ao telefone e trocamos e-mails; recebo ordens e cumpro tarefas sem hesitar e, basicamente, estamos juntos durante todo o dia, embora á distância.
O meu Dono indigna-se quando me atrevi a chamar-lhe relação virtual; tenho pensado nisso e ele tem razão, eu não…
Isto porque, de cada vez que estamos fisicamente juntos, temos todas as bases e alicerces enterrados fundo quer nos permitem "cortar caminho" e prosseguir sem delongas na nossa relação de entrega mútua. De cada vez que o meu Dono parte, fá-lo para voltar; de cada vez que o meu Dono chega, chega para voltar a chegar! E concluímos sempre que nos fazemos falta mútua e que há saudades, mas que o virtual (comunicação basicamente com laivos aqui e ali de D/s) é a ponte que nos mantém mais unidos do que uma relação presencial 24/7, pois não acusa o desgaste de uma presença constante e mais exigente.
Nunca tinha pensado nisso assim – causa-me aversão um 24/7 mais virtual que real, já vivi um 24/7 físico e sei que este meio termo em que nunca deixo de ser escrava do meu Dono, nem ele deixa de ser Dono da sua escrava, nos dá um equilíbrio talvez mais conseguido que muitos verdadeiros relacionamentos 24/7 supostamente perfeitos.
Qualquer relação sofre períodos de desgaste e nós não somos excepção – mas mais pela raiva na ausência do que pelo excesso de presença.
Será a nossa uma relação 24/7 apesar de não o ser presencialmente?



"Não me parece que caiba na definição de 24/7, e sim pró-24/7, isto porque devido à logistica que nos obriga a estarmos afastados presencialmente durante tanto tempo assim o determina, mas apenas por isso - sendo o telefone, mails, webcam, formas, embora fracas, de substituir o que não é possível de outra maneira: estarmos tão próximos quanto possível.
Sim, indignei-me por teres afirmado que era uma relação mais virtual que real, pois não o é como tu própria o dizes: separa-a o fundamento: na relação virtual só existe virtualidade; se houver contacto presencial não é esse o fim, mas sim uma consequência, ou acidente, no percurso de uma relação que se destina a acontecer em ambiência virtual, sem contacto. A maior parte das vezes esse tipo de relação não passa mesmo disso.
Connosco é ao contrário, embora de facto se passe muito tempo a comunicar através da internet, ou por outro meio de contacto não fisico; a verdade é que não é nisso que se baseia a nossa relação, e sim nos momentos, sempre poucos, em que estamos juntos, ansiando, quando não estamos, pelo próximo momento em que estejamos - essa é a essência da nossa relação.
Gosto de comparar a imagem do cavaleiro que parte para as Cruzadas e deixa a mulher em casa, de cinto de castidade posto ( ;-) à espera que ele volte, ou as imagens, já do nosso tempo, do soldado que vai para a guerra colonial e deixa a noiva em casa, e se correspondem por carta; ou até do emigrante que deixa a noiva na aldeia, ou do pescador que se faz ao mar e a mulher espera ansiosamente na praia...

Pode ser que dê vontade de rir, mas a comparação é por demasiado semelhante para ser risível durante muito tempo.
Eu sou profundamente português, e ainda bem - não preciso de ir a culturas anglo-saxónicas, ou a filosofias tiradas de romances de ficção para encontrar um padrão e uma forma de ser Dominador e Dono de uma escrava.
Olho o passado do meu povo e ele está demasiado pejado de exemplos de D/s para que impunemente passe ao lado a riqueza histórica do D/s em Portugal.
Vejo os velhos árabes e os seus costumes, os reinos da Idade Média, e lembro o "direito de pernada" dos senhores feudais, que lhes permitia posuir qualquer mulher no seu feudo, sempre e quando lhes apetecesse; revejo a História por aí fora, e revisito o século passado, em que fui criado e educado e na cultura de dominação e submissão, do papel do homem e da mulher...
Se me pedissem que me definisse quanto à minha filosofia de BDSM, sou naturalista e profundamente luso, pois não me posso dissociar das minhas raízes culturais, nem do facto de que acredito que D/s não é um fenómeno que se aprenda e sim que nasce na natureza de cada um.
Introduza-se no D/s componentes de sadio, lúcido e consensual e temos BDSM."


MestreDeAviz

2 comentários:

Anónimo disse...

Se me permite a "achega", também não me parece que a vossa Relação se enquadre no conceito clássico de "Todas as Horas,Todos os Dias".
Contudo, de virtual no sentido restrito do termo, não o é com toda a certeza.
Quiçá a "distância" não fortaleça ainda mais a vossa Relação, transformando os encontros "quinzenais" numa dádiva e entrega ainda mais avassaladora?
Só o tempo o dirá, mas permito-me a ousadia de crer que estão no Bom caminho para uma Relação Duradoura e Frutuosa para ambos.
Meus cumprimentos pela análise, serena, profunda e adequada que fez ao tema.
Meus agradecimentos pelo exemplo de partilha dessas opiniões com a comunidade. Não está ao alcance nem será concerteza apanágio de muitos mais.
Interessantes e plenamente adequadas as evocações Históricas com que ilustrou seus pensamentos.
Pena é que talvez não sejam atingidos por muitos, em especial os mais jovens.
São por natureza avessos à Leitura e à História. (Sei que há e conheço excepções.....Esses que me perdoem o desabafo).
A grande maioria não sabe sequer que Portugal esteve envolvido numa Guerra Colonial.
Ao ler seu post, revi na minha memória, "imagens" passadas na TV, durante a Quadra Natalícia que se aproxima.E como estão ainda bem vivas essas memórias.
Tal como escreveu, pode até haver quem se ria.....
EU APLAUDO.

JoaoDeAviz disse...

Agrada-me verificar, que mais pessoas pensam como eu.
De facto temos uma historia de D/s sobejamente rica para precisarmos de ir buscar referencias aos anglo-saxonicos, tão pouco relacionados com a personalidade latina.
Temos em nós tudo aquilo que centenas, senão milhares de anos trouxeram de dominação e submissão enquanto forma de relação, para ser necessario ir procurar D/s noutro pais, noutra cultura, mas enfim, laivos de "o que se faz lá fora é que é bom", principio desastroso porque muitos se teem regido em Portugal.
Seria bom, que em vez de lermos tanto as definições de outras culturas, olhassemos mais a nossa propria identidade, e, nas nossas raizes, encontrassemos de facto o que somos.
Sim, eu tambem recordo as imagens de saudade,de distancia, no entanto, de uma proximidade emocional tão grande, como só os portugueses podem sentir e manter, apesar do que separa, os laços que unem.
O meu obrigado ao Dominador 1960 pelo apoio expresso no seu coment.