quarta-feira, fevereiro 08, 2006

AMIGOS - uma palavra!

Há algum tempo atrás deixei de praticar BDSM, porque não conseguia entregar-me no acto, dar a alma e não a embalagem, o corpo, na consequência da cupidez de um pretenso Dominador. Não gosto de representar e afastei-me, não sem deixar de tentar uma e outra vez, mas sempre com o mesmo resultado. Alegava que não insistia porque "...tinha medo de voltar a falhar!"; em resposta um Dominador sério, respeitável e amigo disse-me "Falhar é nem tentar!".
Na mesma fase, em procura de uma Verdade maior que me dissesse onde erro na Vida, alguém me lembrou o que eu nunca devia ter esquecido em relação à prática do BDSM - na prática de BDSM as pessoas só mostram aquilo que são na vida real. Se são boa gente, continuam a ser. Se não são, não conseguem fingir o contrário por muito tempo!

Foram duas frases que me ficaram na cabeça até hoje, meses volvidos...
E nesta fase em que a cupidez agora é de gente que dorme na minha cama e come na minha mesa, lembro-me do que me tinha esquecido: gente boa é gente boa em qualquer situação e gente má acaba por mostrar o que é, mais cedo ou mais tarde...
Somos nós que fazemos a gente mais ou menos especial, Dominadores e submissos mais ou menos especiais; sem o lado de cá da barreira uns e outros são só gente com defeitos e virtudes.
Até aos meus 35 anos, o meu instinto e bom-senso na escolha das pessoas era de confiança e eu sabia que raramente me enganava. Depois disso, há um hiato no discernimento que me tolda a percepção do perigo nas desilusões. Se por um lado a vida traz maturidade nas escolhas, por outro devia trazer um kit de sobrevivencia para o desencanto. Com a idade ficamos mais sabios e menos tolerantes. A vida desgasta e cansa... Sinto-me cansada e intolerante! Sou como sou! Vale para a vida diária e para o BDSM e a sua prática...

Quando alguém se dá a um Amigo, fá-lo especial porque há uma entrega de alma também, como se se tratasse de BDSM puro: a Amizade passa a Dominar e a pessoa é submetida pelos testes da relação. Passei na maioria, falhei em alguns, mas sei que tentei sempre dar o melhor de mim! Por vezes, o que não resulta é o spanking da realidade, porque abre chagas e faz vincos que não vão sair, porque foram injustos - a falsidade dos amigos!


Todos os dias alguém que fiz especial por lhe chamar Amigo prova que é apenas um amigo-em-trânsito, daqueles que sugam o melhor de nós, recarregam baterias e vão fingir que o que têm para dar é mesmo deles... Que eu não deixe de acreditar que apesar de tudo vale a pena tentar, descobrir entre muitos um, que acredite em valores de integridade, que acredite na alma e não no celofane que a embrulha... Como no BDSM, só há uma maneira de estar vivo - a sentir!!!



"Winners don´t quit and quitters don´t win! / Os vencedores não desistem e os desistentes não ganham!"

3 comentários:

Anónimo disse...

Ainda não cheguei aos 35 e sinto que o hiato desse não discernimento é a vida... Dizem-me que endureça, que ganhe defesas. Já te disse o mesmo. Curioso como, quando queremos ajudar um Amigo, reproduzimos fórmulas que nós próprios sabemos não serem concretizáveis. Dizes-te mais dura e sei que mentes. Queres acreditar na amizade e sei que acreditas. O erro será repetido.
Mas devo confessar que se há erros que acho que se podem repetir sem qualquer problema de consciência o erro de querer acreditar nas pessoas é um deles.

Não está mau... sempre te aguentaste até aos 35. Acho que continua a valer a pena dares o teu melhor.

A mim, o meu melhor, já não chega. Porque se não resulta, devo estar decididamente a fazer algo mal.

Miss Libido disse...

Há uma máxima em BDSM que reza "Se um não quer, dois não fazem!". A Amizade é um two-way street, são precisos dois para dançar o tango... Não tens de estar a fazer nada mal, mas talvez, como eu, acredites em quem não quer dançar tango!
"Meu Deus, que foi que perdi na vida, ao viver???" disse um moribundo antes do último fôlego!
Tenho uma pedra na mão, nunca no coração...

Anónimo disse...

Eu gosto da adversidade na vida. Fortalece, ensina-nos e construimos o carácter com ela (e não só). Temos de a aceitar e aprender a viver com ela, e nunca nos esquecer que outros dias virão.
Tenho uma maneira de ser que me leva a tentar encontrar algo de bom em tudo o que acontece, e posso dizer que até hoje não consegui encontrar uma situação onde não conseguisse retirar algo de bom.
E acredito no ser humano. Confio nas pessoas até ao dia em que me desiludem. Aí sigo o meu caminho, sorrindo, e dando tudo o que tenho ao próximo que encontrar. Tenho 42 anos e 3 amigos. Não conhecidos, esses são muitos. Amigos. Aquelas pessoas que sabemos que estão ali, não importa o tempo que passou desde que falamos ou nos vimos pela ultima vez. Aqueles que estão no nosso coração. E como posso não querer conhecer mais pessoas sem pensar que posso estar a deitar fora o quarto amigo?
Acredita no ser humano, dá o que tiveres a dar. Se caires, levanta-te. Se chorares, sorri porque amanhã vais estar cá. E acredita sempre que amanhã o Sol vai nascer para um novo dia.