quarta-feira, agosto 30, 2006

Tenho um amigo Dominador Inglês com quem falo via MSN que me contou um caso que me chocou, embora saiba perfeitamente que acontecem até situações bem piores no meio BDSM (e não só)...
Depois de conversações, uma submissa Americana (Flórida)deslocou-se para o Reino Unido para servir um Dominador Inglês... Acontece que o dito não só lhe roubou o passaporte como o vendeu a uma Mafia, abandonando a rapariga à sua sorte; graças à intervenção de um Dom amigo dela no UK, conseguiram recuperar o passaporte e reencaminhar a submissa, mas imaginem os danos psicológicos e até os perigos (de vida ?) que a jovem não correu...
Tudo isto para dizer que apesar de o meio BDSM viver de promessas de parte a parte, nem sempre tudo corre sob os bons ventos da honestidade (não é novidade nenhuma, eu sei), mas que, principalmente as submissas, devem ter cuidados redobrados quanto à hipótese de mudarem de região ou/e País, porque há viagens sem retorno...
Tudo na vida é um risco, mas entregar a vida ao sabor de alguém desconhecido ainda que presente por escrito ou por telefone, é um risco acrescido de irresponsabilidade; claro que há casos bem sucedidos e casos de final feliz "para todo o sempre", mas a Lei das Probabilidades dá 50% de chances para o Bem e o Mal.
Que as submissas e os submissos, e até Doms e Dommes, demorem o tempo que for preciso e se certifiquem antes que a pessoa que se diz responsável e honesta o é de verdade, antes de se entregarem...
Aconselho que se informem - e há muitas maneiras de o fazer sem se denunciarem nem melindrarem o outro - da verdadeira identidade do sujeito, das suas ocupações, dos seus hobbies, das suas rotinas e dos seus defeitos. Uma entrega séria que implica mudar de vida incondicionalmente, acarreta muitas decisões irreversíveis e que podem mudar para sempre as pessoas e a sua Felicidade! Parece-me legítimo que qualquer ser humano tenha um mínimo de garantias antes de se dar sem saber a quem ou como, e há maneiras de se precaver!

Lembro-me de ter tido uma primeira sessão com um Dominador e, no acto, de o sentir demasiado entusiasmado e ter pensado se ele pararia se eu dissesse a safeword. Não entendo a safeword como uma mais-valia mas como uma ferramenta para evitar dissabores apenas e só a uso em extremis - alias, só a usei 2 vezes, nesta situação que vou citar, e num extremo de dor que não aguentei.
Neste caso, tratava-se de slapping violento e demorado, e os olhos do Dominador em questão faíscavam como possesso e receei que se descontrolasse; pronunciei a safeword e ele parou de imediato. E só o fiz por não o conhecer assim tão bem debaixo de tensão e pressão emocional/sensorial. "Conhecer" não são logs de MSN nem chats de IRC, nem telefonemas demorados e ordens virtuais - isso é reconhecer os sinais que procuramos para uma identificação primeira.
"Conhecer" demora muito e é um processo complicado que pode durar anos, embora eu entenda que "em sessão" tudo se acelera e se torna mais rápido, porque se passa a um nivel emocional que implica maior amadurecimento de ambas as partes. Pode nem parecer, mas os processos cognitivos e de mecanismo a nível de intelecto e de racionalidade, agudizam-se, na tentativa de despertarem os sensitivos e perceptivos.
Parei a sessão e voltaria a fazê-lo em igualdade de circunstâncias, porque acredito em prevenir e não em remediar! Há danos subjacentes que são feitos às pessoas que podem marcar para sempre o seu comportamento e/ou até a sua sanidade mental e física, e na verdade, podem ser fáceis de evitar.

Já defendi neste blog que muitos dos "acidentes" durante as práticas BDSM são culpa e responsabilidade dos submissos, mais até que dos Dominadores (nem sempre, mas...).
Porque se o submisso tem uma ferramenta que lhe permite avaliar o caminho que a prática está a levar, deve usá-la sim e não pretender ser um herói que não verga perante nada. Um submisso não é um super-herói - é uma pessoa que sente dor e prazer, tal como o Dominador - mas que consegue treinar os seus limites de aguentar até outros parâmetros e níveis. O que não significa que tenha de aguentar além do razoável e possível! Não há super-heróis e mesmo os heróis que há, estão mortos...
Gente a lidar com gente tem de ser responsável, de parte a parte, e ter noção dos limites e dos níveis de capacidade de cada um; porque um Dominador tb tem de saber parar antes de se tornar não-razoável.
E estou apenas a pensar em casos de práticas físicas, porque quanto às psicológicas, este texto iria demorar a acabar...

Prevenir e não remediar!
Gente a lidar com gente!
Não há super-heróis!
BDSM não é uma bravata, nem deve ser!
Realizem-se, mas não a qualquer preço....

1 comentário:

Anónimo disse...

Isso e uma coisa que acontece, mas o facto de ter acontecido numa relação BDSM e completamente irrelevante, ja que poderia e provavelmente ate acontece com mais frequencia nas chamadas relações "baunilha"